São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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Trabalhador da VW aprova acordo no ABC

Em assembléia tensa e dividida, funcionários aceitam plano de demissão voluntária, que prevê corte de 3.600 empregos

Para presidente da Volks, no Brasil, decisão assegura "futuro da fábrica'; grupo ameaçou demitir 6.000 e fechar unidade do ABC

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma assembléia tumultuada e dividida, os trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo aprovaram ontem acordo negociado com a montadora para demitir 3.600 trabalhadores da fábrica por meio de um programa de demissão voluntária.
Mais antiga fábrica do grupo VW no Brasil, a unidade do ABC emprega 12.400 funcionários e era alvo de um impasse que começou há quatro meses, quando a montadora anunciou seu plano de reestruturação para cortar custos e atrair investimentos da matriz alemã.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT) informou que 70% dos 12 mil funcionários presentes à assembléia aprovaram o acordo. Mas, como os trabalhadores têm de erguer os braços para votar, a impressão era de que a rejeição foi maior.
Para integrantes da oposição, filiados ao Conlutas (central sindical ligada ao PSTU), 55% aprovaram a proposta.
Com o resultado de ontem, o desligamento dos funcionários será feito em 11 etapas a partir deste mês até dezembro de 2008. A adesão ao PDV garante o pagamento de 0,3 a 1,4 salário extra por ano trabalhado, conforme a data de adesão ao plano, além das verbas rescisórias.
O benefício será maior para os primeiros inscritos. Na primeira fase, a VW disse esperar a inscrição de 1.300 trabalhadores e impôs um limite de 1.500 adesões -só eles receberão 1,4 salário por ano trabalhado.
Nas demais etapas, o incentivo é menor. Essa era uma das principais críticas dos empregados ao pacote durante e após a assembléia. "Por que não pagam 1,4 salário a mais para todos?", questionava Marcelo Godoy, 35, preparador de máquinas, há 13 anos na fábrica.
Na avaliação dos sindicalistas, a procura pelo pacote deve ser maior do que o limite estabelecido pela fábrica. "Não sei dizer quantos vão aderir. Mas, em 2003, a meta era de 500 adesões e 1.900 se inscreveram", afirmou José Lopez Feijóo, presidente do sindicato.
Em contrapartida à aprovação do acordo (necessário para reduzir em 15% os custos com mão-de-obra), a montadora se compromete a produzir dois novos veículos no ABC e põe fim à ameaça de fechamento da fábrica feita em agosto.
A empresa chegou a distribuir 1.800 cartas de demissão avisando que os operários seriam desligados a partir de 21 de novembro, quando termina acordo de estabilidade na fábrica. Com a proposta aprovada, as cartas estão canceladas.
"Ao aprovar o acordo, os empregados da Anchieta sinalizaram, com clareza, que querem assegurar o futuro da fábrica", disse o presidente da VW do Brasil, Hans-Christian Maergner, em comunicado. "Com isso, a Volkswagen do Brasil entra em nova fase, em que a retomada de sua rentabilidade por meio de operações mais competitivas se torna realidade."
Cerca de R$ 1 bilhão será investido em dois novos veículos (um carro popular e uma picape), segundo o sindicato. Sobre a pressão do governo Lula na crise da Volks, Feijóo afirmou que "foi correta".

Clima tenso
Sob críticas e vaias de um grupo de trabalhadores, o presidente do sindicato dizia que "esse foi o melhor acordo possível de se conseguir na mesa de negociação". Enquanto isso, cartazes eram mostrados com os dizeres: "Feijóo mentiu quando disse que estava com raiva da VW e que não aceitaria demissão em seu currículo".
Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, disse que críticas eram isoladas: de trabalhadores afastados desde 2003 no Centro de Formação e Estudos, criado para absorver "excedentes". Parte deles está de licença e parte estuda.
Para esse grupo de 500 funcionários, a VW oferece incentivos menores -0,4 a 0,6 salário por ano de serviço, conforme a data de adesão. "O sindicato já prepara uma ação coletiva para pedir a equiparação do benefício com os demais trabalhadores", afirmou Feijóo.
No final da assembléia, o sindicalista deixou o pátio da Volks escoltado por um grupo. Ao ser questionado se eram seguranças, ele disse que eram "militantes e trabalhadores".
"Foi uma vitória da fábrica e uma derrota para os trabalhadores", disse Rogério Romancini, ligado à oposição.


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