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França acrescenta felicidade à conta do PIB
Sarkozy insta outros países a também incluírem bem-estar em seus índices
Proposta de comissão presidida pelo americano Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, deve diminuir distância entre França e EUA
BEN HALL
DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS
Felicidade, férias longas e
bem-estar podem não constar
dos indicadores de desempenho econômico em uso mais
comum, mas Nicolas Sarkozy
acredita que esses fatores devam ser considerados pelo
mundo, em uma reformulação
dos sistemas de contabilidade.
O presidente francês instou
ontem outros países a adotarem novos indicadores de desempenho econômico propostos por uma comissão de economistas presidida por Joseph
Stiglitz, americano prêmio Nobel de Economia.
Segundo Sarkozy, o Insee
-instituto nacional de estatísticas da França- vai incorporar os novos indicadores à sua
contabilidade do desempenho
econômico do país.
Melhora automática
Uma consequência das reformulações propostas pela comissão no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) é que o desempenho da França melhoraria automaticamente.
Isso porque o novo cálculo
levaria em conta pontos como a
alta qualidade do serviço de
saúde, o dispendioso sistema
de previdência e as longas férias do país.
Ao mesmo tempo, as alterações propostas pela comissão
resultariam em uma redução
nos números do PIB dos Estados Unidos.
A comissão sugeriu uma série de modificações na maneira
pela qual o PIB é calculado.
Propôs considerar o bem-estar
dos cidadãos e a sustentabilidade da economia e dos recursos
naturais de um país.
"No mundo inteiro, os cidadãos consideram que estamos
mentindo para eles, que os números estão errados, que eles
são manipulados", disse o presidente francês. "E existem
motivos para que pensem dessa
forma", acrescentou.
"Para além do culto aos números, de todas essas estruturas estatísticas e contábeis,
existe também o culto a um
mercado que está sempre certo", ele disse.
O objetivo dominante de Sarkozy, ao menos antes da crise,
era propiciar uma elevação de
1% na tendência de crescimento da França.
Henri Guaino, o redator dos
discursos presidenciais de Sarkozy e inspirador da formação
da comissão, comentou, brincando, que "acabamos de atingir metade desse objetivo".
Stiglitz e Jean-Paul Fitoussi,
coautor do estudo, afirmam
que um método mais abrangente de avaliação de desempenho reduziria a diferença entre
a renda per capita norte-americana e a francesa a pelo menos a
metade. A renda per capita dos
Estados Unidos é cerca de 14%
mais alta que a francesa.
Ainda que a comissão não tenha calculado os efeitos de suas
propostas para diferentes países, Stiglitz disse que as mudanças resultariam em "diversos grandes ajustes".
Os Estados Unidos dedicam
cerca de 15% de seu PIB à saúde, e a França, 11%.
Mas, se os cálculos do PIB
considerassem resultados e
não apenas insumos financeiros, esse fator, sozinho, reduziria em um terço a diferença entre a renda per capita francesa e
a norte-americana.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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