São Paulo, terça-feira, 15 de setembro de 2009

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França acrescenta felicidade à conta do PIB

Sarkozy insta outros países a também incluírem bem-estar em seus índices

Proposta de comissão presidida pelo americano Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, deve diminuir distância entre França e EUA


BEN HALL
DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS

Felicidade, férias longas e bem-estar podem não constar dos indicadores de desempenho econômico em uso mais comum, mas Nicolas Sarkozy acredita que esses fatores devam ser considerados pelo mundo, em uma reformulação dos sistemas de contabilidade. O presidente francês instou ontem outros países a adotarem novos indicadores de desempenho econômico propostos por uma comissão de economistas presidida por Joseph Stiglitz, americano prêmio Nobel de Economia. Segundo Sarkozy, o Insee -instituto nacional de estatísticas da França- vai incorporar os novos indicadores à sua contabilidade do desempenho econômico do país.
Melhora automática
Uma consequência das reformulações propostas pela comissão no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) é que o desempenho da França melhoraria automaticamente. Isso porque o novo cálculo levaria em conta pontos como a alta qualidade do serviço de saúde, o dispendioso sistema de previdência e as longas férias do país. Ao mesmo tempo, as alterações propostas pela comissão resultariam em uma redução nos números do PIB dos Estados Unidos. A comissão sugeriu uma série de modificações na maneira pela qual o PIB é calculado. Propôs considerar o bem-estar dos cidadãos e a sustentabilidade da economia e dos recursos naturais de um país. "No mundo inteiro, os cidadãos consideram que estamos mentindo para eles, que os números estão errados, que eles são manipulados", disse o presidente francês. "E existem motivos para que pensem dessa forma", acrescentou. "Para além do culto aos números, de todas essas estruturas estatísticas e contábeis, existe também o culto a um mercado que está sempre certo", ele disse. O objetivo dominante de Sarkozy, ao menos antes da crise, era propiciar uma elevação de 1% na tendência de crescimento da França. Henri Guaino, o redator dos discursos presidenciais de Sarkozy e inspirador da formação da comissão, comentou, brincando, que "acabamos de atingir metade desse objetivo". Stiglitz e Jean-Paul Fitoussi, coautor do estudo, afirmam que um método mais abrangente de avaliação de desempenho reduziria a diferença entre a renda per capita norte-americana e a francesa a pelo menos a metade. A renda per capita dos Estados Unidos é cerca de 14% mais alta que a francesa. Ainda que a comissão não tenha calculado os efeitos de suas propostas para diferentes países, Stiglitz disse que as mudanças resultariam em "diversos grandes ajustes". Os Estados Unidos dedicam cerca de 15% de seu PIB à saúde, e a França, 11%. Mas, se os cálculos do PIB considerassem resultados e não apenas insumos financeiros, esse fator, sozinho, reduziria em um terço a diferença entre a renda per capita francesa e a norte-americana.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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