São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000

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PRIVATIZAÇÃO
Consultores e um dos potenciais compradores dizem que dos 21 mil empregados só 10 mil seriam aproveitados
Pessoal do Banespa deve cair à metade

Patrícia Santos - 20.jun.00/Folha Imagem
O prédio do Banespa no centro de São Paulo em meio ao nevoeiro e à poluição; leilão está marcado para o dia 20 de novembro


LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais da metade dos funcionários do Banespa deve incrementar a massa de bancários desempregados do país se a instituição for realmente privatizada.
O vice-presidente de um dos bancos estrangeiros pré-qualificados para o leilão disse à Folha que deverá aproveitar apenas 10 mil dos 21 mil empregados do Banespa, caso compre a instituição. As estimativas de demissão de dois analistas do setor bancário são próximas a esse número.
Os três têm projeções semelhantes sobre os gastos que seriam gerados pelos cortes: algo entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão.
Os funcionários do Banespa não escondem a preocupação com as demissões. O vice-presidente da Afubesp (Associação dos Funcionários do Banespa), Cido Sério, sabe que haverá cortes de pessoal se o banco for mesmo vendido.
"Mas não trabalhamos com essa idéia hoje. Acreditamos que a privatização não acontecerá", disse ele. "Pelo menos não da forma como o governo quer vender o banco hoje."
Pelo histórico das primeiras privatizações de bancos estaduais, não faltam motivos de preocupação para os funcionários do Banespa. Dados levantados pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo dão a dimensão dos cortes.
Em 1995, o Banerj (o ex-banco estadual do Rio) operava com 11.529 funcionários. No ano seguinte, após sofrer intervenção do governo federal, a administração do banco foi terceirizada. O gestor escolhido foi o Bozano, Simonsen, que tratou de preparar a instituição para a privatização.
Ao final de 1997, depois de ter sido comprado pelo Itaú, o Banerj contava com 5.624 funcionários. No primeiro semestre deste ano, o Banerj trabalhou com 2.777 funcionários.
Ou seja, desde a gestão terceirizada, foram cortados 76% dos empregados. As demissões do Bemge, também comprado pelo Itaú, são da mesma magnitude.
Em 1997, o Bemge trabalhava com 7.104 funcionários. Ao final de 1996, quando o banco foi privatizado, o número de empregados havia caído para 6.296. Hoje, são 1.585, ou 78% menos em relação a 1997.
O executivo que falou à Folha afirmou que aproveitaria 10 mil funcionários do Banespa devido aos planos de expansão do banco no Brasil. Mas, em sua opinião, no caso de um dos grandes nacionais vencer o leilão, a sangria seria maior.
O raciocínio é que o Bradesco ou o Itaú, que contam com enormes redes de agências, poderia absorver grande parte dos clientes do Banespa utilizando a estrutura de que já dispõe.
Para o executivo, os grandes bancos nacionais poderiam operar com apenas 4.000 funcionários do Banespa.
Um dos analistas ouvidos pela Folha disse que se o Itaú for o vencedor, os funcionários podem esperar, de cara, um corte de 10 mil vagas. Ele acredita que, posteriormente, o Itaú faria mais demissões.
Sua avaliação é baseada nas aquisições realizadas pelo Itaú. Os números de Banerj e Bemge atestam a postura agressiva do banco em cortar funcionários.
Para outro analista, os bancos nacionais dispensariam cerca de 40% do quadro de pessoal, o que corresponderia a 8.400 funcionários. Ele ressaltou, no entanto, que sua estimativa é bastante conservadora.
Bruno Zaremba, especialista do Pactual em setor bancário, calculou o corte de funcionários pelo lado dos gastos operacionais. Segundo ele, as despesas administrativas e com pessoal do Banespa neste ano somarão R$ 2,041 bilhões.
Ele avalia que até 2002 o novo controlador conseguirá reduzir esses gastos em cerca de 10%, o que daria, naquele ano, despesas em torno de R$ 1,8 bilhão.


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