São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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BARRIL DE PÓLVORA

Além do calendário eleitoral, meta de inflação também pesou

Para analistas, eleição influenciou

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Paulo Gomes, da Consultoria Global Invest, acredita que pesou na decisão da Petrobras a preocupação do governo em não estourar a meta de inflação deste ano, que é de 5,5%, com variação de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos.
"Um peso foram as eleições, mas eles também estão preocupados com a meta de inflação, já que as projeções estão muito próximas do teto, que é de 8%", disse Gomes. O Banco Central projeta inflação de 7,2% neste ano.
Para o economista, a maior prova de que a inflação contribuiu para a definição do índice é o fato de o aumento valer a partir de hoje, bem no meio do mês. "Foi uma data escolhida a dedo. Assim, o efeito direto na inflação se divide em dois meses. Com isso, evita-se que a inflação dê um salto e depois volte", concluiu.
Gomes avalia que o aumento da gasolina trará um impacto total no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), usado como referência para a meta de inflação, de 0,1 a 0,2 ponto percentual. O economista Alexandre S'Antanna, da ARX Capital, estima em 0,1 ponto percentual. Já a consultoria Tendências avalia que o peso será de 0,06 ponto, diluído em outubro e novembro.
Gomes, S'Antanna e Fabiana Futoni, da Tendências, acreditam que a estatal fará um novo reajuste até o final do ano. Assim como Edmar de Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e Luís Suzigan, economista da Consultoria LCA. "Esse reajuste só ficará nesse valor se o preço do barril recuar para US$ 40, o que parece improvável a curto prazo", disse Suzigan.
O mais enfático nas críticas à Petrobras é Adriano Pires, superintendente de Abastecimento da ANP (Agência Nacional do Petróleo) na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e consultor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). "Esse aumento é político, não é técnico. Eles quiseram dizer: "Olha aí, o PT é diferente. Não tem medo de aumentar gasolina em véspera de eleição." O aumento só é explicado dessa maneira. Ou então é incompetência, mesmo."
De acordo com ele, a defasagem em relação ao mercado internacional estava em 21% na gasolina e 31% no diesel. "Ficou 18% na gasolina e 26% no diesel. Não alterou nada."
"A Petrobras sabe tão bem quanto eu que o preço internacional não tende a ceder, então, depois de 31 de outubro, vai ter outro aumento." Segundo ele, a Petrobras já acumula prejuízo de R$ 1,3 bilhão neste ano por segurar os reajustes.
Já o presidente da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes), Luiz Gil Siuffo, afirmou que o percentual não tem relação com política. "Falar isso é uma injustiça muito grande. O governo aumentou o superávit primário antes das eleições. Por qual motivo não aumentaria a gasolina?"
Siuffo estima que a alta da gasolina projetada pela Petrobras não deve chegar integralmente às bombas dos postos de combustíveis. É que a competição acirrada entre revendedores impede aumentos de preços em muitos lugares do país, disse ele.
(GABRIELA WOLTHERS E PEDRO SOARES)


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