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OPINIÃO ECONÔMICA
O macro e o micro na economia brasileira
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Dois relatórios, o primeiro de autoria do Fórum Econômico Mundial e o outro da
consultoria privada AT Kearney,
trouxeram um pouco de realismo
ao debate sobre o futuro da economia brasileira. A euforia nos
últimos meses está criando dificuldade para a discussão sobre
questões de fundo que deveremos
enfrentar, nos anos à frente.
"Em time que está ganhando
não se mexe", dizem os otimistas
antes de desqualificar qualquer
crítica, mesmo que construtiva,
mais profunda à política econômica do governo do PT. "Mais do
mesmo", dizem outros analistas,
entusiasmados com os resultados
recentes sobre a melhoria de nossa solvência externa e o crescimento econômico.
Já andei muito pela estrada da
vida, o suficiente para sobreviver
em ambientes de otimismo sobre
nossa economia. Já vi e vivi outros momentos como este! Durante os últimos anos do chamado milagre econômico do início
dos anos 70 no século passado,
embora ainda um iniciante na
atividade de analista sobre as
coisas da economia, já participava das discussões sobre a questão
da estabilidade de longo prazo de
um processo como esse. Pude seguir ao vivo as conseqüências do
erro que foi não mexer em time
que estava ganhando.
Em 1996/1997, não mais como
espectador, mas como ator, passei pelo mesmo processo de apontar defeitos graves no jogo de um
time que todos consideravam ganhador e, portanto, não passível
de mudanças. Eu e outros companheiros tentamos, durante meses, mostrar os problemas associados a uma taxa de câmbio sobrevalorizada em uma economia
como a brasileira. Não tivemos
êxito em nossa empreitada e somente quando batemos no muro
é que esse problema foi enfrentado.
Vivemos hoje uma situação semelhante, mas não igual. Aliás,
sabemos que a história não se repete com as mesmas tintas. Os
fundamentos de nossa economia
são mais sólidos em relação aos
que prevaleciam em 1972 e 1996.
Outra diferença marcante é a
personalidade de nosso ministro
da Fazenda. Palocci é mais humilde e realista do que o ministro
Delfim Netto jovem e não passa
perto do fundamentalismo, quase religioso, de Gustavo Franco.
Como bom ex-marxista, ele sabe
a importância da história e de
seus ensinamentos. Poderá cometer erros novos, mas não acredito que vá incidir em armadilhas do passado.
Vivemos um desses momentos
que não podem ser perdidos por
excesso de euforia alimentada
pelos áulicos de plantão. A recuperação da economia, neste segundo ano do governo Lula, é
fruto de méritos da política do
governo, das empresas brasileiras
que souberam explorar o momento favorável do comércio internacional e, principalmente, da
expansão econômica da China.
Nos últimos dois anos, passamos
de uma economia que exportava
o equivalente a 8% do PIB para
chegarmos, neste fim de 2004, a
cerca de 20%. Um pulo extraordinário e que fez a economia, como um todo, crescer quase 5%.
Isso apesar de juros reais abissais
e de uma carga fiscal européia.
E aqui temos um primeiro ensinamento importante que precisa
ser entendido. O pulo das exportações foi possível porque no setor
exportador a carga fiscal não é
superior a 20% do valor agregado da produção e os juros reais,
em dólares, não chegam, na média, a 5% ao ano. Se considerarmos o aumento de preços em dólares dos maiores itens de exportação, nos últimos 12 meses, esse
juro fica negativo. Esse quadro
favorável não se repete na atividade econômica voltada para o
mercado interno. Temos aqui juros reais que chegam a 40% ao
ano, e os impostos e taxas representam quase 40% do valor agregado na produção e no consumo.
Estamos correndo contra o relógio, pois os efeitos positivos do
crescimento chinês vão se transformar em fatores de risco para
nossa economia, em questão de
poucos anos. É preciso mexer no
time que está ganhando hoje,
pois o campeonato do crescimento econômico sustentado é muito
longo, e algumas falhas no plano
de jogo podem comprometer o futuro.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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