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MODELO
Estatal alega sigilo e omite critério
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em 2002 foi dada liberdade à
Petrobras para reajustar livremente o preço da gasolina e do
óleo diesel em suas refinarias. Naquele ano, deixou de vigorar uma
fórmula, de conhecimento público, que determinava, em razão da
cotação do petróleo no mercado
externo e da variação do dólar, o
percentual de reajuste desses derivados a cada três meses.
A liberdade concedida à Petrobras veio
acompanhada
da liberação da
importação
desses combustíveis e justificada como
forma de diminuir o poder de
mercado da
empresa.
A estatal faria
reajustes de
acordo com as
variações do
preço do petróleo e seus
derivados no
mercado internacional para
permitir que
outras empresas privadas
competissem
com ela no
Brasil.
Com os preços internos
semelhantes
aos do mercado externo, outras empresas poderiam vender combustíveis produzidos em refinarias próprias,
ou importá-los e vendê-los no
mercado, em vez de comprá-los
da Petrobras. Haveria então concorrência, que seria benéfica ao
consumidor.
O Brasil passaria então a seguir
o modelo adotado nos EUA e em
países da Europa: preços livres e
concorrência em toda a cadeia, do
refino ao posto de gasolina.
Atuando em um mercado livre
e, supostamente, com concorrentes, a Petrobras passou a se sentir
desobrigada de informar os critérios que usa para reajustar os preços. Essas informações passaram
a ser "estratégicas".
Dois anos e nove meses depois
da liberação do mercado, a Petrobras continua praticamente monopolista. Com a diferença de
que, agora, apenas seus diretores
e o governo, que os nomeia, sabem os motivos dos reajustes nos
preços dos combustíveis.
A empresa continua informando que segue os preços do mercado internacional. No último reajuste, em junho, o preço do petróleo tipo Brent (que a estatal alega
servir melhor
como parâmetro) estava em
US$ 34,97. Anteontem, véspera do anúncio do novo aumento, fechou
a US$ 50,05.
Ou seja, uma
diferença de
43%, muito superior ao novo
reajuste.
Questionados sobre a demora para reajustar os combustíveis, os diretores da Petrobras geralmente usam
dois argumentos: 1) não podem repassar
volatilidades
do mercado internacional para os preços internos ou 2) esse aumento prejudicaria a empresa, na medida em que causaria danos à economia do país, elevando
o risco Brasil e o custo de captação
de recursos da própria Petrobras.
Nos EUA, diferentemente, o
preço do galão de gasolina (3,8 litros) já acumulava alta de 34,8%
neste ano. Segundo a agência do
governo responsável pelos dados
do setor (EIA), o petróleo responde por 44% do preço da gasolina.
Mas fatores como a tributação
(27%) e os gastos com distribuição e marketing (14%) também
influenciam a formação do preço.
Com a Redação
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