São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economia reage, mas ainda de forma lenta

Produção industrial foi positiva em julho e agosto; no entanto, indicadores mostram que velocidade de expansão é tímida

Retomada da indústria está concentrada em poucos setores; uso de crédito para quitação de dívidas também deve limitar expansão

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira reagiu no terceiro trimestre deste ano, puxada pelo aumento da produção industrial em julho e agosto e pela demanda interna.
Essa reação, porém, é considerada tímida e insuficiente para alterar as previsões de desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.
O Brasil deve crescer em 2006 menos do que o previsto em janeiro. A estimativa, que era de uma expansão ao redor de 4,5%, agora não passa de 3%.
A produção industrial, que indicava alta entre 5% e 5,5% neste ano, deve crescer entre 2,2% e 2,4%, segundo as novas avaliações de economistas e representantes da indústria.
Os indicadores que medem fluxo de veículos pesados nas estradas, consumo de energia elétrica e vendas no comércio de São Paulo mostram a reação da economia em julho e agosto.
Também cresceu nesse período a produção industrial, depois de queda de 1,1% em junho sobre maio e de 0,6% em junho ante o mesmo mês de 2005.
"A economia retomou a partir de julho. Mas é preciso lembrar que a base de comparação [com igual período do ano passado] é fraca. Esse crescimento deve ser mantido neste trimestre, mas já em ritmo menor, pois a comparação será com um período [último trimestre de 2005] em que a economia estava mais aquecida", diz Bráulio Borges, economista da LCA.
A produção industrial cresceu 0,7% em julho sobre junho e 0,7% em agosto ante julho. Na comparação com o ano passado, o crescimento foi de 3,5% e 3,2%, respectivamente.
"Não é nada de outro mundo, mas houve recuperação a partir de julho", diz André Rebelo, gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Sondagem recente feita pela Fiesp com alguns setores industriais, segundo informa Rebelo, mostra que as fábricas mantiveram em setembro ritmo similar aos de julho e agosto. "Mas não existe nada de euforia. A retomada da indústria está concentrada em apenas alguns setores."
As empresas que reagiram, diz Rebelo, são as que produzem máquinas e equipamentos de escritório e informática, máquinas elétricas e de eletricidade (transformadores, fios e caixas de luz), alimentos, bebidas e petróleo e álcool refinados.
"A retomada da indústria restrita a alguns setores quer dizer que não haverá efeito dessa reação em toda a economia. Quando a expansão é uniforme e tem impacto nos salários, o dinheiro vai para o bolso do trabalhador e volta para a economia. Quando é limitada a alguns setores, especialmente não intensivos em mão-de-obra, o dinheiro fica nas empresas e a volta dele para a economia é complexa, pode não ocorrer", afirma Rebelo.
Apesar de a produção industrial ter sido positiva em julho e agosto deste ano, dois indicadores mostram que a economia ainda está em ritmo lento -as vendas de papelão ondulado, usado na produção de embalagens, e a produção de veículos.
Em setembro, as vendas de papelão ondulado caíram 1,95% ante igual mês de 2005 e 1,66% sobre agosto. Desde junho, as vendas de papelão ondulado caem em relação ao mesmo mês de 2005, de acordo com a ABPO, associação dos fabricantes do setor.
Depois de um crescimento de 4,4% em julho, a produção de veículos voltou a cair 0,5% em agosto (na comparação com julho) e 9,6% em setembro (em relação a agosto), segundo cálculo da Tendências, tirando os efeitos sazonais.
"O governo errou na dose das taxas de câmbio e de juros e agora paga o preço. Real valorizado e juros altos travam as vendas internas e externas. A recuperação econômica que deve acontecer neste semestre será anêmica, não será sustentada", afirma Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
As exportações não são mais o carro-chefe do crescimento econômico. Pela primeira vez, desde 1999, o setor externo "vai roubar crescimento do PIB. O PIB brasileiro deve crescer 3,3% em 2006. Se fossem desconsideradas as importações e as exportações, o Brasil poderia crescer 4,5%", diz Borges.
A contribuição do setor externo no PIB será negativa em 2006 porque as exportações estão crescendo menos do que as importações. De janeiro a agosto deste ano, as importações (em volume) de bens e serviços cresceram 15,9% em relação ao mesmo período de 2005 e as exportações, 5,8%, no período.
"Infelizmente as exportações brasileiras estão caindo ladeira abaixo. No caso de veículos, a queda foi de 5%, em unidades, de janeiro a setembro deste ano sobre igual período de 2005. Como as grandes empresas que produzem e contratam mais são exportadoras, quando perdem mercados, o efeito sobre a economia [no caso, ruim] é significativo", afirma Borges.
O que também deve limitar a expansão da economia neste final de ano, para Rebelo, é que o consumidor está utilizando cada vez mais o crédito para pagar dívidas. "O efeito do crédito na economia foi superestimado e a taxa de juro real continua muito elevada." Isso significa que o consumidor não está com tanto fôlego assim para consumir.


Texto Anterior: Rubens Ricupero: Teatro do absurdo
Próximo Texto: Consumo de máquinas caiu no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.