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Economia reage, mas ainda de forma lenta
Produção industrial foi positiva em julho e agosto; no entanto, indicadores mostram que velocidade de expansão é tímida
Retomada da indústria está concentrada em poucos setores; uso de crédito para quitação de dívidas também deve limitar expansão
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira reagiu
no terceiro trimestre deste ano,
puxada pelo aumento da produção industrial em julho e
agosto e pela demanda interna.
Essa reação, porém, é considerada tímida e insuficiente
para alterar as previsões de desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.
O Brasil deve crescer em
2006 menos do que o previsto
em janeiro. A estimativa, que
era de uma expansão ao redor
de 4,5%, agora não passa de 3%.
A produção industrial, que
indicava alta entre 5% e 5,5%
neste ano, deve crescer entre
2,2% e 2,4%, segundo as novas
avaliações de economistas e representantes da indústria.
Os indicadores que medem
fluxo de veículos pesados nas
estradas, consumo de energia
elétrica e vendas no comércio
de São Paulo mostram a reação
da economia em julho e agosto.
Também cresceu nesse período a produção industrial, depois de queda de 1,1% em junho
sobre maio e de 0,6% em junho
ante o mesmo mês de 2005.
"A economia retomou a partir de julho. Mas é preciso lembrar que a base de comparação
[com igual período do ano passado] é fraca. Esse crescimento
deve ser mantido neste trimestre, mas já em ritmo menor,
pois a comparação será com um
período [último trimestre de
2005] em que a economia estava mais aquecida", diz Bráulio
Borges, economista da LCA.
A produção industrial cresceu 0,7% em julho sobre junho
e 0,7% em agosto ante julho. Na
comparação com o ano passado, o crescimento foi de 3,5% e
3,2%, respectivamente.
"Não é nada de outro mundo,
mas houve recuperação a partir
de julho", diz André Rebelo, gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Sondagem recente feita pela
Fiesp com alguns setores industriais, segundo informa Rebelo, mostra que as fábricas
mantiveram em setembro ritmo similar aos de julho e agosto. "Mas não existe nada de euforia. A retomada da indústria
está concentrada em apenas alguns setores."
As empresas que reagiram,
diz Rebelo, são as que produzem máquinas e equipamentos
de escritório e informática, máquinas elétricas e de eletricidade (transformadores, fios e caixas de luz), alimentos, bebidas
e petróleo e álcool refinados.
"A retomada da indústria
restrita a alguns setores quer
dizer que não haverá efeito dessa reação em toda a economia.
Quando a expansão é uniforme
e tem impacto nos salários, o
dinheiro vai para o bolso do trabalhador e volta para a economia. Quando é limitada a alguns setores, especialmente
não intensivos em mão-de-obra, o dinheiro fica nas empresas e a volta dele para a economia é complexa, pode não
ocorrer", afirma Rebelo.
Apesar de a produção industrial ter sido positiva em julho e
agosto deste ano, dois indicadores mostram que a economia
ainda está em ritmo lento -as
vendas de papelão ondulado,
usado na produção de embalagens, e a produção de veículos.
Em setembro, as vendas de
papelão ondulado caíram
1,95% ante igual mês de 2005 e
1,66% sobre agosto. Desde junho, as vendas de papelão ondulado caem em relação ao
mesmo mês de 2005, de acordo
com a ABPO, associação dos fabricantes do setor.
Depois de um crescimento
de 4,4% em julho, a produção
de veículos voltou a cair 0,5%
em agosto (na comparação com
julho) e 9,6% em setembro (em
relação a agosto), segundo cálculo da Tendências, tirando os
efeitos sazonais.
"O governo errou na dose das
taxas de câmbio e de juros e
agora paga o preço. Real valorizado e juros altos travam as
vendas internas e externas. A
recuperação econômica que
deve acontecer neste semestre
será anêmica, não será sustentada", afirma Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
As exportações não são mais
o carro-chefe do crescimento
econômico. Pela primeira vez,
desde 1999, o setor externo "vai
roubar crescimento do PIB. O
PIB brasileiro deve crescer
3,3% em 2006. Se fossem desconsideradas as importações e
as exportações, o Brasil poderia
crescer 4,5%", diz Borges.
A contribuição do setor externo no PIB será negativa em
2006 porque as exportações estão crescendo menos do que as
importações. De janeiro a agosto deste ano, as importações
(em volume) de bens e serviços
cresceram 15,9% em relação ao
mesmo período de 2005 e as
exportações, 5,8%, no período.
"Infelizmente as exportações
brasileiras estão caindo ladeira
abaixo. No caso de veículos, a
queda foi de 5%, em unidades,
de janeiro a setembro deste ano
sobre igual período de 2005.
Como as grandes empresas que
produzem e contratam mais
são exportadoras, quando perdem mercados, o efeito sobre a
economia [no caso, ruim] é significativo", afirma Borges.
O que também deve limitar a
expansão da economia neste final de ano, para Rebelo, é que o
consumidor está utilizando cada vez mais o crédito para pagar
dívidas. "O efeito do crédito na
economia foi superestimado e a
taxa de juro real continua muito elevada." Isso significa que o
consumidor não está com tanto
fôlego assim para consumir.
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