São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Uma história de Natal, juros e juras


O PIB crescerá mais que a inflação, dizia Malan em 2000; não cresceu. Pode crescer mais em 2006, e pelo motivo errado

NA VÉSPERA DO NATAL do ano 2000, Pedro Malan, então ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, vaticinava uma espécie de "nunca antes neste país" à moda tucana. O circunspecto Malan dizia, em entrevista ao colunista Guilherme Barros, nesta Folha, que o crescimento de 2001 e 2002 seria maior que o do ano que se encerrava, que havia sido bom: 4,4%. Mais extraordinário ainda, a taxa de crescimento da economia seria maior que a de inflação.
"Em 2001 e em 2002, veremos, pela primeira vez depois de muitos anos, taxa de crescimento do PIB superior aos índices de inflação anual. A última vez que isso aconteceu foi nos anos 40, em 1947 e 1948. Há meio século que o crescimento nominal do PIB não supera a inflação. Esse será o melhor sinal de aumento da produtividade", afirmava o ministro Malan.
Em 2001, vieram o apagão, a crise argentina e ainda ecoava o estouro da bolha tecnológica nos EUA. Choques externos, certo, mas que pegaram o país de calças curtas, com muita dívida pública, que explodira sob FHC. O PIB cresceu 1,3%. A inflação foi de 7,7%, quase seis vezes maior que a taxa do PIB.
Em 2002, ano de eleição, a economia e as contas públicas estavam em pandarecos. Com a expectativa de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, os disparates econômicos do PT suscitavam pânicos e fricotes nos mercados. Houve então uma associação explosiva entre os efeitos das ruínas econômicas fernandinas e o besteirol econômico petista-lulista. O país quase quebrou. O PIB cresceu 1,9% em 2002. A inflação foi de 12,5%, seis vezes e meia maior que o PIB.
O investimento produtivo, a base de sustentação do aumento de produtividade que Pedro Malan profetizava, não apenas deixou de crescer como passou a afetar negativamente o PIB, só voltando a contribuir para o crescimento em 2004, o segundo ano do governo Lula.
"Nunca mais neste país", desde então, o PIB cresceu mais do que a inflação. A profecia de Malan tornou-se uma espécie de praga. Na noite de 26 de junho de 2003, em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Lula faria o seu vaticínio sobre o crescimento, que sob seu governo é menor que o de FHC, como proporção do crescimento mundial: "Esperem que o mês de julho será o do espetáculo do crescimento". Em 2003, o PIB cresceu 0,5%. A inflação foi de 9,3%.
Em 2006, há uma nova corrida entre PIB e inflação; não se sabe bem qual das duas taxas desacelera mais rápido. O país pode crescer mais que a inflação, por um motivo ruim: economia está resfriada, com IPCA e PIB encolhidos pelo inverno dos juros e da baixa produtividade. A previsão de inflação do mercado está 35% abaixo do que era no início do ano e caindo. Pode ser menor que 3%. O PIB também. Quem vai cair mais? E no ano que vem?
"Aguardem as cenas do próximo capítulo". É semana de Copom.


vinit@uol.com.br

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