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VINICIUS TORRES FREIRE
Uma história de Natal, juros e juras
O PIB crescerá mais que a
inflação, dizia Malan em 2000;
não cresceu. Pode crescer mais
em 2006, e pelo motivo errado
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NA VÉSPERA DO NATAL do ano
2000, Pedro Malan, então
ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, vaticinava uma espécie de "nunca antes neste país" à moda tucana. O circunspecto Malan dizia, em entrevista ao
colunista Guilherme Barros, nesta
Folha, que o crescimento de 2001 e
2002 seria maior que o do ano que
se encerrava, que havia sido bom:
4,4%. Mais extraordinário ainda, a
taxa de crescimento da economia
seria maior que a de inflação.
"Em 2001 e em 2002, veremos,
pela primeira vez depois de muitos
anos, taxa de crescimento do PIB
superior aos índices de inflação
anual. A última vez que isso aconteceu foi nos anos 40, em 1947 e 1948.
Há meio século que o crescimento
nominal do PIB não supera a inflação. Esse será o melhor sinal de aumento da produtividade", afirmava
o ministro Malan.
Em 2001, vieram o apagão, a crise
argentina e ainda ecoava o estouro
da bolha tecnológica nos EUA.
Choques externos, certo, mas que
pegaram o país de calças curtas,
com muita dívida pública, que explodira sob FHC. O PIB cresceu
1,3%. A inflação foi de 7,7%, quase
seis vezes maior que a taxa do PIB.
Em 2002, ano de eleição, a economia e as contas públicas estavam
em pandarecos. Com a expectativa
de vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva, os disparates econômicos do
PT suscitavam pânicos e fricotes
nos mercados. Houve então uma
associação explosiva entre os efeitos das ruínas econômicas fernandinas e o besteirol econômico petista-lulista. O país quase quebrou.
O PIB cresceu 1,9% em 2002. A inflação foi de 12,5%, seis vezes e
meia maior que o PIB.
O investimento produtivo, a base
de sustentação do aumento de produtividade que Pedro Malan profetizava, não apenas deixou de crescer como passou a afetar negativamente o PIB, só voltando a contribuir para o crescimento em 2004, o
segundo ano do governo Lula.
"Nunca mais neste país", desde
então, o PIB cresceu mais do que a
inflação. A profecia de Malan tornou-se uma espécie de praga.
Na noite de 26 de junho de 2003,
em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo, Lula faria o seu vaticínio
sobre o crescimento, que sob seu
governo é menor que o de FHC, como proporção do crescimento
mundial: "Esperem que o mês de
julho será o do espetáculo do crescimento". Em 2003, o PIB cresceu
0,5%. A inflação foi de 9,3%.
Em 2006, há uma nova corrida
entre PIB e inflação; não se sabe
bem qual das duas taxas desacelera
mais rápido. O país pode crescer
mais que a inflação, por um motivo
ruim: economia está resfriada, com
IPCA e PIB encolhidos pelo inverno dos juros e da baixa produtividade. A previsão de inflação do mercado está 35% abaixo do que era no
início do ano e caindo. Pode ser menor que 3%. O PIB também. Quem
vai cair mais? E no ano que vem?
"Aguardem as cenas do próximo
capítulo". É semana de Copom.
vinit@uol.com.br
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