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Polêmica entre BC
e Receita trava
normas cambiais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma polêmica entre a Receita Federal e o Banco Central está emperrando a divulgação da regulamentação das
novas normas cambiais.
Com isso, o mecanismo
que permite aos exportadores deixar até 30% das suas
receitas no exterior não está
valendo na prática. Os empresários querem saber como será feita a declaração
dos recursos antes de optarem pelo benefício.
No início da semana passada, segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda), Receita e BC chegaram a um
acordo em relação ao prazo
que será levado em conta para calcular o percentual que
poderá ficar fora do país.
"Ficou acertado que, a cada 30 dias, o BC encaminhará à Receita o fluxo de câmbio contratado pelas empresas", disse à Folha o ministro. Esse era um dos pontos
que ficaram em aberto após
o anúncio do pacote cambial,
no início de agosto.
A partir desse dado, a Receita poderá fazer o cruzamento com as informações
de exportações e importações para checar se o valor
repassado pelo BC é compatível com a movimentação
comercial, se o dinheiro obtido com as vendas externas
entrou integralmente no
país e se a parcela que ficou
no exterior obedece ao limite de 30% estabelecido.
O controle sobre os recursos deixados no exterior será
feito mensalmente, mas a
fiscalização sobre o uso dos
recursos lá fora será anual.
Ainda não está definido se
a prestação de contas será
feita com a declaração anual
do Imposto de Renda. As
empresas terão que comunicar à Receita quando utilizarem o dinheiro para quitar
compromissos lá fora.
Segundo técnicos da área
econômica, apesar da definição do prazo de apuração,
pelo menos uma questão importante permanece indefinida porque não há consenso
entre a Receita e o BC.
O motivo da disputa entre
os dois órgãos está relacionado aos dados que constam
dos contratos de câmbio e
que serão repassados do BC
para a Receita.
Os contratos de câmbio ficam registrados no sistema
eletrônico do BC e seriam
protegidos por sigilo. Com
isso, o BC considera que não
pode entregar à Receita todas as informações que
constam do documento.
Além do montante de
moeda estrangeira negociado pelas empresas e pessoas
físicas, o BC sabe, por exemplo, a natureza dessas operações e as outras partes envolvidas no negócio. Com isso, o
BC alega que poderá repassar só o volume total de moeda estrangeira movimentado, sem dar mais detalhes.
A Receita, por sua vez, argumenta que, como o benefício de manter 30% dos recursos no exterior é uma opção, não seria uma quebra de
sigilo repassar todas as informações porque, ao aderir,
ele estaria autorizando a verificação dos dados.
Além disso, os técnicos da
Receita dizem que, sem ter
acesso às informações completas, ficará difícil fiscalizar
a legalidade dos 30% que ficarão fora do país. Isso acontece porque, após a mudança
nas regras, caberá à Receita
fiscalizar esses 30%.
(SHEILA D'AMORIM E LEANDRA PERES)
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