|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JORGE GERDAU JOHANNPETER
Menos tributos para o país crescer
O Estado deve ter noção
de que o crescimento da receita deve ser resultado
da expansão econômica
|
O NOVO presidente da República terá uma tarefa difícil pela
frente: reduzir o peso do Estado, que drena cerca de 40% da renda
gerada no país. Em vez de otimizar a
gestão dos recursos, o Estado optou
por multiplicar a receita tributária
para compensar o crescente déficit
público. O resultado disso é que não
sobram recursos para investimentos
públicos, os quais, pelo menos, deveriam ser de 15% do total arrecadado
em impostos.
Essa alternativa, caracterizada pelo uso de um sistema tributário medieval, apresenta claros sinais de esgotamento, porque amarra o crescimento, reduz a geração de empregos
e estimula a sonegação. É preciso reduzir o número de tributos e aumentar a transparência sobre a cobrança,
de forma que a população saiba
quanto paga para o Estado ao comprar produtos e serviços. Nos EUA, o
preço dos produtos é apresentado
sem imposto e, na hora de pagar, o
valor do tributo é somado.
Segundo estudo da PricewaterhouseCoopers, ao pagar uma conta
de luz de R$ 100, um consumidor residencial no Brasil desembolsou, em
média, R$ 43 de imposto em 2005,
valor que poderá chegar a R$ 51 neste
ano. Isso significa que o valor do imposto representa 104% do gasto real
com energia.
Tão grave quanto a estrutura de
tributos é o processo incessante de
emissão de novas normas e instruções. Como o sistema é deficiente, o
Estado cria permanentemente novas instruções e complementos que
tornam inviável o acompanhamento
em razão da enorme burocracia.
As distorções não param por aí. O
Brasil é o único país que cobra imposto sobre o investimento produtivo antes mesmo de ele começar a
operar. Em outros países, esse investimento teria custo tributário zero, e
os 30% destinados aos impostos seriam direcionados para a atividade
industrial. Recentemente ocorreram
desonerações pontuais e restritas em
relação a investimentos, principalmente com a "MP do Bem", voltada
para os exportadores. Além de não
ser suficiente, essa medida resulta na
falta de isonomia entre competidores, aumenta os custos de implementação e acompanhamento das decisões e gera inúmeros questionamentos judiciais.
A cumulatividade, já descartada
pela maioria dos países, é outro ponto crítico. Atualmente, a maioria das
nações adota um sistema de impostos sobre o valor agregado (IVA), que
permite o crédito da totalidade do
valor pago nas etapas anteriores da
cadeia produtiva e cobra o tributo em
função do valor adicionado a cada fase do processo.
O baixo crescimento econômico
reforça a necessidade de desoneração da produção. Ela pode ser alcançada a partir da definição de um viés
de baixa para a carga de impostos,
compromisso que deve ser expresso
em texto constitucional. O Estado
precisa ter noção de que o crescimento da arrecadação não deve ser
resultado do aumento de tributos,
mas da expansão econômica.
Uma das alternativas colocadas
em prática é a redução de impostos
para diminuir a sonegação, o que
traz aumento da base arrecadatória.
No Estado de São Paulo, o ICMS sobre o álcool foi reduzido de 25% para
12% em 2004, o que resultou em aumento de 7% na arrecadação.
É preciso romper o atraso de mais
de duas décadas do sistema e construir, no futuro, um IVA nacional,
cuja arrecadação seja repartida entre os governos federal, estaduais e
municipais. Somente com uma reforma tributária o Brasil poderá aumentar sua eficiência competitiva e
reduzir as desigualdades sociais.
JORGE GERDAU JOHANNPETER , 69, é presidente do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br
Texto Anterior: Polêmica entre BC e Receita trava normas cambiais Próximo Texto: Argentina cresce e reduz pobreza em 34% Índice
|