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Argentina cresce e reduz pobreza em 34%
Com forte expansão no PIB, país diminui proporção de pobres para 31%; em 2003, índice beirava 50% da população
Crescimento econômico
acima de 8% nos últimos
anos pesou mais que os
programas de transferência
de renda, dizem economistas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do terremoto que empobreceu a Argentina e levou
mais da metade da população
para baixo da linha de pobreza,
as taxas "chinesas" de crescimento do país conseguiram fazer a proporção de pobres cair
em 34% desde 2003. No primeiro semestre deste ano, 31%
dos argentinos eram considerados pobres, contra 57,5% em
2002 e 47,8% no ano seguinte.
A explicação para a redução
da pobreza tem sido só uma. Os
analistas apontam as altas taxas de crescimento do país, cuja
economia se expande a um ritmo de mais de 8% desde 2003,
depois de ter encolhido quase
15% entre 1999 e 2002.
O governo, é verdade, tem
programas sociais que transferem renda para os desempregados. Cerca de 1,4 milhão de argentinos recebem algum dinheiro por meio do principal
programa. Mas as transferências têm um efeito residual na
redução da pobreza. Se fosse
excluído o impacto dos benefícios, a proporção de pobres seria de 31,7%, pouco maior do
que os 31,4% registrados no
primeiro semestre deste ano.
"Com essas taxas de crescimento, seria difícil imaginar
que a pobreza não cairia", diz
Ernesto Kritz, consultor da
SEL (sigla em espanhol para
Sociedade de Estudos do Trabalho).
"Brasilianização"
É difícil comparar as taxas de
pobreza -que retratam a proporção de pessoas que ganham
menos que um determinado
valor de renda- do Brasil e da
Argentina. Há diferenças de
metodologia e de custos de vida, por exemplo. Mas, lembra
Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, a trajetória das taxas, ou seja, se elas
caem ou sobem, dá dicas do que
ocorre nos dois países.
Do lado de lá da fronteira,
ocorre o que Neri chamou de
"brasilianização" da Argentina.
País dentre os que têm melhores indicadores de igualdade na
região, a Argentina viu crescerem tanto a pobreza quanto a
desigualdade a partir dos anos
90. Ainda que não na mesma
velocidade em que a situação se
deteriorou por lá, no Brasil caíram pobreza e desigualdade.
A proporção de miseráveis
no Brasil caiu de 35,1% em 1992
para 22,7% em 2005. No mesmo período, o número de indigentes na Argentina subiu de
3,8% em 1992 para 12,2% em
2005. Vale ressaltar que o nível
de indigência chegou a 27% no
país vizinho em 2002.
As proporções não são comparáveis. Os 31% de pobres argentinos têm padrão de vida
mais alto do que os 22,7% de
miseráveis brasileiros, e não é
possível comparar os 12,2% de
indigentes argentinos com os
22,7% de miseráveis brasileiros. Mas o fato indiscutível, ressalta Neri, é que a pobreza caiu
de forma persistente por aqui,
com algumas exceções em anos
de crise. Na Argentina, entre
1992 e 2005, ela subiu persistentemente, explodiu entre
1999 e 2003 e voltou a cair.
Algo similar ocorre com a desigualdade. O índice de Gini
(quanto mais perto de 1, mais
desigual o país) para o Brasil
começou a cair em 1999, indicando redução da desigualdade. Ele foi, em 2005, de 0,568.
Na Argentino, no mesmo período, ele ficou praticamente estável, em 0,501. Daí a brasilianização" mencionada por Neri.
A experiência dos dois países
mostra que crescer é importante para reduzir a pobreza. Mas
também, diz Kritz, só crescer
não adianta. Ele diz que o nível
de desemprego hoje, em torno
de 12%, é similar ao de meados
dos anos 90. "Mas a pobreza é
mais alta." Kritz aponta para o
crescimento do mercado informal, onde está quase metade da
população empregada.
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