São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

AEB vê exportação abaixo de US$ 200 bi no ano

A recente valorização da moeda norte-americana não vai conseguir compensar os reflexos negativos da desaceleração mundial para as exportações brasileiras. O setor já espera que a projeção de exportar US$ 200 bilhões neste ano não seja alcançada por causa da crise econômica internacional.
"O dólar alto ajuda o exportador brasileiro, mas não resolve todos os seus problemas. O mais importante é existir um comprador lá fora com um mercado externo aquecido", disse o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Benedicto Moreira.
Com a possível exportação de um volume menor que as estimativas, o superávit comercial também deve ser mais baixo que o esperado. Segundo Moreira, em vez dos US$ 20 bilhões previstos, o saldo da balança comercial pode ficar entre US$ 12 bilhões e US$ 10 bilhões neste ano. "Esse valor não será suficiente para cobrir o déficit de serviços e rendas e ficaremos com a balança de pagamentos no vermelho."
Para 2009, Moreira não arrisca estimativas. "Qualquer projeção hoje é "chutômetro"."
Mas apesar dos efeitos negativos da crise para o setor, Moreira admite a necessidade de mudanças. "O comércio exterior brasileiro tem fragilidades estruturais independentes da crise, mas que vieram à tona nessa conjuntura", diz.
Para ele, o bom desempenho das exportações brasileiras nos últimos anos não era resultado de uma qualidade da oferta, mas sim de uma demanda externa aquecida. "Temos 80% de nossas exportações dependentes de commodities, ou produtos com baixa tecnologia agregada, sujeitos a oscilações de preços internacionais. Temos que agregar valor aos nossos produtos."
Para fortalecer o setor e evitar abalos maiores em situações de crises internacionais, a AEB vai elaborar uma proposta de reforma no sistema de comércio exterior brasileiro durante o 28º Enaex (Encontro Nacional de Comércio Exterior), marcado para os dias 27 e 28 de novembro, no Rio.
Entre os pedidos está a criação de uma política de financiamento interno para exportação. "Como não temos um sistema interno apto para atender o setor, os exportadores recorrem muito para o crédito externo. Mas em contextos de crise, como o atual, essas linhas externas secam e o setor fica sem recursos para produzir."

análise

Crise pode levar LCA a reduzir projeção do PIB

A consultoria LCA já admite revisar suas projeções para a economia brasileira após reavaliar as conseqüências da crise econômica internacional. Hoje, a LCA prevê crescimento de 5,1% no PIB do Brasil neste ano e de 3,7% no ano que vem.
Até o momento, o cenário básico da LCA projeta uma lenta diluição da crise, uma leve desaceleração dos países emergentes e uma retomada do crescimento das principais economias do mundo no segundo semestre do ano que vem.
As incertezas das seqüelas que a crise deixará na economia e o risco de a turbulência evoluir, calculado em 40%, podem resultar na projeção de um cenário mais negativo pela consultoria.
"A crise já alcançou tal ponto que certamente deixará o sistema financeiro fragilizado por um período mais prolongado do que vínhamos estimando", afirma a LCA, em relatório divulgado ontem.

CORTE:
ARACRUZ SUSPENDE R$ 84 MI PARA PAGAMENTO DE ACIONISTA

A crise continua na Aracruz. Após perder quase R$ 2 bilhões em operações com derivativos de câmbio, a empresa cancelou ontem o pagamento de juros sobre capital próprio no valor de R$ 84 milhões, anunciado em comunicado em 19 de setembro. As informações estão em fato relevante divulgado pela empresa. "Essa decisão mostra que a situação financeira da Aracruz não é mais confortável", avaliou a corretora Ágora, em relatório. A corretora já espera a perda do grau de investimento da Aracruz por todas as agências de rating. A Ágora também questiona se o projeto de expansão da capacidade produtiva da unidade de Guaíba, com investimento de R$ 1,8 bilhão, será mantido.

ESCURINHO

Para a cineasta Laís Bodanzky, se a crise global não perder força, a cultura brasileira deve sentir impactos sim, mas com atraso. "Como os produtores brasileiros são mais dependentes de leis de incentivo no Brasil, o cenário não é imediatamente assustador como acontece nas produções européias e americanas, que dependem diretamente dos investidores", afirma Bodanzky. No Brasil, a retração só deve chegar no próximo ano, proporcionalmente ao encolhimento do lucro das empresas, diz a cineasta. Por enquanto, Bodanzky e o roteirista Luiz Bolognesi irão ampliar seu projeto de cinema itinerante Cine Tela Brasil, que vai incluir sete cidades em sua rota.

VOLTA PARA CASA
A diretoria da Marcopolo se reuniu na semana passada para reavaliar seus planos. Para Carlos Zignani, diretor de RI, uma das opções a ser estudada é a volta ao Brasil de parte da produção transferida ao exterior. "Temos que ver em que patamar o dólar se estabiliza. Se ficar entre R$ 1,90 e R$ 2, talvez alguns produtos possam voltar a ser competitivos para exportar do Brasil", disse.

AUDIÊNCIA
A audiência dos programas de notícias econômicas disparou nos EUA por conta da crise, segundo o "USA Today". Apesar da avalanche de notícias, a atenção dos executivos espectadores está voltada é para as publicidades -querem monitorar se os anunciantes estão fazendo economia.

BAGAGEM
A Abav (associação de agências de viagens) e o grupo Fitta assinam hoje acordo de cooperação para realizar operações de câmbio turismo. Com a parceria, os agentes de viagem do país terão acesso a dólar e euro conforme as regras estabelecidas pelo Banco Central na resolução 3.568, que determina que as operações de compra e de venda de moeda estrangeira sejam feitas por instituições autorizadas. A parceria será apresentada na Feira das Américas, entre os dias 22 e 24, no Rio de Janeiro.

NO PALCO
A entrada da Oi no mercado de telefonia móvel de São Paulo continua agressiva. Depois de oferecer três meses de ligações gratuitas, a empresa promoverá seis shows de graça, de músicos como Titãs e Lulu Santos.

CADEIRA
O empresário Renan Chieppe, filho do fundador da empresa capixaba Viação Águia Branca, Wander Chieppe, acaba de ser eleito para ocupar a presidência da Abrati (Associação Brasileira de Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros).

DESEMBARQUE
Charles Rosen, responsável pela captação de recursos para a campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos, desembarca em São Paulo na próxima semana. Ele vai participar do evento sobre comunicação de marca New Brand Communication, nos dias 20, 21 e 22 de outubro, no Senac, em São Paulo. Rosen é co-fundador da agência Amalgamated, de Nova York.

CLIENTE NOVO
Em meio à crise econômica, o Brasil continua a prospectar novos parceiros comerciais. Cerca de 70 empresários brasileiros representaram 150 empresas nacionais em uma missão empresarial da Apex-Brasil em Angola. Eles voltaram ao país na semana passada com US$ 26 milhões em contratos de negócios fechados.

REALEZA
O rei da Jordânia, Abdul- lah 2º, vem ao Brasil com mais 20 empresários do país para abrir o Fórum Comercial Brasil-Jordânia, no dia 24. Organizado pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o evento visa fortalecer os negócios entre os países.

TRÉGUA
Guido Mantega (Fazenda) conseguiu finalmente embarcar no início da noite de ontem da base aérea de Washington para Brasília. A ameaça de furacões no Caribe deu uma trégua. A reunião do CMN de ontem foi por vídeoconferência.

com JOANA CUNHA, MARINA GAZZONI e CRISTIANE BARBIERI



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