São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Ajuda prevê ganho ao Tesouro se banco lucrar

DO ENVIADO A WASHINGTON

Além de adquirir participação equivalente a US$ 125 bilhões em nove grandes bancos, o Tesouro dos EUA comprará ações até igual valor de várias instituições menores, especialmente os de atuação regional.
As maiores participações, de US$ 25 bilhões cada, serão no Citigroup, no Bank of America, no JPMorgan Chase e no Wells Fargo. No caso dos três primeiros, a fatia a ser adquirida equivale hoje a algo entre 15% a 18% do chamado "shareholder equity", que corresponde ao total de ativos do banco menos as obrigações assumidas.
O Tesouro estabeleceu o prazo de um mês, até as 17h de 14 de novembro, para que os bancos se tornem elegíveis para entrar no programa de compra de ações. No caso dos nove grandes, eles foram praticamente obrigados pelo Tesouro, na segunda-feira, a participar.
As ações adquiridas pelo Tesouro nos bancos são conhecidas como "prefered stocks". Elas não dão direito a voto nas instituições, mas obrigam os bancos a remunerá-las antes de distribuir dividendos aos demais acionistas.
No caso das compras do Tesouro, as ações prevêem uma remuneração anual de 5% nos cinco primeiros anos, passando depois a 9%. Cada ação também terá por trás uma garantia real (em outros ativos) equivalente a 15% de seu valor de face no momento da emissão. No caso das injeções de US$ 25 bilhões, as garantias devem somar US$ 3,7 bilhões.
Com a taxa básica de juro nos EUA hoje em 1,5%, a compra de ações pelo Tesouro será um bom negócio unicamente se os bancos derem lucro. Se derem prejuízos, tanto os papéis quanto as garantias perderão valor, e o Tesouro, dinheiro.
Os bancos que entrarem no programa também ficam proibidos de criar benefícios milionários para a saídas de executivos mais graduados, os chamados "pára-quedas de ouro". Esses mesmos executivos também não poderão deduzir nenhum imposto de verbas compensatórias que excederem os US$ 500 mil cada.
Enquanto o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmava que a compra de participações nos bancos não era sua "solução preferida, mas a necessária", o presidente George W. Bush destacou aspectos de proteção aos contribuintes.
"Os esforços foram no sentido de proteger e beneficiar o povo americano, estabilizar o sistema financeiro e ajudar a economia a se recuperar", disse Bush. "Não o fizemos para intervir no livre mercado, mas para protegê-lo."
Para contornar a falta de crédito e o endividamento recorde das famílias e bancos, o Tesouro também anunciou que garantirá novas emissões de dívidas do sistema financeiro para estimular os bancos a levantar dinheiro no mercado.
No caso dos bancos menores, o Tesouro estuda tanto obrigar alguns a entrar no programa como aceitá-los voluntariamente. Com a notícia, as ações dessas instituições menores subiram, em média, 13%.
Até o final do segundo trimestre, o FDIC (órgão garantidor dos depósitos bancários no país) havia contabilizado 117 "bancos problemáticos" nos EUA -30% mais do que nos primeiros trimestre. Neste ano, as autoridades já encerraram as atividades de 15 bancos, o maior número desde 1993.
Ontem, o mercado assistiu a uma nova corrida bancária, desta vez contra o Sovereign Bancorp, o quarto banco de médio ou grande porte a sofrer retiradas muito acima do normal de seus clientes. Com nova intervenção federal, o banco, que perdeu 9% de seus depósitos nas últimas semanas, teria concordado em ser vendido ao espanhol Santander.
A FDIC anunciou também que pretende garantir até 2009 100% das contas bancárias não-remuneradas usadas por pequenas empresas para pagar salários ou para capital de giro.
No início do mês, a FDIC aumentou de US$ 100 mil para US$ 250 mil o valor total dos depósitos de pessoas físicas garantidos pelo governo. (FCZ)



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