São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Empresa deixa de comprar dólar, e moeda cai

DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um empurrãozinho do Banco Central, que voltou a vender moeda no mercado à vista, o dólar comercial teve ontem mais um dia de queda: recuou 2,42%, vendido a R$ 2,093. Na cotação mínima da sessão, chegou a R$ 2,041. A divisa ainda tem elevação acumulada de 9,92% no mês e de 17,78% no ano.
O volume de moeda vendida foi pequeno, somente US$ 193 milhões segundo cálculos do mercado. No entanto, foram comprados todos os 25,2 mil contratos de "swap" cambial -que oferece proteção contra a variação cambial em determinado período, em troca da qual o banco que o adquire tem que pagar juros ao Banco Central. A procura por "swap" é um sinal de que a racionalidade começa a regressar. "O clima melhorou, em termos de notícias sobre a crise, e isso quebra um pouco a especulação", afirma Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora NGO.
O desaparecimento no mercado das grandes empresas que fizeram operações arriscadas com derivativos cambiais (e foram surpreendidas pela rápida valorização do dólar) também retirou uma pressão significativa das cotações.
Por meio de complexos mecanismos, tais companhias se comprometiam a vender no futuro, para bancos, um montante de moeda americana, mas esperavam que o seu valor ficasse entre R$ 1,60 e R$ 1,70. No momento em que a divisa disparou, elas correram para adquirir os dólares de que necessitariam, temerosas de que as cotações avançassem ainda mais. Diante do enfraquecimento do moeda nesta semana, mesmo empresas cujas operações vencem no curto prazo -são US$ 10 bilhões em um período de um mês- estão se dando ao luxo de esperar mais um pouco.
Quem manteve o "sangue frio" se encontra em posição muito mais confortável. O problema é que acionistas de várias delas exigiram que seus departamentos financeiros liquidassem essas operações para estancar as perdas.
No mercado, fala-se que o volume total de proteção cambial das empresas -a maioria exportadoras- registrado na Cetip passa de US$ 40 bilhões. Para Kelly Trentin, da corretora SLW, a alta ontem de 12,98% das ações PNB da Aracruz tem a ver com o hedge (proteção) cambial, que se tornou mais barato. A empresa divulgou perdas de R$ 1,950 bilhão, mas ainda não liquidou sua posição.
Fausto Gouveia, da corretora Alpes, afirma que, se a Sadia saísse agora, ainda teria perdas consideráveis. Quando comunicou o prejuízo de R$ 760 milhões, o dólar estava em R$ 1,82. "A perda com certeza ia ser muito maior. Em operações desse tipo, você não pode virar torcedor jamais. Quando chega nesse limite, tem de sair. O "business" da Sadia é vender frango, e não operar no mercado. Ela tem de travar mais um risco que afeta as suas vendas."
Fabio da Paz, especialista em derivativos do Ibmec-SP, afirma que é difícil saber o volume de hedge cambial que já foi desmontado e que espera mais transparência das empresas com seus mecanismos de proteção financeira. "O assunto foi comentado, mas achava que a pressão de acionistas reclamando na CVM seria muito maior. A gente tem um gap grande em gestão financeira."


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