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Empresa deixa de comprar dólar, e moeda cai
DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um empurrãozinho do
Banco Central, que voltou a
vender moeda no mercado à
vista, o dólar comercial teve ontem mais um dia de queda: recuou 2,42%, vendido a R$
2,093. Na cotação mínima da
sessão, chegou a R$ 2,041. A divisa ainda tem elevação acumulada de 9,92% no mês e de
17,78% no ano.
O volume de moeda vendida
foi pequeno, somente US$ 193
milhões segundo cálculos do
mercado. No entanto, foram
comprados todos os 25,2 mil
contratos de "swap" cambial
-que oferece proteção contra a
variação cambial em determinado período, em troca da qual
o banco que o adquire tem que
pagar juros ao Banco Central. A
procura por "swap" é um sinal
de que a racionalidade começa
a regressar. "O clima melhorou,
em termos de notícias sobre a
crise, e isso quebra um pouco a
especulação", afirma Sidnei
Nehme, diretor-executivo da
corretora NGO.
O desaparecimento no mercado das grandes empresas que
fizeram operações arriscadas
com derivativos cambiais (e foram surpreendidas pela rápida
valorização do dólar) também
retirou uma pressão significativa das cotações.
Por meio de complexos mecanismos, tais companhias se
comprometiam a vender no futuro, para bancos, um montante de moeda americana, mas esperavam que o seu valor ficasse
entre R$ 1,60 e R$ 1,70. No momento em que a divisa disparou, elas correram para adquirir os dólares de que necessitariam, temerosas de que as cotações avançassem ainda mais.
Diante do enfraquecimento do
moeda nesta semana, mesmo
empresas cujas operações vencem no curto prazo -são US$
10 bilhões em um período de
um mês- estão se dando ao luxo de esperar mais um pouco.
Quem manteve o "sangue
frio" se encontra em posição
muito mais confortável. O problema é que acionistas de várias delas exigiram que seus departamentos financeiros liquidassem essas operações para
estancar as perdas.
No mercado, fala-se que o volume total de proteção cambial
das empresas -a maioria exportadoras- registrado na Cetip passa de US$ 40 bilhões. Para Kelly Trentin, da corretora
SLW, a alta ontem de 12,98%
das ações PNB da Aracruz tem
a ver com o hedge (proteção)
cambial, que se tornou mais barato. A empresa divulgou perdas de R$ 1,950 bilhão, mas ainda não liquidou sua posição.
Fausto Gouveia, da corretora
Alpes, afirma que, se a Sadia
saísse agora, ainda teria perdas
consideráveis. Quando comunicou o prejuízo de R$ 760 milhões, o dólar estava em R$
1,82. "A perda com certeza ia
ser muito maior. Em operações
desse tipo, você não pode virar
torcedor jamais. Quando chega
nesse limite, tem de sair. O "business" da Sadia é vender frango, e não operar no mercado.
Ela tem de travar mais um risco
que afeta as suas vendas."
Fabio da Paz, especialista em
derivativos do Ibmec-SP, afirma que é difícil saber o volume
de hedge cambial que já foi desmontado e que espera mais
transparência das empresas
com seus mecanismos de proteção financeira. "O assunto foi
comentado, mas achava que a
pressão de acionistas reclamando na CVM seria muito
maior. A gente tem um gap
grande em gestão financeira."
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