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Turbulência adia fusões e aquisições de empresas
Incertezas obrigam InBev a postergar emissão; Renner adia compra da Leader
Cervejaria previa captar
US$ 9,8 bi para concluir negócio com a Anheuser-Busch, mas atrasou fusão devido à "volatilidade"
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A restrição ao crédito continua fazendo com que as empresas revejam suas estratégias de
negócios, principalmente no
que diz respeito a fusões e aquisições. Ontem, a InBev anunciou que adiou os planos de
captar US$ 9,8 bilhões, por
meio de emissão de ações. O dinheiro seria usado na aquisição
da cervejaria norte-americana
Anheuser-Busch, avaliada em
cerca de US$ 52 bilhões.
O motivo foi a "volatilidade
sem precedentes" dos mercados. Mesmo assim, a cervejaria
pretende completar a compra.
"Esperamos concluir a fusão
das duas grandes companhias
até o fim do ano, para criar a
maior cervejaria do mundo",
afirmou Carlos Brito, presidente da InBev, em comunicado.
A Lojas Renner também informou o adiamento da assembléia na qual decidirá a compra
da Leader Magazine. O negócio, de R$ 744 milhões, considerando-se ações e dívida, poderá não acontecer.
Sem acordo
Segundo a Renner, os gestores das duas companhias discutiram nos últimos dias os termos e as condições da compra
em função da "significativa deterioração e do agravamento do
cenário econômico e financeiro
mundial". A ata da reunião do
conselho da Renner informa,
no entanto, que "as negociações não chegaram a bom termo" e foi necessário mais tempo para análises, atendendo a
pedidos de acionistas.
Duas semanas atrás, as fabricantes de papel e celulose VCP
e Aracruz também postergaram a fusão que criaria a maior
empresa do setor no mundo,
em função de renegociações
provocadas pelos prejuízos
com operações cambiais.
"Os negócios que dependem
de grandes financiamentos estão em compasso de espera",
diz Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto, maior
escritório de advocacia do país
em número de fusões e aquisições. "Já os que são baseados
em troca de ações também foram suspensos por conta da volatilidade dos mercados."
No caso das cervejarias, a InBev resolveu recorrer a um empréstimo-ponte que vence seis
meses após a aquisição. Além
disso, a empresa diz ter um
consórcio de 19 bancos garantindo os US$ 45 bilhões restantes necessários à compra. Os
maiores investidores institucionais também subscreverão
US$ 1,6 bilhão em ações, quando a oferta for reaberta.
Já um possível cancelamento
da compra da Leader pela Renner foi bem-visto pelo mercado. "A aquisição, que antes já
era cara, com o derretimento
do mercado de ações é percebida como excessiva", diz Renata
Coutinho, analista do Santander. "Se houver desistência ou
renegociação do preço, será positivo para a Renner."
Dinheiro caro
De acordo com Peter Ping
Ho, analista da corretora Planner, na última divulgação dos
termos do negócio, a Renner faria a compra com prestações
que custavam 105% da taxa DI
(taxa usada no mercado financeiro). "Mas certamente a taxa
com que estão captando dinheiro agora está muito maior
do que essa", diz Ping Ho.
Para ele, entretanto, a demora no fechamento da operação
prejudica as expectativas de
aproveitamento de sinergias.
Num possível cenário de retração da economia no próximo
ano, as margens das empresas
poderão ser reduzidas.
"Na verdade, com tamanha
volatilidade, fica todo mundo
com medo de fazer bobagem",
diz Bertoldi. "Mas as empresas
que tiverem com bom caixa encontrarão muitas barganhas,
inclusive na Bolsa."
Essa é uma das expectativas
da consultoria KPMG, que divulgou ontem seu ranking de
fusões e aquisições no Brasil.
Mesmo com a crise, o número
de negócios no terceiro trimestre cresceu 16% em relação aos
três meses anteriores.
"As negociações que estavam
para ser fechadas foram concluídas", afirma Luís Motta, sócio da KPMG responsável pela
pesquisa. "Como o preço das
aquisições é baseado nas expectativas futuras das empresas, o preço dos ativos tende a
cair e continuar animando o
mercado."
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