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ANO DO DRAGÃO
Consultas do Banco Central ao mercado indicam preocupação com perda de credibilidade da política monetária
Ação do BC amplia temor de alta dos juros
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cresce no mercado a expectativa de que haja aumento da taxa de
juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana que vem. Instituições financeiras ouvidas pela Folha esperam elevação de 0,5 ponto a até 2
pontos percentuais na Selic, atualmente em 21%.
O forte repasse da alta do dólar
para os preços respaldaria a decisão do Banco Central de aumentar a Selic, dizem analistas. Além
disso, segundo economistas, a
elevação dos juros agora aumentaria a confiança do mercado na
política monetária.
Diante dessa expectativa, o BC
tem consultado as principais instituições financeiras, por e-mail e
por telefone, nos últimos dias, para saber o que o mercado pensa
da atuação da autoridade monetária. Segundo a Folha apurou, as
perguntas feitas mostram que o
BC teme a perda de credibilidade
da política monetária. Ontem, o
dólar voltou a subir e fechou a
R$ 3,68 por causa de dificuldades
na rolagem de títulos cambiais.
Faz parte da rotina do BC enviar
perguntas aos bancos sobre expectativas em relação às taxas de
juros e ao cenário macroeconômico nas vésperas das reuniões
do Copom. A próxima reunião,
que decidirá o rumo das taxas de
juros, ocorrerá nos dias 19 e 20
deste mês.
Credibilidade
O que tem surpreendido economistas das instituições financeiras
é o tipo de pergunta que foi feito
desta vez. Segundo a Folha apurou, constavam da lista de oito
perguntas, enviada aos departamentos econômicos dos bancos,
questões como: "Você concorda
com a política de neutralizar a
inércia inflacionária num prazo
de dois anos?".
A pergunta se refere à ata da última reunião do Copom, em que a
autoridade monetária mudou sua
projeção de inflação para 2003 de
5% para 6%, percentual próximo
ao teto da meta de 6,5%.
Nessa mesma ata, o Copom dizia que o tempo de repasse dos
choques (a chamada "inércia inflacionária) recentes -como a
disparada do dólar- sobre os
preços deveria ser mais prolongado e que, portanto, o BC trabalhava com prazo de dois anos para
anular esse efeito.
Segundo o economista de um
banco, essa pergunta mostra certa
preocupação da autoridade monetária com a credibilidade do
Copom. "As perguntas são sobre
a qualidade da política monetária", afirmou.
Outra questão que chamou a
atenção dos economistas foi a seguinte: "Você tem algum comentário sobre o artigo "Política Monetária no Brasil", de autoria do
presidente [do BC] Armínio Fraga e do diretor [do BC] Ilan Goldfajn?". O artigo mencionado foi
publicado no jornal "Valor Econômico", no último dia 6, e explicava a atuação do BC para controlar a inflação.
De acordo com outro economista, essa questão mostra o interesse do BC em saber se suas explicações estão convencendo o
mercado.
Telefonemas
Outra atitude incomum do BC
mostra a preocupação da instituição com a forte elevação das projeções dos bancos para a taxa de
inflação. A autoridade monetária
tem telefonado para os departamentos econômicos das instituições financeiras para confirmar
suas expectativas sobre a inflação
-que são colhidas semanalmente na pesquisa Focus feita pelo BC.
Nesses telefonemas, o BC também tem perguntado quais são os
porquês das projeções elevadas e
as pressões que os economistas
estão percebendo sobre os preços.
Para o mercado, o BC tem, de
fato, motivos para se preocupar
com a credibilidade da política
monetária, principalmente com o
regime de metas de inflação. Este
será o segundo ano consecutivo
em que haverá estouro na meta
estabelecida.
A elevação das previsões de inflação para 2003 -inclusive a divulgada pelo BC na última ata do
Copom- já levanta dúvidas sobre as chances de cumprimento
da meta de 4%, com intervalo de
2,5 pontos percentuais para cima
ou para baixo, no próximo ano.
A forte dispersão nas expectativas de inflação das instituições
para 2003, que vão de 3,5% a 15%,
também seria um sinal de que a
eficiência do sistema de metas está sendo colocado em xeque. Afinal, o objetivo do regime é justamente fazer com que convirjam
as projeções do mercado.
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