São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Consultas do Banco Central ao mercado indicam preocupação com perda de credibilidade da política monetária

Ação do BC amplia temor de alta dos juros

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresce no mercado a expectativa de que haja aumento da taxa de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana que vem. Instituições financeiras ouvidas pela Folha esperam elevação de 0,5 ponto a até 2 pontos percentuais na Selic, atualmente em 21%.
O forte repasse da alta do dólar para os preços respaldaria a decisão do Banco Central de aumentar a Selic, dizem analistas. Além disso, segundo economistas, a elevação dos juros agora aumentaria a confiança do mercado na política monetária.
Diante dessa expectativa, o BC tem consultado as principais instituições financeiras, por e-mail e por telefone, nos últimos dias, para saber o que o mercado pensa da atuação da autoridade monetária. Segundo a Folha apurou, as perguntas feitas mostram que o BC teme a perda de credibilidade da política monetária. Ontem, o dólar voltou a subir e fechou a R$ 3,68 por causa de dificuldades na rolagem de títulos cambiais.
Faz parte da rotina do BC enviar perguntas aos bancos sobre expectativas em relação às taxas de juros e ao cenário macroeconômico nas vésperas das reuniões do Copom. A próxima reunião, que decidirá o rumo das taxas de juros, ocorrerá nos dias 19 e 20 deste mês.

Credibilidade
O que tem surpreendido economistas das instituições financeiras é o tipo de pergunta que foi feito desta vez. Segundo a Folha apurou, constavam da lista de oito perguntas, enviada aos departamentos econômicos dos bancos, questões como: "Você concorda com a política de neutralizar a inércia inflacionária num prazo de dois anos?".
A pergunta se refere à ata da última reunião do Copom, em que a autoridade monetária mudou sua projeção de inflação para 2003 de 5% para 6%, percentual próximo ao teto da meta de 6,5%.
Nessa mesma ata, o Copom dizia que o tempo de repasse dos choques (a chamada "inércia inflacionária) recentes -como a disparada do dólar- sobre os preços deveria ser mais prolongado e que, portanto, o BC trabalhava com prazo de dois anos para anular esse efeito.
Segundo o economista de um banco, essa pergunta mostra certa preocupação da autoridade monetária com a credibilidade do Copom. "As perguntas são sobre a qualidade da política monetária", afirmou.
Outra questão que chamou a atenção dos economistas foi a seguinte: "Você tem algum comentário sobre o artigo "Política Monetária no Brasil", de autoria do presidente [do BC] Armínio Fraga e do diretor [do BC] Ilan Goldfajn?". O artigo mencionado foi publicado no jornal "Valor Econômico", no último dia 6, e explicava a atuação do BC para controlar a inflação.
De acordo com outro economista, essa questão mostra o interesse do BC em saber se suas explicações estão convencendo o mercado.

Telefonemas
Outra atitude incomum do BC mostra a preocupação da instituição com a forte elevação das projeções dos bancos para a taxa de inflação. A autoridade monetária tem telefonado para os departamentos econômicos das instituições financeiras para confirmar suas expectativas sobre a inflação -que são colhidas semanalmente na pesquisa Focus feita pelo BC.
Nesses telefonemas, o BC também tem perguntado quais são os porquês das projeções elevadas e as pressões que os economistas estão percebendo sobre os preços.
Para o mercado, o BC tem, de fato, motivos para se preocupar com a credibilidade da política monetária, principalmente com o regime de metas de inflação. Este será o segundo ano consecutivo em que haverá estouro na meta estabelecida.
A elevação das previsões de inflação para 2003 -inclusive a divulgada pelo BC na última ata do Copom- já levanta dúvidas sobre as chances de cumprimento da meta de 4%, com intervalo de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, no próximo ano.
A forte dispersão nas expectativas de inflação das instituições para 2003, que vão de 3,5% a 15%, também seria um sinal de que a eficiência do sistema de metas está sendo colocado em xeque. Afinal, o objetivo do regime é justamente fazer com que convirjam as projeções do mercado.


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