|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo já discutiu corte em benefícios há dois anos
Proposta do Ipea previa fim de reajuste real para aposentados que ganham mínimo
Idéia foi colocada de lado por ser considerada inviável politicamente; em sabatina na Folha neste ano, Lula também descartou projeto
MARTA SALOMON
SUCURSAL DE BRASÍLIA
A polêmica proposta apresentada ontem ao presidente
Lula de reduzir gastos com benefícios previdenciários e assistenciais, que inclui a desvinculação do reajuste desses benefícios do aumento do salário
mínimo, foi formalizada há
dois anos, por meio de texto publicado pelo Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
O principal alvo do ajuste fiscal proposto eram gastos sociais que, coincidentemente,
mais vinham contribuindo para a redução da pobreza no país.
Além do fim dos reajustes
reais (acima da inflação) para
12,8 milhões de aposentados e
pensionistas que recebem benefícios vinculados ao valor do
salário mínimo, o texto continha uma proposta ainda mais
polêmica: a redução do valor
dos benefícios pagos a idosos e
portadores de deficiência pobres a 70% ou 80% do valor do
salário mínimo.
O BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a 2,5 milhões pessoas neste ano, custou
mais aos cofres públicos que o
Bolsa Família, que atende a 11,1
milhões de famílias. Para conter os gastos crescentes com o
benefício, os autores do estudo
defendiam ainda o aumento da
idade mínima para o pagamento a idosos pobres para 70 anos.
Apesar da simpatia manifestada pela equipe do então ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), a proposta foi posta
de lado por ser considerada inviável politicamente. Na época,
o ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) disse que não
poderia haver "tabus" na discussão do ajuste fiscal.
Questionado em sabatina da
Folha entre o primeiro e o segundo turno da disputa ao Planalto, Lula descartou a proposta. "Isso não passa no Congresso. Sempre que permitir, vamos aumentar um pouco mais
o salário mínimo e vai aumentar o salário dos aposentados."
O cardápio do ajuste fiscal
apresentado pelos economistas
João Luiz de Oliveira Mendonça, Fabio Giambiagi, Kaizô Beltrão e Vagner Ardeo incluía a
definição de uma idade mínima
para as aposentadorias no
INSS. Depois de um período de
transição, as mulheres passariam a poder se aposentar depois dos 63 anos; os homens,
após os 65 anos. O professores
também deveriam ser impedidos de se aposentar mais cedo.
Com as medidas, o estudo estimava que os gastos com aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais cairiam de
7,8% do PIB, em 2004, para
6,9% do PIB, em 2030.
Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: Privatização "marvada" Próximo Texto: Frase Índice
|