São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

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Governo já discutiu corte em benefícios há dois anos

Proposta do Ipea previa fim de reajuste real para aposentados que ganham mínimo

Idéia foi colocada de lado por ser considerada inviável politicamente; em sabatina na Folha neste ano, Lula também descartou projeto


MARTA SALOMON
SUCURSAL DE BRASÍLIA

A polêmica proposta apresentada ontem ao presidente Lula de reduzir gastos com benefícios previdenciários e assistenciais, que inclui a desvinculação do reajuste desses benefícios do aumento do salário mínimo, foi formalizada há dois anos, por meio de texto publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O principal alvo do ajuste fiscal proposto eram gastos sociais que, coincidentemente, mais vinham contribuindo para a redução da pobreza no país.
Além do fim dos reajustes reais (acima da inflação) para 12,8 milhões de aposentados e pensionistas que recebem benefícios vinculados ao valor do salário mínimo, o texto continha uma proposta ainda mais polêmica: a redução do valor dos benefícios pagos a idosos e portadores de deficiência pobres a 70% ou 80% do valor do salário mínimo.
O BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a 2,5 milhões pessoas neste ano, custou mais aos cofres públicos que o Bolsa Família, que atende a 11,1 milhões de famílias. Para conter os gastos crescentes com o benefício, os autores do estudo defendiam ainda o aumento da idade mínima para o pagamento a idosos pobres para 70 anos.
Apesar da simpatia manifestada pela equipe do então ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), a proposta foi posta de lado por ser considerada inviável politicamente. Na época, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que não poderia haver "tabus" na discussão do ajuste fiscal.
Questionado em sabatina da Folha entre o primeiro e o segundo turno da disputa ao Planalto, Lula descartou a proposta. "Isso não passa no Congresso. Sempre que permitir, vamos aumentar um pouco mais o salário mínimo e vai aumentar o salário dos aposentados."
O cardápio do ajuste fiscal apresentado pelos economistas João Luiz de Oliveira Mendonça, Fabio Giambiagi, Kaizô Beltrão e Vagner Ardeo incluía a definição de uma idade mínima para as aposentadorias no INSS. Depois de um período de transição, as mulheres passariam a poder se aposentar depois dos 63 anos; os homens, após os 65 anos. O professores também deveriam ser impedidos de se aposentar mais cedo.
Com as medidas, o estudo estimava que os gastos com aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais cairiam de 7,8% do PIB, em 2004, para 6,9% do PIB, em 2030.


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