São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Recessão na zona do euro gera impacto na balança do país

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O início da recessão na zona do euro causará fortes impactos na balança comercial brasileira neste e no próximo ano, como a redução nas exportações de commodities agrícolas, e pode causar desemprego no campo e na indústria alimentícia brasileira, segundo avaliação de analistas do setor.
Além da redução nas compras de produtos brasileiros, outro revés temido pelo mercado é a adoção de medidas protecionistas, para blindar o mercado europeu e beneficiar as empresas do bloco. Nesse caso, o prejuízo seria maior.
"A Europa é um grande comprador de commodities. Reduzindo a atividade, vai pressionar para baixo os preços nas Bolsas. Além disso, são produtos de maior valor agregado, que o Brasil teria dificuldade de colocar em outros mercados", disse José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
A situação brasileira ainda é melhor que a de muitos outros países da América do Sul, como Venezuela, Equador, Peru, Colômbia e Bolívia, pela maior complexidade da indústria, segundo Castro. "O Brasil vai sofrer menos. Os problemas estão só começando e vai pegar mais forte nos outros países da América do Sul", disse. Dados preliminares divulgados ontem pela Eurostat (agência de estatísticas da UE) apontam uma retração de 0,2% no PIB da zona do euro no terceiro trimestre, confirmando que o bloco está em recessão. O impacto dessa redução não deve ser tão grande, na avaliação de Mateus Zanela, assessor de comércio exterior da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). "A Europa já não vinha crescendo muito.
Não acredito em um impacto grande na redução de demanda [por alimentos]. Pode até reduzir a renda, mas ninguém corta a compra de alimentos", disse.
Segundo Zanela o problema será o protecionismo. "O que mais preocupa é que quando o bloco entra em recessão é possível que grupos internos comecem a gritar mais alto pedindo algum tipo de barreira para os importados". De janeiro a outubro, o Brasil vendeu US$ 39,84 bilhões à União Européia, o que corresponde a 23,5% do total de vendas brasileiras ao exterior.

Oportunidade
Na avaliação do presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), Roberto Segatto, o Brasil poderia ganhar mercado hoje ocupado por empresas européias, mas a falta de investimentos e a alta carga tributária dificultam a ousadia. "O bonde está correndo e estamos perdendo mais uma vez. Quem vai ganhar provavelmente é a China, mais uma vez", afirmou.
Segundo o presidente da Abracex, o quadro também preocupa porque a desaceleração agora atinge países com tradição na exportação de tecnologia, como a Alemanha. "A coisa começa a ficar um pouco mais complicada. Quando começa a afundar assim preocupa muito", disse.
Outra preocupação diz respeito às importações de produtos asiáticos. Com os mercados ricos mais fechados, o temor é de que o Brasil sofra uma "enxurrada" de itens a preços mais baixos que os de mercado, especialmente da Ásia.
Ontem, o diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, reuniu-se com o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral para discutir formas de proteger o Brasil.
"Não estamos pregando o protecionismo. Mas também não podemos ser vítimas de concorrência desleal", disse Fonseca.

Com PAULO DE ARAUJO , colaboração para a Folha



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