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Recessão na zona do euro gera impacto na balança do país
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O início da recessão na zona
do euro causará fortes impactos na balança comercial brasileira neste e no próximo ano,
como a redução nas exportações de commodities agrícolas,
e pode causar desemprego no
campo e na indústria alimentícia brasileira, segundo avaliação de analistas do setor.
Além da redução nas compras de produtos brasileiros,
outro revés temido pelo mercado é a adoção de medidas protecionistas, para blindar o mercado europeu e beneficiar as empresas do bloco. Nesse caso, o
prejuízo seria maior.
"A Europa é um grande comprador de commodities. Reduzindo a atividade, vai pressionar para baixo os preços nas
Bolsas. Além disso, são produtos de maior valor agregado,
que o Brasil teria dificuldade de
colocar em outros mercados",
disse José Augusto de Castro,
vice-presidente da Associação
de Comércio Exterior do Brasil.
A situação brasileira ainda é
melhor que a de muitos outros
países da América do Sul, como
Venezuela, Equador, Peru, Colômbia e Bolívia, pela maior
complexidade da indústria, segundo Castro. "O Brasil vai sofrer menos. Os problemas estão
só começando e vai pegar mais
forte nos outros países da América do Sul", disse.
Dados preliminares divulgados ontem pela Eurostat (agência de estatísticas da UE) apontam uma retração de 0,2% no
PIB da zona do euro no terceiro
trimestre, confirmando que o
bloco está em recessão.
O impacto dessa redução não
deve ser tão grande, na avaliação de Mateus Zanela, assessor
de comércio exterior da CNA
(Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil). "A Europa
já não vinha crescendo muito.
Não acredito em um impacto
grande na redução de demanda
[por alimentos]. Pode até reduzir a renda, mas ninguém corta
a compra de alimentos", disse.
Segundo Zanela o problema
será o protecionismo. "O que
mais preocupa é que quando o
bloco entra em recessão é possível que grupos internos comecem a gritar mais alto pedindo algum tipo de barreira para
os importados".
De janeiro a outubro, o Brasil
vendeu US$ 39,84 bilhões à
União Européia, o que corresponde a 23,5% do total de vendas brasileiras ao exterior.
Oportunidade
Na avaliação do presidente
da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior),
Roberto Segatto, o Brasil poderia ganhar mercado hoje ocupado por empresas européias,
mas a falta de investimentos e a
alta carga tributária dificultam
a ousadia. "O bonde está correndo e estamos perdendo
mais uma vez. Quem vai ganhar
provavelmente é a China, mais
uma vez", afirmou.
Segundo o presidente da
Abracex, o quadro também
preocupa porque a desaceleração agora atinge países com
tradição na exportação de tecnologia, como a Alemanha. "A
coisa começa a ficar um pouco
mais complicada. Quando começa a afundar assim preocupa
muito", disse.
Outra preocupação diz respeito às importações de produtos asiáticos. Com os mercados
ricos mais fechados, o temor é
de que o Brasil sofra uma "enxurrada" de itens a preços mais
baixos que os de mercado, especialmente da Ásia.
Ontem, o diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto
Gianetti da Fonseca, reuniu-se
com o secretário de Comércio
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral
para discutir formas de proteger o Brasil.
"Não estamos pregando o
protecionismo. Mas também
não podemos ser vítimas de
concorrência desleal", disse
Fonseca.
Com PAULO DE ARAUJO ,
colaboração para a Folha
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