São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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FINANÇAS

Retorno sobre o patrimônio passa de 6% a 37% em 2001 para 22% a 56% neste ano; alta do dólar é o principal fator

Banco estrangeiro triplica rentabilidade

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Beneficiados principalmente pela alta do dólar, os principais bancos estrangeiros conseguiram, em média, triplicar o retorno do patrimônio que têm investido no Brasil neste ano.
A chamada rentabilidade sobre o patrimônio líquido (PL) das instituições internacionais com maior porte no país tem variado entre 22% e 56% neste ano, segundo levantamento feito pela ABM Consulting a pedido da Folha (em 2001, esse indicador oscilou entre 6% e 37%).
Isso significa que, para cada R$ 100 investidos no país, esses bancos tiveram retornos entre R$ 22 e R$ 56.

Salto
O enorme salto é explicado principalmente, segundo analistas, pelos altos ganhos que os bancos estrangeiros conseguiram com a desvalorização do real neste ano, que chega a 61,6%.
"Isso é consequência da estratégia da tesouraria desses bancos de apostar na desvalorização do real e também de proteger seu patrimônio", afirma João Augusto Salles, analista do setor bancário da consultoria Lopes Filho.
Ganhos com a compra de títulos públicos, remunerados por juros altos, e maiores receitas com serviços bancários -cujas tarifas dispararam neste ano- também contribuíram para a rentabilidade maior dos bancos estrangeiros.
"As receitas crescentes com serviços também têm contribuído para a melhora na rentabilidade", afirma Erivelto Rodrigues, sócio da Austin Asis.

Provisões
Aparentemente, os principais bancos nacionais estiveram na contramão dessa tendência. Os dados dos balanços de setembro, anualizados, mostram que Bradesco, Itaú e Unibanco têm conseguido, neste ano, rentabilidade menor ou igual em relação a 2001.
No entanto, segundo analistas, não fossem as enormes provisões feitas por essas instituições, sua rentabilidade também estaria nas alturas neste ano.
O objetivo era se proteger contra possíveis perdas caso os ganhos que obtiveram com a alta do dólar se transformassem em prejuízo num eventual cenário de valorização do real no último trimestre.
Como isso não ocorreu, provavelmente essas provisões serão revertidas. E tanto os lucros como a rentabilidade dos bancos nacionais tendem a aumentar consideravelmente.
"Os bancos nacionais fizeram provisões altas para se prevenir contra uma possível valorização do real. Trabalharam com a hipótese de o câmbio voltar para R$ 2,80. Mas a cotação continua acima de R$ 3,70", diz Salles.
Para Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), a melhor rentabilidade dos bancos estrangeiros neste ano é explicada pela maior margem de manobra que têm para proteger seu patrimônio.
"Os bancos estrangeiros têm, por uma questão de necessidade, um limite maior para fazer operações de hedge (proteção) cambial do seu patrimônio", afirma.
Troster faz a ressalva de que, apesar da melhora da rentabilidade dos bancos estrangeiros até setembro, não há garantia de que essa tendência seja mantida nos balanços definitivos do ano.
A maioria dos analistas, no entanto, aposta que os bancos estrangeiros encerrarão o ano com rentabilidade alta. E mais: que o resultado dos bancos nacionais também tende a melhorar.
A maturação de investimentos feitos pelas instituições estrangeiras para aumentar a eficiência dos bancos que compraram no Brasil também é citada como motivo para a rentabilidade crescente.
"Os bancos estrangeiros investiram muito em tecnologia desde que entraram no país. Isso começa a se traduzir em maior eficiência e melhor rentabilidade", diz Salles.

Exterior
Mas é a combinação entre câmbio desvalorizado e juros altos que faz com que os bancos estrangeiros sejam mais rentáveis no Brasil do que no resto do mundo.
Dados da ABM Consulting mostram que a rentabilidade sobre o PL das instituições estrangeiras no mundo é bem menor do que a alcançada no Brasil.
O Citigroup, por exemplo, estava com retorno sobre o PL de 21% até setembro, percentual bem inferior ao atingido pelo Citibank no Brasil, de 50%. No caso do Santander Banespa, o indicador de rentabilidade aponta 56% para o resultado no Brasil contra 12% no mundo.
"Os bancos precisam de menos capital investido para ter retornos altos no Brasil porque ganham emprestando a taxas de juros muito altas", diz Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting.
Procurados pela Folha na última sexta-feira, Santander, ABN-Amro, Citibank e HSBC informaram que não tinham disponibilidade para conceder entrevista sobre esse assunto naquele dia.


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