São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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Inflação reduz opções do BC dos EUA

Preços ao consumidor têm maior alta desde passagem do Katrina, em 2005, tornando mais difícil novo corte nos juros

Alta na inflação, puxada por alimentos e combustível, e chance de recessão elevam temores de estagflação na principal economia mundial

DA REDAÇÃO

Os preços para o consumidor americano atingiram no mês passado a sua maior alta desde a passagem do furacão Katrina pelo país, em 2005. A alta dos preços pode limitar as opções do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para impedir a desaceleração da maior economia do planeta, abalada pela crise financeira que começou no setor imobiliário.
O CPI (o índice de preços ao consumidor americano), considerado mais importante na hora de o Fed avaliar os rumos da inflação, subiu 0,8% no mês passado, pressionado especialmente pelos preços de energia, que cresceram 5,7% em novembro, período em que o petróleo bateu recordes históricos. Foi a maior alta do índice desde setembro de 2005, quando avançou 1,2%. Em outubro, ele tinha subido 0,3%.
Mesmo o núcleo da inflação, que exclui os preços de energia e alimentos (considerados mais voláteis), teve aumento expressivo: 0,3%, a maior alta desde janeiro. A última vez em que o núcleo ficou acima de 0,3% foi em novembro de 2001. A alta sinaliza que os aumentos dos preços estão influenciando o resto da economia.
Nos últimos 12 meses, o núcleo subiu 2,3%, acima, portanto, da meta do Fed, que é de entre 1% e 2%. Foi a primeira vez desde janeiro que houve alta na inflação nos últimos 12 meses -em outubro, ela tinha somado 2,2%. O resultado da inflação influiu negativamente nas Bolsas americanas e na Bovespa ontem.
Já o PPI, que mede os custos dos bens antes de eles chegarem às lojas, divulgado anteontem, cresceu 3,2% no mês passado -a maior alta desde 1973. Os preços de energia foram os principais culpados, ao subirem 14,1%. Nos 12 meses até novembro, a inflação ao produtor cresceu 7,2%, a maior marca desde 1981.
Os membros do Fomc (comitê de política monetária do BC dos EUA) devem se mostrar mais relutantes para cortar a taxa de juros básica -uma maneira de injetar liquidez na economia-, temendo novos aumentos na inflação.
"Existe uma preocupação real e crescente em relação à inflação", afirmou Jeoff Hall, economista da Thomson Financial. "Isso limita as opções do Fed e rouba a autonomia deles. Isso explica por que o Fed não cortou mais os juros e de maneira mais agressiva."
Nas suas últimas três reuniões, o Fed cortou em 0,75 ponto percentual a taxa de juros básica, para 4,75%. E, na reunião desta semana, quando reduziu os juros em 0,25 ponto percentual, o BC dos EUA afirmou que "agirá quando for necessário para garantir a estabilidade dos preços e o crescimento econômico sustentável". A declaração foi vista como um sinal de que o Fed poderá cortar novamente os juros no ano que vem -a sua próxima reunião está marcada para 29 e 30 de janeiro.
Ao cortar os juros, o Fed quer tornar mais barato o acesso ao crédito, movimentando a economia. Porém a inflação alta pode fazer com que empresários já levem em conta aumentos expressivos na hora de decidir os preços futuros dos seus produtos.
"A alta nos preços pode não apenas continuar no próximo ano, como poderemos ver taxas ainda mais altas de inflação", afirmou Conrad DeQuadros, economista do Bear Stearns. "Um ambiente em que a política monetária está mais frouxa dá mais oportunidades para o comércio passar preços mais altos para os consumidores."
O novo aumento nos preços já começa a criar temores de estagflação -estagnação econômica mais inflação.
O próprio Fed tem alertado nas últimas semanas de que a economia deve se desacelerar no curto prazo.
No fim do mês passado, Ben Bernanke, o presidente do BC americano, afirmou que o consumidor ainda deve enfrentar alguns "ventos contrários" nos próximos meses. A Casa Branca reduziu em novembro a sua previsão de alta do PIB do ano que vem para 2,7%, contra 3,1% na previsão anterior.


Com o "Financial Times"

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