São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alta no preço de alimentos deverá se repetir em 2008

Especialistas dizem que pressão sobre a inflação continuará no Brasil e no mundo

Relatório da ONU afirma que, apesar de produção mundial recorde de cereais, preços subiram e ainda devem ter mais reajustes

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os alimentos devem pressionar a inflação em 2008 no Brasil e no mundo, repetindo a influência que exerceram neste ano sobre a alta de preços, segundo análise de especialistas ouvidos pela Folha.
No Brasil, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2007 teve a maior alta acumulada no item alimentos e bebidas desde 2002. Para economistas, a explicação para a agrinflação, termo que usam para se referir ao aumento de preços no setor, é um misto de choques locais de oferta -relacionados com safra e clima-, aumento da demanda -por causa do crescimento de países como China e Índia- e de uma nova conjuntura no mercado que aponta para alta de preços em todo o mundo.
Na ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgada anteontem, o Banco Central expressa preocupação de que a "forte aceleração" dos preços contamine a inflação. O comitê diz que o fato, observado em vários países, dificulta o controle da inflação por parte dos bancos centrais.
No Brasil, outros índices que medem a inflação comprovam a pressão. De acordo com o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, que registra a variação da inflação no município de São Paulo, os preços dos alimentos subiram 2,23% em 30 dias, ao passo que o índice geral fechou em alta de 0,71%. O índice, que mediu quatro semanas até 7 de dezembro, mostrou que o feijão, a carne, o óleo de soja, a alface e a batata estão mais caros ao consumidor.
Paulo Picchetti, economista da Fundação Getulio Vargas, pondera que a aceleração dos preços mostrada nos índices de inflação não deve ser interpretada somente a partir da conjuntura internacional de inflação na agricultura.
Picchetti afirma que ocorreu um choque de oferta local neste ano e que as altas, aceleradas em novembro e dezembro, mostram os efeitos tanto da pressão conjuntural quanto dos choques de oferta.
Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, diz que é cedo para dizer que o aumento no preço dos alimentos veio para ficar. "A inflação deste ano tem sido pressionada pelos alimentos, mas não há nenhuma evidência de que isso seja duradouro." Santos diz que as altas foram causadas por fatores climáticos, como as chuvas no primeiro semestre e a estiagem nos últimos seis meses do ano, que prejudicou o cultivo dos grãos e afetou a pecuária por causa dos pastos secos.

Peso no bolso
Posição contrária é defendida no relatório da FAO, agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para agricultura e alimentação, divulgado nesta semana. Segundo o documento, apesar da produção mundial recorde de cereais neste ano, os preços subiram em vários países e devem continuar em alta. A agência analisa que os alimentos mais caros prejudicam especialmente as famílias de baixa renda de países em desenvolvimento.
De fato, a dona-de-casa Luciméia da Silva Cruz, 37, moradora de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, reclama da diferença nos preços e afirma que as compras no supermercado agora pesam mais nas contas da família.
Há dois meses, ela diz que gastava com alimentação R$ 250 dos R$ 900 da renda mensal. Sem abrir mão dos itens que tiveram alta, agora gasta R$ 300. Se os R$ 50 ainda estivessem disponíveis, Cruz conta que poderia comprar mais frutas e verduras para os dois filhos, para ela e para o marido.
O representante da FAO para a América Latina e o Caribe, José Graziano, no entanto, afirma que a população de baixa renda é a mais afetada com a inflação da agricultura apenas em um primeiro momento. Segundo ele, a alta dos preços não deve ser interpretada como um "mau sinal" porque gera empregos e estimula a agroindústria dos países exportadores de commodities, como a carne e a soja, caso do Brasil e outros países latino-americanos.
Análise semelhante é feita por Márcio Nakane, coordenador do IPC da Fipe. O especialista argumenta que o peso dos gastos com alimentação no bolso dos consumidores tende a diminuir à medida que os países ficam mais ricos e a renda das famílias aumenta.
Nakane também prevê que os preços dos alimentos continuarão em alta nos próximos anos, mas que tende a ser amenizada a médio prazo. "A agricultura já demonstrou ser um setor com capacidade de responder às variações de mercado", afirma. Ele cita que as inovações tecnológicas ainda têm potencial para aumentar a produção de alimentos no mundo.


Texto Anterior: Foco: Aumentam chances de recessão nos EUA, afirma Greenspan
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.