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Alta no preço de alimentos deverá se repetir em 2008
Especialistas dizem que pressão sobre a inflação continuará no Brasil e no mundo
Relatório da ONU afirma que, apesar de produção mundial recorde de cereais, preços subiram e ainda devem ter mais reajustes
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os alimentos devem pressionar a inflação em 2008 no Brasil e no mundo, repetindo a influência que exerceram neste
ano sobre a alta de preços, segundo análise de especialistas
ouvidos pela Folha.
No Brasil, de acordo com o
IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2007 teve
a maior alta acumulada no item
alimentos e bebidas desde
2002. Para economistas, a explicação para a agrinflação, termo que usam para se referir ao
aumento de preços no setor, é
um misto de choques locais de
oferta -relacionados com safra
e clima-, aumento da demanda -por causa do crescimento
de países como China e Índia-
e de uma nova conjuntura no
mercado que aponta para alta
de preços em todo o mundo.
Na ata do Copom (Comitê de
Política Monetária do Banco
Central) divulgada anteontem,
o Banco Central expressa preocupação de que a "forte aceleração" dos preços contamine a
inflação. O comitê diz que o fato, observado em vários países,
dificulta o controle da inflação
por parte dos bancos centrais.
No Brasil, outros índices que
medem a inflação comprovam
a pressão. De acordo com o IPC
(Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, que registra a variação da inflação no município
de São Paulo, os preços dos alimentos subiram 2,23% em 30
dias, ao passo que o índice geral
fechou em alta de 0,71%. O índice, que mediu quatro semanas até 7 de dezembro, mostrou que o feijão, a carne, o óleo
de soja, a alface e a batata estão
mais caros ao consumidor.
Paulo Picchetti, economista
da Fundação Getulio Vargas,
pondera que a aceleração dos
preços mostrada nos índices de
inflação não deve ser interpretada somente a partir da conjuntura internacional de inflação na agricultura.
Picchetti afirma que ocorreu
um choque de oferta local neste ano e que as altas, aceleradas
em novembro e dezembro,
mostram os efeitos tanto da
pressão conjuntural quanto
dos choques de oferta.
Eulina Nunes dos Santos,
coordenadora de Índices de
Preços do IBGE, diz que é cedo
para dizer que o aumento no
preço dos alimentos veio para
ficar. "A inflação deste ano tem
sido pressionada pelos alimentos, mas não há nenhuma evidência de que isso seja duradouro." Santos diz que as altas
foram causadas por fatores climáticos, como as chuvas no
primeiro semestre e a estiagem
nos últimos seis meses do ano,
que prejudicou o cultivo dos
grãos e afetou a pecuária por
causa dos pastos secos.
Peso no bolso
Posição contrária é defendida no relatório da FAO, agência
da ONU (Organização das Nações Unidas) para agricultura e
alimentação, divulgado nesta
semana. Segundo o documento, apesar da produção mundial
recorde de cereais neste ano, os
preços subiram em vários países e devem continuar em alta.
A agência analisa que os alimentos mais caros prejudicam
especialmente as famílias de
baixa renda de países em desenvolvimento.
De fato, a dona-de-casa Luciméia da Silva Cruz, 37, moradora de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, reclama
da diferença nos preços e afirma que as compras no supermercado agora pesam mais nas
contas da família.
Há dois meses, ela diz que
gastava com alimentação R$
250 dos R$ 900 da renda mensal. Sem abrir mão dos itens
que tiveram alta, agora gasta R$
300. Se os R$ 50 ainda estivessem disponíveis, Cruz conta
que poderia comprar mais frutas e verduras para os dois filhos, para ela e para o marido.
O representante da FAO para
a América Latina e o Caribe, José Graziano, no entanto, afirma
que a população de baixa renda
é a mais afetada com a inflação
da agricultura apenas em um
primeiro momento. Segundo
ele, a alta dos preços não deve
ser interpretada como um
"mau sinal" porque gera empregos e estimula a agroindústria dos países exportadores de
commodities, como a carne e a
soja, caso do Brasil e outros países latino-americanos.
Análise semelhante é feita
por Márcio Nakane, coordenador do IPC da Fipe. O especialista argumenta que o peso dos
gastos com alimentação no bolso dos consumidores tende a
diminuir à medida que os países ficam mais ricos e a renda
das famílias aumenta.
Nakane também prevê que
os preços dos alimentos continuarão em alta nos próximos
anos, mas que tende a ser amenizada a médio prazo. "A agricultura já demonstrou ser um
setor com capacidade de responder às variações de mercado", afirma. Ele cita que as inovações tecnológicas ainda têm
potencial para aumentar a produção de alimentos no mundo.
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