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TV via satélite da Telefônica é alvo de piratas
Código de proteção de acesso a canais pagos foi quebrado por hackers; empresa espera solucionar problema em um mês
Receptor que capta canais,
supostamente coreano, é
vendido a partir de R$ 500
no Estado de SP, com entrega prometida via Correios
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Inaugurada no ano passado,
a Telefônica TV Digital -transmitida via satélite, com 280 mil
assinantes no Estado de São
Paulo- é alvo de piratas. Os códigos que liberam o acesso aos
canais pagos foram decifrados
por hackers.
A empresa soube da ação dos
hackers há seis meses, mas vinha tratando o problema em sigilo. Há cerca de três semanas,
a informação chegou à ABTA
(Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) e ao Seta
(Sindicato das Empresas de TV
por Assinatura).
O serviço de TV por satélite
da Telefônica é protegido pelo
sistema de criptografia (codificação de sinais) Nagra 2, desenvolvido pela empresa Nagravision, da Suíça. Os hackers violaram o Nagra 2 e, em conseqüência, os canais distribuídos
pela Telefônica puderam ser
acessados gratuitamente.
O diretor do serviço da Telefônica para a América Latina,
Pedro Luis Planas, disse à Folha que a empresa e a Nagravision já conseguiram dificultar a
ação dos piratas, mas esperam
ter uma solução definitiva para
o problema em um mês.
Ele poderia ser solucionado
com a troca dos cartões inteligentes -que contêm a senha
para acesso aos canais pelo satélite- existentes dentro dos
receptores, nas casas dos assinantes. Mas a empresa avalia
que o problema ainda é pequeno e está sob seu controle e decidiu esperar que a Nagravision
chegue a um software que feche
a porta para os hackers.
Os canais são captados gratuitamente pelo receptor Azbox, de fabricação supostamente coreana, lançado recentemente. O equipamento tem alta capacidade de processamento e memória e foi projetado
para receber os canais abertos
de televisão disponíveis nos satélites. Os hackers divulgam
pela internet os códigos de
acesso aos canais pagos, que estão no satélite Amazonas. Os
dados são transferidos para o
receptor por pen drive.
A equipe antipirataria da Telefônica descobriu o problema
por acaso. A Nagravision não
informou a empresa sobre a
violação, porque contava em
solucionar o problema rapidamente, o que não aconteceu.
Segundo Planas, o código de
acesso aos canais está sendo
trocado uma vez por semana,
para dificultar a ação dos piratas. Nas primeiras mudanças,
os novos códigos eram decifrados pelos hackers em poucas
horas. Na semana passada, precisaram de dois dias.
A Telefônica calcula que a
proporção de acesso pirata em
sua base de assinantes seja ainda pequena. Ela tem rastreado
a importação dos receptores na
América Latina e concluiu que
10 mil caixas da marca Azbox
entraram no Brasil por intermédio do Uruguai.
Venda
A reportagem da Folha conversou com vendedores nas cidades de Santos e de Barretos,
ambas no Estado de São Paulo.
Os receptores são oferecidos a
partir de R$ 500, com promessa de entrega pelos Correios.
A quebra dos códigos afetou
todas as operadoras de TV via
satélite usuárias do sistema
Nagra, e não só a Telefônica.
Entre as afetadas, está a segunda maior operadora de TV via
satélite dos EUA, a Echostar.
A DirecTV (atual Sky) teve
seu sistema de codificação, conhecido pela sigla NDS, concorrente do Nagra, violado por
piratas em 2000. Na época ela
trocou os cartões inteligentes
de todos os assinantes.
Alguns operadores temem
que a Justiça considere o receptor desbloqueado como
inovação tecnológica, e não como produto pirata. A ilegalidade estaria na ação dos hackers e
no uso indevido do receptor.
Para o advogado Marcos Bitelli, que assessora programadores estrangeiros, não há dúvida de que tanto fabricantes
quanto usuários podem ser
processados por pirataria.
No pacote de programação
da TV Telefônica Digital há canais de televisão abertos, e a lei
brasileira do direito autoral
protege as emissões dos radiodifusores. Também o Código
Brasileiro de Telecomunicações, segundo Bitelli, qualifica
como crime a interceptação de
sinais de telecomunicações, o
que abrange os sinais de transmissão da TV paga.
O diretor da Globosat, Alberto Pecegueiro, disse confiar em
que a Telefônica e a Nagravision encontrem um antídoto.
""Para cada gênio que desenvolve um sistema de segurança, há
outro que descobre um meio de
quebrá-lo. O importante é as
operadoras reagirem logo."
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