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Já falta mão de obra no setor de construção civil
Estudo da FGV diz que país vai enfrentar novamente escassez de trabalhadores em 2010
Setor precisará de 180 mil trabalhadores, mas até o Senai, maior instituição de formação da AL, diz não ter como atender à demanda
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cadeia da construção civil
se prepara para enfrentar de
novo escassez de mão de obra
qualificada em 2010, problema
que retorna após o intervalo
provocado pela paralisação de
projetos entre o fim do ano passado e o início de 2009, em decorrência da crise global.
Estudo sobre a tendência do
setor da construção, elaborada
pela FGV Projetos a pedido da
Abramat (Associação Brasileira
da Indústria de Materiais de
Construção), mostra que a
construção civil contratará
mais 180 mil trabalhadores no
ano que vem, uma expansão de
8% na oferta de vagas com carteira assinada.
Essa demanda por trabalhadores inclui do empregado na
indústria de material de construção ao servente de pedreiro,
passando pela crescente demanda por engenheiros.
A indústria da construção civil estima crescer 8,8% em
2010, enquanto o PIB projetado é de 5,8%, segundo avaliação
do setor. Neste ano, a construção civil fechará o ano com um
recorde de 2,35 milhões de trabalhadores com carteira assinada -ampliação de 7,3% sobre o estoque de trabalhadores
contratados em 2008.
"Pelo ritmo de recuperação
da cadeia da construção civil,
esse problema da falta de mão
de obra qualificada será enfrentado novamente em 2010", disse Fernando Garcia, professor
da FGV e um dos autores do
diagnóstico sobre a tendência
para o setor até 2016.
Apagão
De acordo com Antônio de
Sousa Ramalho, presidente do
Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias da Construção
Civil de São Paulo, o "apagão"
da mão de obra já é sentido em
2009. O sistema de recolocação
de profissionais na construção
civil, explica ele, vai fechar o
ano com 69 mil vagas abertas,
sem candidatos para preenchê-las. "Em São Paulo, 23 mil vagas
ficarão abertas, 7.000 só na capital", diz Ramalho.
A abertura de novas frentes
de obras (como o programa habitacional do governo federal
Minha Casa, Minha Vida, projetos de infraestrutura e, em
breve, obras para a Copa e a
Olimpíada, além de toda a demanda gerada pelo pré-sal) deve agravar a situação a partir de
2010, prevê Ramalho.
As consequências, segundo
ele, já são sentidas nos canteiros de obras. O sindicato atribui
à falta de gente a ampliação das
jornadas de trabalho, com consequente efeito aos trabalhadores. Ramalho diz que o número
de mortes em São Paulo quase
triplicou neste ano em relação a
2008. "De 7 mortes, registramos 20 até agora em São Paulo.
Essa situação tem relação direta com a sobrejornada dos trabalhadores", afirma.
Indústria
A indústria da Construção
Civil reconhece que a demanda
por profissionais a partir de
2010 irá aumentar, mas que
tem cuidado da formação dos
trabalhadores para compensar
a falta de qualificação. Segundo
Haruo Ichikawa, vice-presidente do SindusCon-SP e responsável pela relação capital e
trabalho na entidade, a maior
parte da formação ainda é feita
nos canteiros de obras.
Segundo ele, o Senai formou
neste ano 31 mil trabalhadores
para a construção civil em São
Paulo. A indústria discute neste
momento formas de expandir
essa formação em 2010, o que
inclui o uso das estruturas nos
próprios canteiros de obras para as aulas.
A situação preocupa o próprio Senai. Paulo Rech, gerente-executivo de educação profissional e tecnológica do Senai,
afirma que a instituição está
tentando criar novos canais de
formação para dar conta da demanda. "Qualquer curso na
construção civil aberto hoje em
São Paulo tem pelo menos cinco candidatos por vaga. Em
alguns casos, até o dobro", afirma Rech.
A estratégia para dar conta
de tanta demanda é levar cursos para os canteiros, criar unidades móveis, utilizar o ensino
à distância, entre outras alternativas. Mesmo assim, o principal sistema de formação profissional da América Latina não
tem condições de atender à demanda com os novos eventos
(Copa, Olimpíada, pré-sal).
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