São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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NOVA MUDANÇA
Impedir que as cotações da moeda dos EUA superasse R$ 1,32 levou a perda rápida de reservas
BC desiste do sistema de banda e libera dólar

da Sucursal de Brasília

O Banco Central suspendeu ontem suas intervenções no mercado de câmbio, o que provocou nova desvalorização do real em relação ao dólar, a segunda num intervalo de três dias. Em alguns momentos, o real chegou a perder 14,84% de seu valor.
O BC parou de vender dólares e, assim, deixou de fixar limites para a cotação da moeda norte-americana. Também extinguiu o sistema de bandas cambiais, criado 48 horas antes, e anunciou que fixará novas regras na próxima segunda.
O BC saiu do mercado de câmbio sem prévio aviso. O mercado, que começa a operar com maior força às 9h, notou a ausência do BC. A cotação da moeda norte-americana disparou e superou o teto da banda cambial, fixado em R$ 1,32.
O sistema eletrônico de informações do BC deixou de informar as oscilações da taxa de câmbio e sua tela registrava apenas o fechamento de anteontem, quando a cotação do dólar ficou em R$ 1,3194.
Às 10h56 o BC divulgou comunicado informando que não faria intervenções ontem no mercado de câmbio.
O mesmo comunicado dizia também que, na próxima segunda-feira, será anunciado um novo regime cambial e que o sistema de bandas cambiais criado na terça-feira estava revogado.
Com o BC fora do mercado, a cotação do dólar subiu e, rapidamente, atingiu R$ 1,55, segundo registro do sistema eletrônico do banco. À tarde, o dólar recuou e passou a ser cotado em R$ 1,45.
A desvalorização do real foi causada pela extinção do regime de bandas cambiais. Durante dois dias houve uma faixa larga de flutuação da cotação do dólar. O BC se comprometia a não deixar o dólar ficar acima do teto da banda cambial, fixado em R$ 1,32, nem abaixo do piso, definido em R$ 1,20.
Quando o dólar ameaçava romper o teto da banda, o BC entrava no mercado vendendo a moeda norte-americana. Com essa estratégia, o BC segurou a cotação durante os dois dias de vigência da banda larga e consumiu US$ 2,8 bilhões de suas reservas em moeda estrangeira.
Como a continuidade da defesa do teto da banda poderia consumir ainda mais as reservas, o BC decidiu deixar de intervir no mercado -isto é, não vendeu mais dólares para conter a alta da moeda norte-americana.
Sem o BC vendendo dólares, a cotação passou a ser definida pelo próprio mercado, como o preço de qualquer mercadoria. Quem tem a moeda estrangeira pede seu preço e quem precisa dela diz quanto está disposto a pagar.
Assim, a taxa de câmbio oscilou durante todo o dia, segundo o sistema de informações do BC.
Na prática, funcionou ontem o que os economistas chamam de sistema de livre flutuação. Anteontem, o novo presidente do BC, Francisco Lopes, negou que o BC fosse adotar tal sistema. Segundo ele, seriam usadas reservas e taxa de juros para defender a moeda.
O sistema de banda larga foi criado na terça-feira passada, quando a moeda brasileira sofreu uma desvalorização de 8,3% em relação do dólar.
Antes, a cotação do dólar era controlada por um sistema de minibandas, na qual a cotação do dólar flutuava em uma faixa mais estreita, com piso de R$ 1,1975 e teto de R$ 1,2115. (ALEX RIBEIRO)



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