São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PLANALTO
FHC mantém Malan ministro, queixa-se de moratória estadual e promete combater possível volta da carestia
Fiz o possível, diz presidente

Folha Imagem
O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, durante o pronunciamento que fez ontem à nação


da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em cadeia de rádio e TV, que fez "todo o possível" para evitar a queda do real e prometeu impedir "a volta da carestia". Ele disse que o ministro Pedro Malan (Fazenda) continuará no cargo.
No pronunciamento de dois minutos e 40 segundos, FHC atribuiu a instabilidade do mercado a "declarações e reações irresponsáveis sobre a moratória da dívida dos Estados" e à avaliação "equivocada" de que o governo não conseguirá fazer o ajuste fiscal.
FHC, que voltou às pressas a Brasília de sua fazenda em Buritis (MG) e passou a tarde em reunião com a equipe econômica, falou às 19h, com texto preparado previamente. Seu objetivo, disse, foi "tranquilizar os brasileiros".
"Todos são testemunhas de que fiz todo o possível para evitar uma mudança abrupta no câmbio."
FHC prestigiou Malan, vítima de rumores de que deixaria o cargo, a exemplo do presidente demissionário do Banco Central, Gustavo Franco. "Reitero minha confiança no ministro Pedro Malan, que continuará a conduzir a equipe econômica e saberá superar as dificuldades que estamos vivendo."
Ao decidir não mais intervir no mercado de câmbio, o governo quis preservar as reservas, disse.
"Eu tenho a obrigação de defender o real. Não poderia deixar que as reservas continuassem a sair e o Brasil ficasse sem as defesas para só então tomar providências."
A medida, segundo FHC, deve afastar a desconfiança que se instalou no mercado. Ao afastar a tensão, completou, o BC "cria as condições para, no segundo momento, baixar as taxas de juros".
Em tese, eliminada a expectativa de desvalorização cambial, há maior espaço para reduzir os juros, que hoje são altos, entre outros motivos, para cobrir as perdas que investidores internacionais sofrem ao investir em reais.
Entretanto, essa relação não é automática. Uma nova turbulência no mercado de câmbio, por exemplo, pode impedir a queda das taxas.
Também influi nos juros o déficit do governo, que, ao gastar mais do que arrecada, gera desconfiança no mercado -o emprestador do dinheiro. Esse aspecto foi abordado por FHC.
"Só o cumprimento das metas fiscais permitirá ampliar a confiança na economia e superar a instabilidade que temos vivido. Conto com o Congresso Nacional para isso."
FHC argumentou que, quanto mais rapidamente for aprovado o ajuste fiscal, menor será o custo para a sociedade. Por isso, defendeu que o momento é de deixar de lado "questões menores, interesses pessoais e até mesmo partidários".
Não foram mencionados os potenciais custos dos ajustes no câmbio. FHC falou em volta do crescimento e descartou o impacto inflacionário da desvalorização da moeda.
"Quero que você saiba que continuarei a defender o real e não permitirei a volta da carestia", disse.
O presidente afirmou ainda que o Brasil vai cumprir "rigorosamente" o acordo com o FMI.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.