São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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PREÇOS
Responsáveis pelo cálculo dos índices em São Paulo dizem que não existe motivo para pânico
'Recessão neutraliza inflação'

MAURO ZAFALON
da Redação

Não há motivo para pânico na área da inflação. É o que pensam os dois responsáveis pelos principais índices de inflação da cidade de São Paulo.
Juarez Rizzieri, presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), diz que apenas parte da alta do dólar vai ser passado aos preços.
A coordenadora do Índice de Custo de Vida do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Cornélia Nogueira Porto, também não acredita em forte retomada da inflação.
Ambos concordam, no entanto, que esse quadro, até certo ponto favorável, pode mudar se o ritmo das desvalorizações continuarem na próxima semana.
Para Marcelo Allain, do Banco BMC S/A, "ainda é cedo para fazer previsões sobre taxas de inflação". Ele afirma que é preciso esperar, pelo menos, até o início da semana que vem.
Uma coisa é certa: o período de deflação acabou.
A Fipe, que registrou taxa de deflação pela primeira vez em sua história no ano passado, e que esperava novamente inflação próxima a zero para este ano, agora prevê taxa de 6% para 99.
Em 98, a queda média dos preços foi de 1,79%.
O mesmo ocorre com a taxa do Dieese. Após registrar inflação de 0,49% no ano passado, a coordenadora do ICV previa deflação para este ano.
Com a desvalorização cambial ocorrida, no entanto, a previsão é de inflação.
Mas a coordenadora diz que é muito cedo para a previsão de taxas.
Se a desvalorização continuar, a pressão será maior sobre os preços e a taxa de inflação pode subir mais rapidamente.
Cornélia Nogueira Porto acreditava, no entanto, no começo da tarde de ontem, em uma redução do valor do dólar.
Foi o que acabou se confirmando no final do dia, com o fechamento do mercado.

Repasse
Rizzieri diz que a valorização do dólar ocorrida nesta semana, próxima de 20%, não vai toda para os preços.
Apenas os produtos que têm componentes importados devem sofrer o impacto da mudança e, mesmo assim, o governo vai administrar essa pressão por meio da política monetária.
Os juros altos, por exemplo, vão manter o país em um quadro recessivo.
O desemprego continua, e a demanda cai por falta de renda.
Caindo a demanda, as indústrias produzem, empregam e vendem menos.
Não haverá espaço para aumentos de preços, diz o economista da Fipe.

Mais afetados
Os setores que receberão as maiores pressões de preços serão o de combustível (e seus derivados, inclusive o gás de cozinha), informática e todos os que têm componentes importados.
Nesse bolo está incluído até o setor de produtos de higiene e limpeza, segundo a avaliação de Juarez Rizzieri.
Para Cornélia, um dos setores que vai aproveitar o momento para aumentar ainda mais os preços será o farmacêutico, por ser oligopolizado.
A coordenadora do ICV do Dieese prevê aumentos ainda nos preços do trigo.
O Brasil vem importando o produto em larga escala nos últimos meses.
Cornélia e Rizzieri não esperam a reindexação dos preços e um retorno da inércia inflacionária apenas com o quadro atual de desvalorização.
"As pessoas gostaram de viver com inflação baixa", disse Cornélia Nogueira Porto.



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