|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PREÇOS
Responsáveis pelo cálculo dos índices em São Paulo dizem que não existe motivo para pânico
'Recessão neutraliza inflação'
MAURO ZAFALON
da Redação
Não há motivo para pânico na
área da inflação. É o que pensam os
dois responsáveis pelos principais
índices de inflação da cidade de
São Paulo.
Juarez Rizzieri, presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), diz que apenas
parte da alta do dólar vai ser passado aos preços.
A coordenadora do Índice de
Custo de Vida do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos), Cornélia Nogueira Porto, também não
acredita em forte retomada da inflação.
Ambos concordam, no entanto,
que esse quadro, até certo ponto
favorável, pode mudar se o ritmo
das desvalorizações continuarem
na próxima semana.
Para Marcelo Allain, do Banco
BMC S/A, "ainda é cedo para fazer
previsões sobre taxas de inflação".
Ele afirma que é preciso esperar,
pelo menos, até o início da semana
que vem.
Uma coisa é certa: o período de
deflação acabou.
A Fipe, que registrou taxa de deflação pela primeira vez em sua
história no ano passado, e que esperava novamente inflação próxima a zero para este ano, agora prevê taxa de 6% para 99.
Em 98, a queda média dos preços
foi de 1,79%.
O mesmo ocorre com a taxa do
Dieese. Após registrar inflação de
0,49% no ano passado, a coordenadora do ICV previa deflação para este ano.
Com a desvalorização cambial
ocorrida, no entanto, a previsão é
de inflação.
Mas a coordenadora diz que é
muito cedo para a previsão de taxas.
Se a desvalorização continuar, a
pressão será maior sobre os preços
e a taxa de inflação pode subir mais
rapidamente.
Cornélia Nogueira Porto acreditava, no entanto, no começo da
tarde de ontem, em uma redução
do valor do dólar.
Foi o que acabou se confirmando
no final do dia, com o fechamento
do mercado.
Repasse
Rizzieri diz que a valorização do
dólar ocorrida nesta semana, próxima de 20%, não vai toda para os
preços.
Apenas os produtos que têm
componentes importados devem
sofrer o impacto da mudança e,
mesmo assim, o governo vai administrar essa pressão por meio da
política monetária.
Os juros altos, por exemplo, vão
manter o país em um quadro recessivo.
O desemprego continua, e a demanda cai por falta de renda.
Caindo a demanda, as indústrias
produzem, empregam e vendem
menos.
Não haverá espaço para aumentos de preços, diz o economista da
Fipe.
Mais afetados
Os setores que receberão as
maiores pressões de preços serão o
de combustível (e seus derivados,
inclusive o gás de cozinha), informática e todos os que têm componentes importados.
Nesse bolo está incluído até o setor de produtos de higiene e limpeza, segundo a avaliação de Juarez
Rizzieri.
Para Cornélia, um dos setores
que vai aproveitar o momento para aumentar ainda mais os preços
será o farmacêutico, por ser oligopolizado.
A coordenadora do ICV do Dieese prevê aumentos ainda nos preços do trigo.
O Brasil vem importando o produto em larga escala nos últimos
meses.
Cornélia e Rizzieri não esperam a
reindexação dos preços e um retorno da inércia inflacionária apenas com o quadro atual de desvalorização.
"As pessoas gostaram de viver
com inflação baixa", disse Cornélia Nogueira Porto.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|