São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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"Acreditamos no sucesso da política cambial", diz Light

da Reportagem Local

A Light era apontada ontem por especialistas como uma das empresas que mais sofrerá com a desvalorização do real. A razão: a empresa tem um alto endividamento em dólares e não buscou proteger-se contra uma possível desvalorização do real, que acabou ocorrendo.
"Acreditamos que o governo teria sucesso com sua política cambial", diz o superintendente financeiro da Light, Marcos Vinícius Visconti.
Com planos de se tornar a maior distribuidora de energia do país, a empresa tomou um empréstimo de US$ 2 bilhões para arrematar a Eletropaulo Metropolitana no leilão de privatização realizado no ano passado.
"Esse foi o caminho escolhido porque tinha um custo mais atraente e acreditávamos que não haveria mudança na política cambial", diz Visconti.
Segundo ele, a alternativa de buscar um instrumento financeiro que protegesse a empresa contra a alta do dólar chegou a ser estudada. "Desistimos porque o custo do "hedge" era muito alto. Não quisemos pagar esse prêmio. Agora, não temos como negar uma exposição muito alta à desvalorização", diz ele.
As ações da distribuidora de energia foram castigada ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. Enquanto a Bolsa disparou, o papel fechou em baixa de 5,8% (ordinárias, com direito a voto), chamando a atenção por estar andando na contramão.
A explicação para isso podia ser encontrada facilmente. Qualquer analista de mercado tinha pronta a resposta: o alto endividamento em dólares da empresa.
"A Light é a empresa mais endividada do setor e já está sendo a mais penalizada", diz Luiz Tadao Inoue, analista do Lloyds Bank.
Mesmo admitindo que a empresa terá perdas com a desvalorização cambial, os administradores da empresa consideram que o mercado está exagerando em sua avaliação.
"A emoção costuma suplantar a razão nessas crises", diz Paulo Renato Marques, assessor de relações com o mercado da Light.
"A empresa é maior que essa dívida e temos como superar o impacto. Temos uma capacidade de geração de caixa comparável à de poucas empresas. Vamos dar retorno aos acionistas", afirma Marques.
Segundo ele, nos nove primeiros meses de 98, a Light gerou um caixa de R$ 500 milhões e faturou R$ 1,5 bilhão.
Marques considera importante na recuperação da empresa o fato de que o consumo de energia é de grande inelasticidade. Ou seja, mesmo em um cenário econômico que promete ser recessivo, o consumo de energia não costuma cair muito.
"Principalmente, porque temos uma grande participação do segmento residencial, onde o consumo é muito estável", diz ele. O segmento industrial costuma ter uma variação maior de consumo em momentos de crise, já que a atividade industrial cai e as empresas, portanto, absorvem menos energia.
Segundo dados da Light, o segmento residencial representou, de janeiro a setembro de 98, 33% da energia distribuída pela empresa.
Na receita, a participação das residências foi ainda maior: 48%, porque a tarifa residencial é proporcionalmente maior que a industrial.


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