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DESVALORIZAÇÃO
Dívida externa aumentou R$ 35,8 bi em uma semana
e será problema para empresas, diz pesquisa da Sobeet
Real fraco reduz patrimônio
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
As empresas brasileiras terão
grande trabalho para lidar com
uma dívida externa que cresceu
nada menos que R$ 35,8 bilhões
em uma semana.
A desvalorização cambial acumulada na semana fez com que a
dívida de US$ 140 bilhões do setor
privado brasileiro saltasse, em
reais, de R$ 169,4 bilhões para R$
205,2 bilhões.
Os dados são de Octávio de Barros, diretor-técnico da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais), uma
organização não-governamental
de pesquisa.
Em seus estudos, Barros utilizou
a cotação de R$ 1,4659 por dólar.
Esse crescimento do estoque da
dívida externa privada terá impacto direto nos balanços das empresas com dívidas em dólares. O aumento da dívida é lançado como
uma despesa financeira no balanço, reduzindo o lucro ou até mesmo gerando um prejuízo.
O impacto no caixa das empresas
não será do mesmo tamanho. A dívida é de longo prazo e seu impacto em termos de desembolso será
diluído ao longo do tempo.
Segundo Barros, em 99 haverá
um impacto de R$ 8,9 bilhões sobre o caixa das empresas. De acordo com seus cálculos, as empresas
têm em 99 US$ 35 bilhões a pagar
de suas dívidas, entre principal e
juros. No início da semana, antes
da desvalorização, esse valor em
reais representava R$ 42,4 bilhões.
Ontem, havia saltado para R$ 51,3
bilhões.
"O conjunto das empresas com
dívidas que vencem este ano terão
que gerar em 99 R$ 8,9 bilhões de
caixa a mais para honrar o compromisso", diz Barros.
"Será um esforço muito grande,
principalmente porque será um
ano de desaquecimento econômico. Por mais que haja redução dos
juros daqui para a frente, o desaquecimento deve ficar ainda mais
acentuado", completa o especialista. Octávio de Barros estima uma
queda de 4% a 5% do PIB (Produto
Interno Bruto) este ano.
Dívida total
A dívida externa total do país
-que inclui os setores público e
privado-, calculada em US$ 228
bilhões, saltou de R$ 275,8 bilhões
para R$ 334,2 bilhões.
O desembolso total a ser feito em
99 pelo país (incluindo empresas
privadas, estatais e todos os níveis
de governo) subiu R$ 12,8 bilhões,
de R$ 60,5 bilhões para R$ 73,3 bilhões.
Impacto real
O verdadeiro impacto da desvalorização cambial sobre a dívida
externa das empresas só será conhecido aos poucos. Tudo vai depender do grau de "hedge" (proteção) que cada uma estava utilizando.
Ou seja, se estava sendo usado algum instrumento financeiro para
proteger a empresa contra uma
eventual flutuação da moeda, como a que aconteceu.
Um exemplo de "hedge" é a compra de contratos futuros de dólar.
Quem havia comprado esses contratos, agora recebe a diferença da
variação da moeda americana e
pode cobrir o aumento de sua dívida. Outro "hedge", chamado "natural", é o de empresas que têm
suas receitas em dólares, ou seja, as
exportadoras. Essas, mesmo endividadas, não terão tanta dificuldade para honrar as dívidas, já que
sua receita também crescerá em
reais.
A preocupação de especialistas,
no entanto, é que o "hedge" tem
um custo financeiro, o que pode
ter levado muitas empresas a preferir assumir o risco.
Bolsa de Valores
Muitas das empresas com grande
dívida em dólares têm ações negociadas na Bolsa de Valores de São
Paulo. Diante da difícil situação
em que foram colocadas pela desvalorização do real, muitas dessas
empresas já têm sofrido na Bolsa.
A Light é um dos casos que mais
preocupa os analistas. As ações ordinárias da empresa caíram 5,8%
ontem, enquanto a Bolsa fechou
em alta de 33,4%.
Ontem foi um dia atípico e a maioria dos papéis fechou em alta, mas
nos dois dias anteriores ficou claro
que analistas e investidores já começavam a identificar as empresas
com elevado endividamento em
dólares.
A Petrobrás, com dívida em dólares estimada em torno de R$ 8 bilhões, acumulou queda de 26,9%
na quarta e na quinta-feira. Ontem, o papel foi no embalo da Bolsa e subiu 20,67%.
A Sabesp, outra empresa com
grande dívida externa, havia caído
35,6% na quarta e na quinta-feira.
Outros exemplos de ações de empresas com dívida em dólar que
acumularam forte desvalorização
na Bolsa no mesmo período são:
Eletrobrás PNB ,-22,3%; Cerj ON,
-39,4%; Telerj PN, -29% e Eletropaulo Metropolitana PN, -24%.
As ações de empresas exportadoras estão refletindo o benefício que
os especialistas esperam que elas
terão a partir da desvalorização.
O principal exemplo disso é a
Companhia Vale do Rio Doce. As
ações preferenciais (sem direito a
voto) da Vale haviam subido 14,8%
na quarta e na quinta. Ontem, dispararam e fecharam com alta de
46,9%, bem acima da variação da
Bolsa.
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