São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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Indústria de máquinas apóia mudança no regime cambial

da Reportagem Local

Os fabricantes brasileiros de máquinas e equipamentos, duramente atingidos pela abertura comercial, pela política de juros altos e pela antiga taxa de câmbio, respiraram aliviados após as mudanças na cotação do real.
Com a desvalorização dos últimos dias, a expectativa era de aumento das exportações do setor logo após o período de turbulência nos mercados.
O presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Luiz Carlos Delben Leite, estima que as exportações brasileiras poderão crescer de 8% a 10% neste ano.
"Vamos ter uns três meses de dificuldades na obtenção de crédito internacional, mas com a aprovação do ajuste fiscal a situação melhora", afirmou o empresário, que também já foi presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e secretário de Tecnologia de São Paulo.
As indústrias brasileiras exportaram US$ 3,9 bilhões no ano passado, o mesmo valor obtido em 97. O faturamento do setor no mercado interno caiu cerca de 5%.
As indústrias de máquinas e equipamentos também estão animadas com as perspectivas de futuras quedas nas importações de produtos concorrentes, que vinham ganhando mercado desde o início da década.
As importações de máquinas e equipamentos no ano passado somaram US$ 8,7 bilhões. Em 97, chegaram a US$ 8,9 bilhões.
As indústrias nacionais do setor, por sua vez, dependem pouco de matéria-prima importada.
Segundo estimativas do setor, o peso da matéria-prima importada no custo final dos produtos não passa de 8%.

Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados): "A liberação do câmbio é uma medida acertada, com ressalvas. É preciso que venha acompanhada do controle do orçamento, do ajuste fiscal. Não adianta achar que a ajuda do FMI e a liberação do câmbio vão resolver os problemas do país. As reformas têm de ser implementadas para dar suporte à mudança na política cambial. Acho que, primeiramente, o governo deveria ter feito o ajuste fiscal e, depois, ter mexido no câmbio. O que não dá para esquecer é que a lição de casa principal ainda não foi feita: o controle dos gastos públicos."

Antonio Carlos Borges, diretor- executivo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP): "Câmbio flutuante é uma medida acertada. Não podia continuar como estava. Ou o país passava a adotar a política cambial da Argentina, com câmbio fixo, ou partiria para flutuação livre. A definição de bandas acaba dando segurança para quem especula com dólar. Agora o mercado vai se disciplinar pela oferta e pela procura da moeda. Quem tiver endividado em dólar vai ter problema, só que ninguém pode se queixar do câmbio."
Eduardo Gianetti da Fonseca, economista e colunista da Folha: "A grande pergunta que surge agora é até onde vai a desvalorização. No México, o peso chegou a cair 80%. Espero que não se repita o mesmo aqui. Outra dúvida é como o FMI vai agir daqui para a frente. O Fundo foi derrotado pela desvalorização do real porque ficou claro que seu apoio não é nenhuma garantia de segurança para os investidores privados."
Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda: "Hoje (ontem), o mercado comprou a versão de que a desvalorização pode resolver todos os problemas, mas isso não é verdade e o risco ainda é grande. O que o Banco Central fez hoje dificilmente um banco central sério faria; deixou as instituições financeiras sem ter com quem falar."



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