São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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REPERCUSSÃO
Empresário do grupo Votorantim quer que governo faça microdesvalorizações do real mais aceleradas
Antonio Ermírio defende controle

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

O empresário Antonio Ermírio de Moraes, 70, vice-presidente do grupo Votorantim (faturamento anual de US$ 4 bilhões), defende a manutenção da banda (preços mínimo e máximo para o dólar) como o pilar da política cambial.
Para ele, o governo deveria aproveitar a lição de um dia de liberdade cambial para definir a nova banda, passando a fazer microdesvalorizações mais rápidas.
"Na minha opinião, a espiral inflacionária voltaria com a liberdade total do câmbio", disse em entrevista à Folha.
Antonio Ermírio acha que a desvalorização cambial desta semana vai ajudar o país a exportar mais e a criar empregos.
"É muito duro ver esse pessoal desempregado, andando pelas ruas sem nenhum destino, numa miséria terrível. Isso aqui está parecendo Bangladesh. O Brasil não é Bangladesh. O Brasil tem competência para resolver seus problemas." A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Qual será o impacto da desvalorização cambial desta semana nos custos das empresas e nas exportações?
Antonio Ermírio de Moraes -
Os custos da indústria nacional vão baixar, o que vai melhorar a competitividade das exportações. Vamos poder enfrentar melhor a concorrência.
Folha - A decisão do governo de deixar a taxa de câmbio flutuar foi, então, positiva?
Antonio Ermírio -
O governo não poderia ficar de braços cruzados esperando o Brasil falir. Acredito piamente que a prioridade brasileira é o emprego. A desvalorização vai incentivar as exportações. Com o esperado aumento das exportações vamos, certamente, poder empregar mais. É muito duro ver esse pessoal desempregado, andando pelas ruas sem nenhum destino, numa miséria terrível. Isso aqui está parecendo Bangladesh. O Brasil não é Bangladesh. O Brasil tem competência para resolver seus problemas. Vamos dar a volta por cima.
Folha - A liberdade cambial é o caminho?
Antonio Ermírio -
Não gostei muito dessa liberdade do câmbio.
Folha - Por quê?
Antonio Ermírio -
Porque vai ser um deus-nos-acuda. Tem de controlar. Na minha opinião, a espiral inflacionária voltaria com a liberdade total do câmbio. A política cambial precisa de uma banda para colocar novamente ordem na casa. Não somos disciplinados, somos latinos.
Folha - Como deve ser esse controle?
Antonio Ermírio -
Nunca pedi nem máxi nem midi. Peço microdesvalorizações mais rápidas dentro da banda cambial. No ano passado, o real sofreu uma desvalorização de 8%, com uma inflação média de 2%.
Folha - O sr. acha, então, que o governo deve manter a banda?
Antonio Ermírio -
Acho que a banda é necessária. Sou a favor da banda, com as microdesvalorizações mais aceleradas do que no ano passado. Talvez possamos fazer uma desvalorização de 15% ou 16% ao longo do ano. Se a inflação for para 5% está bom demais.
Folha - A desvalorização desta semana vai ter impacto inflacionário?
Antonio Ermírio -
A Fipe está dizendo que sim. Mas a desvalorização vai aumentar os custos apenas desse pessoal que importa tudo e coloca a embalagem aqui no Brasil. Mas os custos vão baixar para a maioria das empresas que fabrica com matéria-prima nacional. Vamos poder exportar mais. Essa é a grande vantagem da desvalorização porque temos a obrigação de empregar. Sinceramente, sinto-me também culpado porque sou empresário. Devia estar empregando e não despedindo. Mas, hoje, com os custos de produção tão altos quem não despedir vai quebrar.



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