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REPERCUSSÃO
Empresário do grupo Votorantim quer que governo faça microdesvalorizações do real mais aceleradas
Antonio Ermírio defende controle
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O empresário Antonio Ermírio
de Moraes, 70, vice-presidente do
grupo Votorantim (faturamento
anual de US$ 4 bilhões), defende a
manutenção da banda (preços mínimo e máximo para o dólar) como o pilar da política cambial.
Para ele, o governo deveria aproveitar a lição de um dia de liberdade cambial para definir a nova
banda, passando a fazer microdesvalorizações mais rápidas.
"Na minha opinião, a espiral inflacionária voltaria com a liberdade total do câmbio", disse em entrevista à Folha.
Antonio Ermírio acha que a desvalorização cambial desta semana
vai ajudar o país a exportar mais e
a criar empregos.
"É muito duro ver esse pessoal
desempregado, andando pelas
ruas sem nenhum destino, numa
miséria terrível. Isso aqui está parecendo Bangladesh. O Brasil não é
Bangladesh. O Brasil tem competência para resolver seus problemas." A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Qual será o impacto da
desvalorização cambial desta semana nos custos das empresas e
nas exportações?
Antonio Ermírio de Moraes - Os
custos da indústria nacional vão
baixar, o que vai melhorar a competitividade das exportações. Vamos poder enfrentar melhor a concorrência.
Folha - A decisão do governo de
deixar a taxa de câmbio flutuar foi,
então, positiva?
Antonio Ermírio - O governo não
poderia ficar de braços cruzados
esperando o Brasil falir. Acredito
piamente que a prioridade brasileira é o emprego. A desvalorização vai incentivar as exportações.
Com o esperado aumento das exportações vamos, certamente, poder empregar mais. É muito duro
ver esse pessoal desempregado,
andando pelas ruas sem nenhum
destino, numa miséria terrível. Isso aqui está parecendo Bangladesh. O Brasil não é Bangladesh. O
Brasil tem competência para resolver seus problemas. Vamos dar a
volta por cima.
Folha - A liberdade cambial é o
caminho?
Antonio Ermírio - Não gostei
muito dessa liberdade do câmbio.
Folha - Por quê?
Antonio Ermírio - Porque vai ser
um deus-nos-acuda. Tem de controlar. Na minha opinião, a espiral
inflacionária voltaria com a liberdade total do câmbio. A política
cambial precisa de uma banda para colocar novamente ordem na
casa. Não somos disciplinados, somos latinos.
Folha - Como deve ser esse controle?
Antonio Ermírio - Nunca pedi
nem máxi nem midi. Peço microdesvalorizações mais rápidas dentro da banda cambial. No ano passado, o real sofreu uma desvalorização de 8%, com uma inflação
média de 2%.
Folha - O sr. acha, então, que o
governo deve manter a banda?
Antonio Ermírio - Acho que a
banda é necessária. Sou a favor da
banda, com as microdesvalorizações mais aceleradas do que no
ano passado. Talvez possamos fazer uma desvalorização de 15% ou
16% ao longo do ano. Se a inflação
for para 5% está bom demais.
Folha - A desvalorização desta
semana vai ter impacto inflacionário?
Antonio Ermírio - A Fipe está dizendo que sim. Mas a desvalorização vai aumentar os custos apenas
desse pessoal que importa tudo e
coloca a embalagem aqui no Brasil.
Mas os custos vão baixar para a
maioria das empresas que fabrica
com matéria-prima nacional. Vamos poder exportar mais. Essa é a
grande vantagem da desvalorização porque temos a obrigação de
empregar. Sinceramente, sinto-me
também culpado porque sou empresário. Devia estar empregando
e não despedindo. Mas, hoje, com
os custos de produção tão altos
quem não despedir vai quebrar.
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