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Cotações diferentes incentivaram fraude
DA REPORTAGEM LOCAL
A grande diferença entre as cotações do dólar comercial (livre) e
do flutuante (turismo), em vários
momentos dos anos 90, criou incentivos para que bancos e empresas realizassem operações
fraudulentas, que renderam lucros milionários.
A fraude clássica ocorria da seguinte forma: a instituição pedia
autorização ao Banco Central para trazer recursos ao país. O objetivo declarado era futuro investimento em empresa no Brasil
-operação conhecida como
Afac (Adiantamento para Futuro
Aumento de Capital).
O dinheiro entrava quando a
cotação do dólar comercial estava
mais alta que a do flutuante. Os
dólares vindos de fora eram, então, vendidos pela cotação mais
alta e, depois, convertidos em
reais.
Simultaneamente, os recursos
eram usados para recomprar dólares, mas dessa vez no mercado
flutuante, à taxa mais baixa, e deixavam novamente o país.
A instituição embolsava o lucro
-diferença entre o que ganhou
vendendo dólar a uma cotação
mais alta e recomprando a moeda
por taxa mais baixa.
Grupos importantes
Chase Manhattan (atual JP
Morgan), Garantia (atual CSFB),
Brahma (que hoje faz parte da
AmBev) e CCE (empresa de produtos eletrônicos) são exemplos
de grupos importantes que foram
autuados por terem cometido esse tipo de infração.
Documentos aos quais a Folha
teve acesso mostram que o JP
Morgan foi autuado em US$
11,055 milhões, por ter feito dez
operações irregulares no valor total de US$ 221 milhões. A multa,
nesses casos, é imposta com base
no lucro obtido com a operação
ilegal e supera o valor que a instituição ganhou de maneira irregular. Um ex-diretor do banco também foi multado em R$ 950 por
ter autorizado a transação.
Procurado pela Folha, o banco
disse que não comentaria o caso,
que está agora na Justiça.
Caso semelhante ocorreu com o
antigo banco Garantia. Segundo
Waldemir Messias, presidente do
Conselhinho, a instituição tem sido julgada em processos em que
fez esse tipo de operação para si
mesma e também por montar
transações semelhantes para outras empresas.
As multas mais recentes recebidas pelo CSFB, que comprou o
Garantia, depois de perder em
dois recursos apresentados ao
Conselhinho, foram de US$ 1,75
milhão e US$ 3 milhões, respectivamente.
O banco não concedeu entrevista, sob a alegação de que não tinha
quem comentasse o assunto.
Coincidências
A CCE também foi autuada por
esse tipo de operação em US$ 5
milhões pelo BC (multa reduzida
para US$ 2,5 milhões no Conselhinho). A operação ocorreu no
dia 27 de janeiro de 1992 e foi intermediada pelo Garantia. Procurada pela Folha, a CCE se limitou
a dizer que o processo corre agora
na Justiça.
Coincidência ou não, a Brahma
fez transação semelhante na mesma época-dia 22 de janeiro de
1992- e a operação também foi
intermediada pelo banco Garantia. Por meio de sua assessoria de
imprensa, a AmBev (grupo do
qual a antiga Brahma faz parte)
nega que tenha cometido irregularidades.
Arbitragem
Segundo analistas, era comum
que essas operações, chamadas de
arbitragem, ocorressem em datas
muito próximas. Eram os momentos em que o dólar flutuante
ficava bem mais barato que o comercial.
Hoje, há menos incentivo para
esse tipo de fraude, já que a diferença entre as duas cotações são
mais baixas. Mas, com a crise recente, o dólar flutuante tem ficado
em alguns momentos mais barato
que o comercial. Isso pode ter
criado incentivos para arbitragens irregulares.
(ÉRICA FRAGA e JOSÉ ALAN DIAS)
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