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ROBERTO RODRIGUES
Recessão americana e preços agrícolas
Os produtores aumentarão as áreas de plantio e, em poucos anos, o equilíbrio entre oferta e procura será restabelecido
OS PREÇOS agrícolas estão bem
mais altos em 2008 do que
na média dos últimos anos
(2004/2006), quando a crise brasileira no setor rural foi enorme.
Alguns economistas afirmam que
atingimos um novo patamar de preços das principais commodities
agrícolas, e há até noticiário na imprensa mundial dizendo que "acabou a comida barata". Não é primeira vez que se especula dessa maneira
sobre a variação dos preços.
Há um desequilíbrio entre a oferta
e a demanda de alimentos provocado por vários fatores: por um lado,
houve um espetacular crescimento
da demanda, determinado pelo aumento de renda dos consumidores
dos países em desenvolvimento; e,
por outro, a oferta caiu, seja porque
houve seca em várias regiões do planeta, desde a Austrália até a América
do Sul, passando pela Europa, seja
porque boa parte da safra americana
de milho foi desviada para a produção de álcool. O resultado disso é que
os estoques mundiais despencaram
e os preços subiram.
Em 1999/2000, os estoques de
milho eram de 192,9 milhões de toneladas e no ano passado caíram para 101 milhões; os de trigo, de 208,9
milhões de toneladas para 124,2 milhões, e os de arroz, de 145,1 milhões
de toneladas para 75,6 milhões.
Mas não dá para afirmar que temos um novo patamar de preços.
Bem remunerados, os produtores
aumentarão as áreas de plantio e,
em poucos anos, o equilíbrio entre
oferta e procura será restabelecido,
de modo que os preços deverão retornar os seus níveis naturais. No
máximo cairão menos.
O Brasil tem um papel determinante nesse rebalizamento de produção x consumo, pela grande capacidade de expansão da sua fronteira
agrícola. Dados recentes do Ministério da Agricultura informam que,
nos próximos dez anos, em nosso
país a produção de soja poderá crescer 30,9%, a de milho, 25,6%, a de
açúcar, 40,7%, a de arroz, 16,5%, a de
carne bovina, 31,5%, e a de carne de
frango, 46,8%. E isso permitiria ao
país exportar muito mais, gerando
empregos, renda e riqueza para os
brasileiros.
No entanto, tudo isso depende de
uma lição de casa ainda por terminar (logística, tecnologia, política de
renda etc.) e de três novos problemas.
O primeiro, bem imediato, é o aumento de custos de produção, basicamente de fertilizantes, que nos últimos 12 meses subiram 109% (média das variações de preço dos quatro principais fertilizantes); o segundo é a crise americana: se ela se
transformar em recessão e for profunda e extensa, acabará mudando
esse cenário.
Isso porque terá um efeito dominó sobre países da Europa e da Ásia,
que, além dos americanos, terão que
apertar os cintos. Isso alteraria a relação oferta x demanda, com retração dessa última. E, contrariando a
tese do "novo patamar", os alimentos teriam queda de preços.
Não obstante os fundamentos da
economia brasileira estarem firmes,
tal fato poderia determinar uma
perda de renda para nossos agricultores. Mas, para 2008, isso não deve
ser muito grave, porque boa parte da
safra já foi negociada. Se, todavia,
persistir a recessão e com os custos
de produção aumentando, pode piorar muito o quadro para 2009, com
novo descasamento da renda rural.
E o terceiro tem a ver com o embargo europeu à carne brasileira.
Uma demora na solução dessa questão terá efeitos negativos sobre toda
a cadeia produtiva, inclusive nos
preços dos grãos usados como alimento para o gado.
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do
Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
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