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Grécia e UE divergem sobre socorro
Deficit orçamentário grego de 12,7% ameaça contaminar a zona do euro e fragilizar a moeda comum
Líderes trocam farpas em
reunião do eurobloco, que
cobra plano drástico de
cortes enquanto a Grécia
exige definição sobre resgate
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A Grécia e os demais países
da União Europeia deram início ontem a um jogo de empurra, trocando acusações e exigências sobre como lidar com o
deficit de 12,7% no Orçamento
do país mediterrâneo e acalmar
os mercados. Combinadas, a dívida grega e a histeria dos investidores ameaçam contaminar o bloco e fragilizar o euro.
Após uma longa reunião entre os ministros das Finanças
dos 16 países que adotam o euro, o chamado eurogrupo exigiu que Atenas apresente um
plano mais drástico até 16 de
março para levar a cabo a promessa de cortar seu deficit em
dez pontos até 2013.
Em entrevista coletiva, o presidente do eurogrupo, Jean-Claude Juncker, citou "riscos"
ao cumprimento das metas. Os
mercados derrubaram os títulos gregos nas últimas semanas,
e analistas temem que o efeito
se estenda para outros países
europeus periféricos com a dívida inchada (Portugal, Espanha e Itália).
Exigir mais da Grécia é a alternativa que restou diante da
relutância dos países do bloco
em abrir os cofres. Especialmente ante a relutância do governo alemão, que enfrenta um
ambiente político doméstico
desfavorável e, nesse contexto,
teme se tornar o fiador universal dos vizinhos perdulários.
Um pacote de resgate nos
moldes tradicionais, bancado
pela UE como instituição, é vetado pelo estatuto do bloco.
Com tal cenário, as promessas feitas na semana passada
pelo premiê socialista George
Papandreou -cortar pensões e
comissões do funcionalismo e
reestruturar o sistema de previdência- foram vistas como
pouco pelos países do eurogrupo. É preciso subir impostos,
dita Bruxelas.
O pedido foi ressaltado ontem por Juncker e ecoado pelo
finlandês Olli Rehn, novo comissário da UE para Questões
Econômicas e Monetárias.
"A Comissão Europeia [órgão executivo da UE] trabalhará com o governo grego e o eurogrupo para monitorar a implementação dessas medidas",
afirmou, repetindo anúncio anterior e prometendo delinear
melhor as medidas para o país
no próximo trimestre.
Mas a Grécia reluta em aprofundar seu pacote de arrocho, e
analistas questionam não só a
vontade política mas também a
margem de manobra de Atenas
ante a pressão das ruas.
O teto das pensões na Grécia
mal supera 2.000 (cerca de
R$ 5.000), e o salário médio de
servidores gira em torno de
1.000. Sobretudo, o país sofre
com a evasão fiscal -sua arrecadação é a pior da UE.
Em discurso na manhã de
ontem, o ministro grego da
Economia, George Papaconstantinou, já repassou a responsabilidade de volta à UE.
"Meu palpite é que o que vai
fazer com que os mercados parem de atacar a Grécia neste
momento é uma mensagem
mais explícita [da UE], que torne operacional o que foi defendido na última quinta", disse.
Na ocasião, o bloco emitiu
comunicado dizendo que acorrerá, se necessário, para impedir a quebra da Grécia. Mas não
deixou claro quando ou como.
"Swap" cambial
Além da pressão dos seus pares, o governo grego ainda terá
que apresentar aos órgãos reguladores europeus detalhes
dos contratos de "swap cambial" (títulos que rendem a variação da moeda). Segundo
Atenas, esses contratos foram
usados para adiar o pagamento
de juros, o que pode ter colaborado para esconder o tamanho
da dívida pública grega.
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