São Paulo, terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

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Grécia e UE divergem sobre socorro

Deficit orçamentário grego de 12,7% ameaça contaminar a zona do euro e fragilizar a moeda comum

Líderes trocam farpas em reunião do eurobloco, que cobra plano drástico de cortes enquanto a Grécia exige definição sobre resgate


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A Grécia e os demais países da União Europeia deram início ontem a um jogo de empurra, trocando acusações e exigências sobre como lidar com o deficit de 12,7% no Orçamento do país mediterrâneo e acalmar os mercados. Combinadas, a dívida grega e a histeria dos investidores ameaçam contaminar o bloco e fragilizar o euro.
Após uma longa reunião entre os ministros das Finanças dos 16 países que adotam o euro, o chamado eurogrupo exigiu que Atenas apresente um plano mais drástico até 16 de março para levar a cabo a promessa de cortar seu deficit em dez pontos até 2013.
Em entrevista coletiva, o presidente do eurogrupo, Jean-Claude Juncker, citou "riscos" ao cumprimento das metas. Os mercados derrubaram os títulos gregos nas últimas semanas, e analistas temem que o efeito se estenda para outros países europeus periféricos com a dívida inchada (Portugal, Espanha e Itália).
Exigir mais da Grécia é a alternativa que restou diante da relutância dos países do bloco em abrir os cofres. Especialmente ante a relutância do governo alemão, que enfrenta um ambiente político doméstico desfavorável e, nesse contexto, teme se tornar o fiador universal dos vizinhos perdulários.
Um pacote de resgate nos moldes tradicionais, bancado pela UE como instituição, é vetado pelo estatuto do bloco.
Com tal cenário, as promessas feitas na semana passada pelo premiê socialista George Papandreou -cortar pensões e comissões do funcionalismo e reestruturar o sistema de previdência- foram vistas como pouco pelos países do eurogrupo. É preciso subir impostos, dita Bruxelas.
O pedido foi ressaltado ontem por Juncker e ecoado pelo finlandês Olli Rehn, novo comissário da UE para Questões Econômicas e Monetárias.
"A Comissão Europeia [órgão executivo da UE] trabalhará com o governo grego e o eurogrupo para monitorar a implementação dessas medidas", afirmou, repetindo anúncio anterior e prometendo delinear melhor as medidas para o país no próximo trimestre.
Mas a Grécia reluta em aprofundar seu pacote de arrocho, e analistas questionam não só a vontade política mas também a margem de manobra de Atenas ante a pressão das ruas.
O teto das pensões na Grécia mal supera 2.000 (cerca de R$ 5.000), e o salário médio de servidores gira em torno de 1.000. Sobretudo, o país sofre com a evasão fiscal -sua arrecadação é a pior da UE.
Em discurso na manhã de ontem, o ministro grego da Economia, George Papaconstantinou, já repassou a responsabilidade de volta à UE.
"Meu palpite é que o que vai fazer com que os mercados parem de atacar a Grécia neste momento é uma mensagem mais explícita [da UE], que torne operacional o que foi defendido na última quinta", disse.
Na ocasião, o bloco emitiu comunicado dizendo que acorrerá, se necessário, para impedir a quebra da Grécia. Mas não deixou claro quando ou como.

"Swap" cambial
Além da pressão dos seus pares, o governo grego ainda terá que apresentar aos órgãos reguladores europeus detalhes dos contratos de "swap cambial" (títulos que rendem a variação da moeda). Segundo Atenas, esses contratos foram usados para adiar o pagamento de juros, o que pode ter colaborado para esconder o tamanho da dívida pública grega.


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