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ANÁLISE
Como salvar os Piigs
NOURIEL ROUBINI
PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Os problemas fiscais da Grécia são, como argumentei muitas vezes, apenas a ponta do
iceberg mundial. Pois a próxima rodada da recente crise financeira global será o risco soberano ascendente, especialmente nas economias avançadas que operem com grandes
deficit orçamentários e acumulem dívida pública ampla, ao
socializar prejuízos financeiros
privados a fim de reanimar o
crescimento econômico.
De fato, a história sugere que
uma severa recessão e socialização de prejuízos privados
muitas vezes conduzem a um
acúmulo insustentável de dívida pública. Além disso, crises financeiras provocadas por dívidas excessivas no setor privado
costumam ser seguidas alguns
anos mais tarde por moratórias
nacionais e/ou alta inflação.
A Grécia também serve como
indicador de alerta para a zona
do euro, na qual todas as economias conhecidas como Piigs
(Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) sofrem o problema gêmeo da sustentabilidade
de dívidas públicas e da sustentabilidade da dívida externa. A
adesão ao euro e as "operações
de convergência" conduzidas
na alta das Bolsas levaram os
rendimentos dos títulos desses
países a se aproximar do oferecido pelos títulos da dívida pública alemã, e o boom de crédito
resultante sustentou um crescimento excessivo do consumo.
A maioria dessas economias
estava sofrendo de uma perda
de mercados de exportação
diante de concorrentes asiáticos cujos trabalhadores recebem salários mais baixos.
Na Espanha e na Irlanda, um
boom de habitação exacerbou
os desequilíbrios externos ao
reduzir a poupança nacional,
estimulando o consumo e o investimento residencial. E a valorização do euro nos últimos
anos serviu como golpe final
contra a competitividade.
Assim, restaurar a competitividade, e não apenas um ajuste
fiscal, é necessário para a retomada do crescimento sustentável. Existem apenas três maneiras de fazê-lo.
Uma década de deflação seria
uma resposta, mas isso seria
acompanhado por estagnação
econômica e, como aconteceu
na Argentina no começo da década, resultaria em situação política insustentável, conduzindo a uma desvalorização (ou seja, ao abandono do euro) e a
uma moratória.
Acelerar as reformas estruturais que estimulam a produtividade e manter sob controle
o crescimento dos salários no
setor privado e no setor público
é a abordagem correta, mas
igualmente difícil de implementar em termos políticos.
Ou um euro mais fraco poderia ser adotado, se o BCE se dispusesse a afrouxar a política
monetária ainda mais -o que
não é provável. No entanto, um
euro mais baixo não eliminaria
a necessidade de reformas estruturais nesses países.
Alternativa FMI
Um programa informal de
resgate ou um programa concreto do Fundo Monetário Internacional (FMI) poderia reforçar fortemente a credibilidade de uma política de reposicionamento fiscal e de reformas estruturais.
Se o programa for informal, a
Comissão Europeia imporia
condições fiscais e estruturais à
Grécia, enquanto a União Europeia e/ou o BCE ofereceria as
verbas, que seriam necessárias.
Os mercados continuarão céticos, especialmente se a implementação resultar em manifestações de rua, tumultos, greves
e manobras legislativas para
postergar as medidas. Até que a
credibilidade seja restabelecida, o risco de um ataque especulativo contra os títulos de dívida pública persistiria, dados
os deficit orçamentários e a necessidade de rolar dívidas.
Porque a União Europeia não
tem histórico no que tange a
impor condições e o financiamento pelo BCE seria percebido como uma forma de resgate,
um programa formal do FMI
seria a melhor abordagem. Os
programas de mais sucesso empreendidos diante de um risco
de crise de financiamento de
dívida pública e/ou externa foram aqueles como no México,
Turquia e Brasil.
Garantias de empréstimos
pela Alemanha e/ou União Europeia são menos desejáveis do
que um programa do FMI, porque é muito difícil desenvolver
e implementar de maneira confiável a condicionalidade dessas garantias. O apoio do FMI,
por outro lado, é desembolsado
em parcelas e condicionado à
realização de objetivos.
As autoridades gregas e a
União Europeia vinham negando até recentemente que houvesse necessidade de um pacote de empréstimos, devido à
preocupação de que isso pudesse ser visto como um sinal de
fraqueza. Trata-se de um erro
grave. Ajuste fiscal e reformas
sem verbas de apoio são mais
suscetíveis de fracasso.
Ao mesmo tempo, se a Grécia
não ajustar plenamente suas
políticas a fim de restaurar a
sustentabilidade fiscal e a competitividade, um resgate parcial
pela União Europeia e BCE
continua provável, a fim de evitar o risco de contágio no restante da zona do euro. Uma
moratória na Grécia, afinal, teria os mesmos efeitos mundiais
que o colapso do Lehman Brothers teve em 2008.
A União Europeia e o BCE estão preocupados com o risco
moral de qualquer "resgate".
Mas é exatamente por isso que
um programa confiável do
FMI, vinculando apoio financeiro à realização gradual de reformas estruturais e fiscais, seria o caminho certo para salvar
a Grécia e os demais Piigs.
NOURIEL ROUBINI é presidente da RGE Monitor ( www.rgemonitor.com ) e professor da Escola Stern de Administração de Empresas, na
Universidade de Nova York.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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