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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ECONOMIA BOMBARDEADA

Possibilidade de recuperação econômica da União Européia e do Japão tende a ser retardada

Ataque a Saddam aborta retomada dos ricos

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A eclosão de um ataque militar dos EUA ao Iraque tende a retardar a possibilidade de recuperação econômica da União Européia e do Japão.
Ainda que de curta duração, uma guerra elevaria os preços do petróleo e inibiria o estímulo ao consumo nessas economias. As afirmações partem de analistas ouvidos pela Folha. Eles ressaltam, entretanto, que os problemas internos dessas economias são os principais fatores de limitação econômica.
As perspectivas mais otimistas para a UE prevêem um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2% em 2003. Mas governos do próprio bloco estimam que o ano terminará com expansão de no máximo 1,5%.
As razões para o desânimo residem no desempenho pífio -0,2% de crescimento no ano passado- do carro-chefe da zona do euro: a Alemanha. A esse fato, soma-se o agravante que o comércio exterior da região, que poderia ser a via mais rápida para sair da estagnação, também não vai bem. Com a permanência do euro forte em relação ao dólar, os produtos europeus tornam-se mais caros e, por isso, menos atraentes para o mercado internacional.
Jean-Paul Betbeze, diretor de estudos econômicos e financeiros do Crédit Lyonnais, em Paris, afirma que não há possibilidade de retomada do crescimento da economia da UE no curto prazo. Na sua avaliação, para reanimar a economia alemã e criar espaço para a geração de empregos, a rigidez das leis trabalhistas e previdenciárias terão que ser revistas com urgência.
A intenção de adotar essa receita amarga já foi anunciada pelo chanceler alemão Gerhard Schröder ao Parlamento na última sexta-feira. A proposta de reformas inclui redução da duração de seguro-desemprego e flexibilização de contratos de trabalho.
Para o Japão, que há dez anos patina na estagnação, as estimativas de crescimento do PIB variam de 0% a 1,3% para este ano. Os bancos japoneses continuam descapitalizados, o que impossibilita a expansão da oferta de crédito para as empresas. Esse descompasso termina por perpetuar a estagnação japonesa.

Exuberância americana?
A previsão de crescimento para a economia americana em 2003 varia de 2,3% - para a Economist Intelligence Unit- a 3,1% -para a consultoria norte-americana Global Insight.
"Tudo indica que as empresas americanas vão voltar a investir no segundo semestre. Apesar da queda recente no índice de confiança dos consumidores, não houve uma redução significativa do consumo. Além disso, parceiros importantes dos EUA, como a Ásia e o Canadá, têm bons índices de crescimento", afirma Farid Abolfathi, diretor do departamento de previsões econômicas da Global Insight. Para Abolfathi, essas previsões continuam válidas num cenário de uma vitória rápida (até dois meses) dos EUA contra o Iraque.
Um quadro otimista para a economia americana também é traçado pelo economista do Crédit Lyonnais. Para ele, a baixa taxa de juros praticada pelos EUA (1,25% ao ano) e a capacidade elevada de retomada da atividade industrial no país são os pilares do crescimento americano. No entanto o economista alerta para algumas fragilidades.
"O mercado acionário está debilitado. Também não pode ser descartado que, no caso de uma guerra longa, uma possível disparada da cotação do petróleo pode levar o país a entrar em recessão ", afirma Betbeze.
Um olhar ainda mais cético para a recuperação americana é defendido pelo professor Antonio Manfredini, da Fundação Getúlio Vargas. Para ele, os indicadores positivos da economia doméstica, como baixa taxa de juros, ainda são instáveis diante de uma ameaça de conflito com o Iraque. "A guerra seria pequena demais para impulsionar um crescimento sustentado, mas seria grande o suficiente para afetar um dos principais insumos da economia dos EUA: o petróleo."
Já os países emergentes da Ásia devem apresentar crescimento na ordem de 6%. "Esses países estão afastados do foco das tensões. Além disso, têm um alto grau de dinamismo", diz Evaldo Alves, também da FGV.


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