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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ECONOMIA BOMBARDEADA

Para analista norte-americano, vitória detonaria onda de otimismo e impulsionaria PIB

Guerra rápida empurraria economia dos EUA

Jean-Marc Bouju - 14.fev.03/ Associated Press
Americano prova máscara de gás coreana em Los Angeles


DA REPORTAGEM LOCAL

O cânone clássico, que associa guerra à expansão econômica de um país, é uma das peças centrais da argumentação do economista Nariman Behravesh, 54, para sustentar a sua previsão de crescimento de 3,1% do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos neste ano.
Para o economista-chefe da consultoria norte-americana Global Insight, uma das mais conceituadas do mercado, uma guerra seguida por uma vitória rápida do exército norte-americano seria capaz de produzir um boom no índice de confiança dos consumidores e das empresas. Na sequência, as economias mundiais terminariam por crescer na esteira dos impactos positivos da aceleração da economia dos Estados Unidos.
Behravesh sustenta que mesmo as fragilidades da economia dos EUA não seriam obstáculos significativos para a retomada do crescimento. "A principal fraqueza da economia americana reside no déficit das transações correntes [hoje, cerca de 5% do PIB]." Mas, segundo ele, isso só representaria uma ameaça maior se as demais economias estivessem crescendo muito mais rápido que os EUA.
"A desvalorização do dólar diante do euro já será suficiente para ajustar as nossas contas no curto e no médio prazos", avalia.
Entretanto o economista não descarta a possibilidade de a guerra se arrastar por meses e infligir uma dura recessão aos EUA e dragar o restante das economias mundiais.
A seguir a entrevista concedida por telefone à Folha. (CC)

Folha - Diante dos indicadores de estagnação nas economias da União Européia e do Japão e de perspectivas de guerra, podemos dizer que o mundo está às portas de uma recessão?
Nariman Behravesh -
Há muitas definições para recessão. Em termos globais, podemos afirmar que há recessão quando a média de crescimento global fica abaixo de 2% no ano, já que é muito raro ter crescimento em escala mundial negativo. Esse é exatamente o quadro que vemos nos últimos dois anos.
Em 2001, o mundo cresceu 1,2%. Em 2002, 1,8%. A tendência para este ano, porém, é que a economia mundial comece a melhorar um pouco, especialmente a partir do segundo semestre. O ano deve fechar com expansão de 2,5% na economia mundial.

Folha - Que economias vão liderar esse crescimento?
Behravesh -
Os Estados Unidos vão ser um dos principais atores da retomada do crescimento global. Sob uma ótica mais moderada, a economia norte-americana deve beirar um crescimento do PIB da ordem de 3% neste ano. Porém há um potencial para atingir 4% ainda neste ano.
A outra região de destaque são os países emergentes da Ásia, que devem crescer 6%. China e Coréia do Sul deverão apresentar crescimento na faixa de 6% e 8% no PIB.

Folha - Como a economia americana vai conseguir dar essa guinada, se entre os consumidores paira um pessimismo e o índice de confiança na economia continua caindo?
Behravesh -
A economia americana passa por um momento onde há uma abundância de estímulos. Nossa política monetária, com uma taxa de juros de 0,75%, proporciona uma expansão do crescimento. Além disso, a intenção do governo de empreender cortes de impostos também coopera para esse ambiente favorável. O crescente enfraquecimento do dólar diante do euro é outro fator de estímulo.
Com relação à confiança do consumidor, o índice está baixo mais por causa das incertezas relativas à guerra do que devido à desconfiança dos americanos a respeito dos fundamentos da economia. No momento, é a instabilidade sobre como e quando um conflito contra o Iraque se desenvolverá que trava o desempenho dos EUA.

Folha - O senhor citou o dólar mais fraco como um fator de estímulo. No entanto, no longo prazo, essa situação não pode ser prejudicial para os EUA?
Behravesh -
Em 2002, a moeda perdeu cerca de 9% do seu valor e a tendência é que essa queda continue neste ano. No curto prazo, uma depreciação gradual do dólar ajudaria os EUA a ajustarem o seu déficit na balança comercial. Nos últimos anos, o dólar forte danificou as exportações. Porém, se a queda for muito brusca, a inflação tenderia a disparar, e o Federal Reserve [o banco central dos EUA" seria obrigado a elevar a taxa de juros. Uma derrocada do dólar também poderia minar as exportações européias e japonesas, o que agravaria a estagnação econômica desses países.

Folha - O quadro de expansão econômica projetado pelo senhor leva em consideração a entrada dos EUA numa guerra contra o Iraque? Qual seria o melhor cenário no caso de um conflito?
Behravesh -
Sim. Na nossa avaliação, uma guerra contra o Iraque é altamente provável. O cenário mais favorável seria uma guerra similar à Guerra do Golfo ou aos conflitos na Bósnia. Os americanos teriam uma vitória rápida em um ou dois meses. Isso levaria a um boom no mercado financeiro e no grau de confiança da população e das empresas. Em seguida, veríamos a queda acentuada do preço do petróleo. Os gastos em material bélico também serviriam para aquecer a economia neste ano. Estimamos que no período após a guerra o barril possa recuar para US$ 20 e gradualmente se fixar em US$ 25. Durante o conflito, o preço do barril deve oscilar entre US$ 35 e US$ 40. Para mim, esse cenário tem uma probabilidade de 60%.

Folha - E qual o pior cenário?
Behravesh -
Um cenário de uma guerra prolongada tem 20% de probabilidade das nossas estimativas. Um cenário ruim seria uma guerra que se estendesse pelos países vizinhos ao Iraque, como Arábia Saudita e Kuait, com destruição de campos de petróleo. Nesse contexto, o preço do barril poderia chegar a US$ 60 ou até mesmo US$ 70. Isso levaria os EUA a entrarem numa grande recessão, que arrastaria as economias mundiais e agravar a situação da já combalida economia japonesa e impedir a retomada do crescimento na Europa.


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