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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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LIBERALISMO REVISITADO

Livro defende papel do Estado

Governo brasileiro tem que fomentar mercado, diz nova geração de Chicago

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O governo não se parece com a besta-fera dos mercados. Ele é até benéfico. Na verdade, necessário.
Chicago, a meca do pensamento a favor dos mercados livres, respira ares diferentes. O raciocínio acima é de um livro recém-chegado às prateleiras nos EUA que desenha uma nova geração na universidade que consagrou Milton Friedman.
Chama-se "Saving Capitalism from the Capitalists" (Salvando o Capitalismo dos Capitalistas, ainda em negociação para ser publicado no Brasil), de Raghuram Rajan e Luigi Zingales. O livro defende, sim, o mercado, "a melhor maneira de organizar a produção que o ser humano encontrou".
É o radicalismo que combate. O ponto central: sem o governo, o mercado é tomado pelas elites de cada país e se torna ineficiente para alavancar e distribuir a riqueza.
"O mercado precisa de uma substancial infra-estrutura para suportá-lo. Essas instituições são limitadas quando os poderosos vêem o mercado como ameaçador para seu poder. Eles se preocupam com os mercados livres porque esses tratam as pessoas igualmente", diz o livro.
O problema, dizem, é que o governo nas democracias modernas está quase sempre ligado às elites, bloqueando o passo adiante.
A Folha propôs a Rajan, diretor da American Finance Association, que explicasse seus conceitos à luz do governo brasileiro.
"A luta de Lula contra as elites será interessante", diz o autor. "A revolução aconteceu quando Lula chegou ao poder. Ser favorável ao mercado significa melhorar sua infra-estrutura, que vai criar o tumulto que desbancará a elite. Não é preciso afastar os investidores estrangeiros. O que o governo tem que focar agora é maçante (criar leis, pôr em ordem sua contabilidade etc.), mas pagará longos dividendos no futuro", afirma.
"Em alguma extensão, as altas taxas de juros são sintoma do fato de que nenhum grupo quer largar seus benefícios", aponta.
Mas não seria estranho esperar que fosse justamente um presidente de origem esquerdista o fomentador dos mercados? "Foi um socialista [François Mitterrand" quem trouxe a França para a era dos mercados livres."


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