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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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Quebradeira faz setor financeiro se retrair

DA SUCURSAL DO RIO

Apesar dos lucros extraordinários auferidos pelos bancos nos últimos anos, o PIB (Produto Interno Bruto) das instituições financeiras caiu 0,52% na média anual de 1992 a 2002. No período, o indicador acumulou uma retração de 5,75%.
Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da consultoria especializada em bancos Austin Asis, o fraco desempenho foi resultado da quebra de muitas instituições no início do Real e do fato de elas terem deixado de ganhar o "dinheiro fácil" da época da inflação galopante.
No período de disparada dos índices de preços, as instituições captavam a custo zero com os recursos que os clientes mantinham nas contas correntes e ganhavam aplicando esse dinheiro no overnight -operação de curtíssimo prazo que existia na época.
No ano passado, segundo dados do Banco Central, os bancos brasileiros lucraram R$ 19,1 bilhões, o que representou um crescimento de 62,5% na comparação com 2001. O aumento foi impulsionado pela alta dos juros e seu impacto positivo sobre a carteira de títulos públicos dos bancos.

PIB sem títulos
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), porém, o PIB dos bancos não reflete o real ganho do setor. É que o cálculo não contabiliza quanto as instituições lucram com os títulos que mantêm em tesouraria -a maior parte deles remunerada pela taxa de juros, que, nos últimos anos, foi elevada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) em diversas ocasiões.
Na contabilização do PIB dos bancos, só são computadas as receitas provenientes das tarifas cobradas pelos serviços (talão de cheque, transferências, cartões etc.) e o "spread" -diferença entre a taxa de juro com que o banco capta recursos e a com que ele empresta ao tomador de crédito. No ano passado, essa diferença ficou pouco abaixo de 60%.
De 1992 a 2002, o PIB das instituições financeiras recuou em cinco anos. Teve quedas seguidas de 1992 a 1995 -naquele ano, houve um tombo recorde de 8,09%. No ano seguinte, começou a crescer, mas voltou a recuar em 1998 (1,23%), ano no qual o setor foi afetado pelas crises financeiras da Rússia e dos países asiáticos.

Participação menor
Com a contínua retração de seus resultados em relação à economia nacional e o fim do ganho extraordinário decorrente da hiperinflação, o segmento foi perdendo gradativamente importância no cálculo do PIB geral.
Em 1992, as instituições financeiras representavam 25,49% do PIB. O percentual chegou a 32,76% em 1993. Desde então, só caiu, atingindo 6,58% em 2001 (último dado disponível).
Para Rodrigues, da Austin Asis, com a estabilidade da moeda os bancos tiveram de buscar novas receitas com a prestação de serviços e profissionalizar a gestão.
Os ganhos obtidos antes com a hiperinflação, afirma ele, mascaravam deficiências administrativas de muitas instituições.
(PEDRO SOARES)


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