São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMEAÇA EMERGENTE

JP Morgan rebaixa recomendação e precipita venda generalizada de papéis brasileiros; Bolsa cai e dólar sobe

Risco Brasil tem a maior alta em 17 meses

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira deu ontem mostras do quanto ainda é vulnerável. A decisão isolada do banco JP Morgan de rebaixar a recomendação para os títulos da dívida do país foi suficiente para causar um estrago no mercado: o risco Brasil disparou, a Bolsa caiu e o dólar fechou em alta.
O risco brasileiro subiu 11%, para os 618 pontos, maior patamar atingido pelo indicador desde outubro de 2003. Em termos percentuais, foi a maior alta desde novembro de 2002, logo após as eleições presidenciais.
A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o dia com queda de 2,57% e voltou a ficar no vermelho no acumulado do ano. O dólar foi negociado em alta durante todo o dia. No fim dos negócios, a moeda norte-americana foi vendida a R$ 2,918, com alta de 1,07%.
No mercado internacional, a venda de títulos da dívida brasileira foi intensa. Os C-Bonds, papéis brasileiros mais negociados no exterior, encerraram com o menor valor desde outubro de 2003, caindo 2,4%, para US$ 0,9338.
Em nota divulgada ontem, o JP Morgan recomendou a investidores que reduzam a proporção de suas aplicações em títulos brasileiros. Antes, a instituição sugeria que fossem feitas no país aplicações acima das realizadas na média das economias emergentes. Agora, o banco recomenda que as aplicações sejam reduzidas para o nível médio dos demais países.
Segundo analistas e um economista do próprio JP Morgan, a nota divulgada pelo banco na manhã de ontem veio num cenário que já estava se tornando negativo para os emergentes, especialmente o Brasil.
"A nossa nota acabou catalisando incertezas que já existiam", disse Fábio Akira, economista do JP Morgan no Brasil.

Desempenho fiscal
Para justificar a baixa da recomendação dos papéis brasileiros, o banco americano aponta a piora do cenário externo e preocupações com o desempenho fiscal do país e com incertezas em relação ao crescimento da economia.
O banco também lembra que o governo brasileiro, de acordo com cronograma divulgado em 2003, ainda precisa captar US$ 2,5 bilhões neste ano.
O próprio mercado vinha avaliando que tanto essa captação como o programa de recomposição de reservas internacionais do país se tornaram mais difíceis com a eclosão da crise política, há dois meses, e com a crescente perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos ainda neste ano, antes mesmo das eleições presidenciais americanas, em novembro.
Juros mais altos nos EUA e risco-país maior significarão custos mais elevados para a rolagem das dívidas pública e privada e também para a realização de novas captações, tanto pelo governo como por empresas.
O movimento de captação externa por empresas brasileiras ensaiou uma recuperação há duas semanas depois de dois meses de paralisia e, agora, segundo analistas, pode ser freado novamente.
"Esse mau cenário ainda vai seguir por algum tempo. Captar recursos no exterior deve se tornar mais difícil nesse momento, uma notícia ruim para empresas e para o próprio governo", diz Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital Management.
Para Paulo Gomes, da consultoria Global Invest, o encolhimento das reservas internacionais do país ocorre num momento bastante delicado. De acordo com relatório divulgado pela consultoria, as reservas líquidas do país, segundo critério acertado com o Fundo Monetário Internacional, estariam em US$ 21,3 bilhões.
O problema é que, com o pagamento de US$ 5,1 bilhões que o governo brasileiro terá de fazer neste mês para quitar parte do principal e dos juros de papéis da dívida, as reservas cairão para US$ 16,1 bilhões, menor patamar desde setembro de 2003, de acordo com o relatório.
Ontem, o governo já desembolsou US$ 4,8 bilhões, o que também contribuiu para a deterioração dos indicadores do mercado financeiro do país.

Emergentes
Na quarta-feira, o risco dos emergentes (com destaque negativo para o Brasil) já havia subido com força, devido ao aumento da perspectiva de elevação dos juros norte-americanos.
Com os títulos dos EUA, que são mais seguros, dando retornos melhores, quem sofre são os emergentes. A tendência, nesses casos, é os investidores trocarem títulos de emergentes por papéis norte-americanos.
Por isso, houve uma nova rodada de alta do risco dos emergentes. O risco da Rússia subiu 4,1% e o da Turquia registrou alta de 5,25%. Já o Embi+, índice calculado pelo JP Morgan que indica a média do risco de 19 emergentes, subiu 4,5%.
Apesar da recente piora das perspectivas do mercado em relação ao Brasil, o ABN Amro manteve a recomendação para investimentos no Brasil acima da média do mercado.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Agências mantêm a classificação do país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.