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AMEAÇA EMERGENTE
JP Morgan rebaixa recomendação e precipita venda generalizada de papéis brasileiros; Bolsa cai e dólar sobe
Risco Brasil tem a maior alta em 17 meses
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira deu ontem mostras do quanto ainda é
vulnerável. A decisão isolada do
banco JP Morgan de rebaixar a recomendação para os títulos da dívida do país foi suficiente para
causar um estrago no mercado: o
risco Brasil disparou, a Bolsa caiu
e o dólar fechou em alta.
O risco brasileiro subiu 11%, para os 618 pontos, maior patamar
atingido pelo indicador desde outubro de 2003. Em termos percentuais, foi a maior alta desde novembro de 2002, logo após as eleições presidenciais.
A Bolsa de Valores de São Paulo
encerrou o dia com queda de
2,57% e voltou a ficar no vermelho no acumulado do ano. O dólar
foi negociado em alta durante todo o dia. No fim dos negócios, a
moeda norte-americana foi vendida a R$ 2,918, com alta de 1,07%.
No mercado internacional, a
venda de títulos da dívida brasileira foi intensa. Os C-Bonds, papéis
brasileiros mais negociados no
exterior, encerraram com o menor valor desde outubro de 2003,
caindo 2,4%, para US$ 0,9338.
Em nota divulgada ontem, o JP
Morgan recomendou a investidores que reduzam a proporção de
suas aplicações em títulos brasileiros. Antes, a instituição sugeria
que fossem feitas no país aplicações acima das realizadas na média das economias emergentes.
Agora, o banco recomenda
que as aplicações sejam reduzidas para o nível médio dos demais países.
Segundo analistas
e um economista do próprio JP
Morgan, a nota divulgada pelo
banco na manhã de ontem veio
num cenário que já estava se tornando negativo para os emergentes, especialmente o Brasil.
"A nossa nota acabou catalisando incertezas que já existiam",
disse Fábio Akira, economista do
JP Morgan no Brasil.
Desempenho fiscal
Para justificar a baixa da recomendação dos papéis brasileiros,
o banco americano aponta a piora
do cenário externo e preocupações com o desempenho fiscal do
país e com incertezas em relação
ao crescimento da economia.
O banco também lembra que o
governo brasileiro, de acordo
com cronograma divulgado em
2003, ainda precisa captar US$ 2,5
bilhões neste ano.
O próprio mercado vinha avaliando que tanto essa captação como o programa de recomposição
de reservas internacionais do país
se tornaram mais difíceis com a
eclosão da crise política, há dois
meses, e com a crescente perspectiva de alta de juros nos Estados
Unidos ainda neste ano, antes
mesmo das eleições presidenciais
americanas, em novembro.
Juros mais altos nos EUA e risco-país maior significarão custos
mais elevados para a rolagem das
dívidas pública e privada e também para a realização de novas
captações, tanto pelo governo como por empresas.
O movimento de captação externa por empresas brasileiras ensaiou uma recuperação há duas
semanas depois de dois meses de
paralisia e, agora, segundo analistas, pode ser freado novamente.
"Esse mau cenário ainda vai seguir por algum tempo. Captar recursos no exterior deve se tornar
mais difícil nesse momento, uma
notícia ruim para empresas e para
o próprio governo", diz Alexandre Sant'Anna, economista da
ARX Capital Management.
Para Paulo Gomes, da consultoria Global Invest, o encolhimento
das reservas internacionais do
país ocorre num momento bastante delicado. De acordo
com relatório divulgado
pela consultoria, as reservas líquidas do país, segundo critério acertado
com o Fundo Monetário
Internacional, estariam em US$
21,3 bilhões.
O problema é que, com o pagamento de US$ 5,1 bilhões que o
governo brasileiro terá de fazer
neste mês para quitar parte do
principal e dos juros de papéis da
dívida, as reservas cairão para
US$ 16,1 bilhões, menor patamar
desde setembro de 2003, de acordo com o relatório.
Ontem, o governo já desembolsou US$ 4,8 bilhões, o que também contribuiu para a deterioração dos indicadores do mercado
financeiro do país.
Emergentes
Na quarta-feira, o risco dos
emergentes (com destaque negativo para o Brasil) já havia subido
com força, devido ao aumento da
perspectiva de elevação dos juros
norte-americanos.
Com os títulos dos EUA, que
são mais seguros, dando retornos
melhores, quem sofre são os
emergentes. A tendência, nesses
casos, é os investidores trocarem
títulos de emergentes por papéis
norte-americanos.
Por isso, houve uma nova rodada de alta do risco dos emergentes. O risco da Rússia subiu 4,1% e
o da Turquia registrou alta de
5,25%. Já o Embi+, índice calculado pelo JP Morgan que indica a
média do risco de 19 emergentes,
subiu 4,5%.
Apesar da recente piora das
perspectivas do mercado em relação ao Brasil, o ABN Amro manteve a recomendação para investimentos no Brasil acima da média
do mercado.
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