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Ministro afirma que avaliação do JP Morgan é "superficial"
Governo recua e adia nova fórmula para meta fiscal
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo desistiu de estabelecer uma flutuação para o superávit primário (economia de gastos
para pagar juros) a partir de 2005,
como havia anunciado no ano
passado. Segundo o ministro Guido Mantega (Planejamento), a
mudança poderia gerar dúvidas
no mercado financeiro.
A possibilidade de adoção do
mecanismo anticíclico foi citada
como um dos motivos do banco
JP Morgan para rebaixar a recomendação de investimento em títulos brasileiros.
"Não há metodologia precisa
que possa ser adotada sem dar sinalização ambígua para a sociedade e o mercado", disse Mantega, ao divulgar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2005, a
ser enviada hoje ao Congresso.
A LDO fixa os parâmetros que o
governo federal deve observar na
elaboração de lei orçamentária do
próximo ano, que só será enviada
em agosto ao Congresso.
O mecanismo anticíclico que
seria adotado faria com que o superávit de 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto), fixado para este e
para os próximos anos, flutuasse
para cima ou para baixo conforme o crescimento econômico.
Ao justificar o adiamento da
medida, Mantega explicou que o
governo não quer fazer um superávit maior. Mas isso só aconteceria em 2005 se o PIB crescesse
mais de 4%, que é a meta da LDO.
Antes de divulgar a LDO, o ministro havia falado sobre o relatório do JP Morgan. Segundo Mantega, a avaliação do banco e o nervosismo do mercado financeiro
ontem podem ter sido causados
por "avaliações superficiais" das
contas públicas e por "movimentos especulativos".
Nos bastidores, porém, membros do governo reconhecem que
a decisão do banco foi influenciada por uma série de questionamentos à política econômica, como pedidos de mudanças feitos
pelos próprios aliados do governo
e o PT, mais os problemas deste
mês (discussão sobre reajuste do
salário mínimo e reivindicações
salariais dos servidores públicos).
Mantega explicou que parte dos
reajustes que o governo concedeu
ao funcionalismo público, de até
32,27%, já tinha receitas garantidas no Orçamento. "As despesas
adicionadas ao Orçamento são
frutos do excesso de arrecadação.
Não há nenhuma possibilidade de
não cumprirmos a meta fiscal
deste ano", disse.
Sobre o novo salário mínimo, o
ministro disse que já existem R$
3,8 bilhões no Orçamento de 2004
para o reajuste deste ano. Mantega afirmou que as empresas estatais tiveram um resultado deficitário no início do ano, mas que o
governo já esperava por isso. "No
segundo semestre, elas cumprirão a meta. Se não cumprirem, terão que se explicar com o Tribunal de Contas [da União]."
Os gastos das empresas federais
com investimentos e distribuição
de dividendos reduziram o superávit no primeiro bimestre deste
ano, que fechou em R$ 10,246 bilhões (3,98% do PIB).
A equipe econômica evitou fazer comentários sobre a decisão
do JP Morgan. Procurados pela
Folha, o Banco Central e os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento informaram que não
iriam se pronunciar.
Detalhes
Mantega disse que a LDO traz a
meta de inflação definida pelo
Conselho Monetário Nacional, de
4,5% para 2005. Além disso, projeta uma taxa de juros básica de
11,7% ao ano para o final de 2005 e
crescimento de 9% na arrecadação de tributos.
A LDO também traz a meta de
conceder a bolsa-família a 8,5 milhões de famílias em 2005. Em
2004, a meta é de 4,5 milhões. Para
a reforma agrária, será repetida a
meta deste ano: assentar 115 mil
famílias. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deverá ficar em 5,67% neste ano.
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