São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Pressão política preocupa, diz Leme

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma possível alta de juros nos Estados Unidos provocará saídas de recursos de mercados considerados arriscados, como os países emergentes. Nesse contexto, tendem a ser mais prejudicados países com fragilidades em seus fundamentos. O Brasil é um deles.
A opinião é do economista Paulo Leme, diretor do Goldman Sachs, em Nova York. Segundo Leme, no entanto, o banco acredita, ao contrário de boa parte do mercado, que o ciclo de alta de juros norte-americanos só deverá começar em 2005.
Ainda assim, diz ele, a reação de ontem do mercado deverá servir de alerta ao país do que virá pela frente. Na opinião de Leme, o governo deveria se dedicar a promover reformas que levem a uma maior integração do país ao comércio exterior e a uma melhor situação fiscal.
(ÉRICA FRAGA)

 

Folha - A expectativa de alta dos juros nos EUA explica a mudança de humor do mercado em relação a países emergentes?
Paulo Leme -
Sem dúvida, a preocupação com uma antecipação de aperto da política monetária nos EUA é o fator realmente determinante do momento. Como é natural nesses momentos, os mercados de maior risco, como os países emergentes, tendem a ser mais afetados. Os investidores começam a vender ativos desses mercados devido ao aumento natural de aversão a risco.
Nesse contexto, quanto mais otimista é a perspectiva em relação a determinado país, menos ele tende a sofrer restrições de crédito. O contrário vale para países com fundamentos mais frágeis.

Folha - E qual é a situação do Brasil nesse contexto?
Leme -
O Brasil apresenta duas fragilidades mais sérias. Em primeiro lugar, o país exibe uma sensibilidade forte ao ciclo de atividade americana devido à alta necessidade de rolagem dos setores público e privado brasileiros em 2004. Um aperto monetário nos EUA pode dificultar essa rolagem.
Além disso, começa a haver um aumento de preocupação no mercado em relação a duas principais conseqüências da recente crise política: uma letargia em relação às reformas e um aumento do custo político que tem se concretizado via pressões para que o governo aumente suas despesas.

Folha - Isso poderá levar a um aumento das preocupações quanto à retomada econômica?
Leme -
O mercado está preocupado com a intensidade e o ritmo da retomada de investimentos.
Quanto mais tarde e quanto mais efêmera seja a recuperação da economia brasileira, as pressões políticas por mudanças na política econômica tendem a aumentar.


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