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Pressão política preocupa, diz Leme
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma possível alta de juros nos
Estados Unidos provocará saídas
de recursos de mercados considerados arriscados, como os países
emergentes. Nesse contexto, tendem a ser mais prejudicados países com fragilidades em seus fundamentos. O Brasil é um deles.
A opinião é do economista Paulo Leme, diretor do Goldman
Sachs, em Nova York. Segundo
Leme, no entanto, o banco acredita, ao contrário de boa parte do
mercado, que o ciclo de alta de juros norte-americanos só deverá
começar em 2005.
Ainda assim, diz ele, a reação de
ontem do mercado deverá servir
de alerta ao país do que virá pela
frente. Na opinião de Leme, o governo deveria se dedicar a promover reformas que levem a uma
maior integração do país ao comércio exterior e a uma melhor
situação fiscal.
(ÉRICA FRAGA)
Folha - A expectativa de alta dos
juros nos EUA explica a mudança
de humor do mercado em relação a
países emergentes?
Paulo Leme - Sem dúvida, a
preocupação com uma antecipação de aperto da política monetária nos EUA é o fator realmente
determinante do momento. Como é natural nesses momentos,
os mercados de maior risco, como os países emergentes, tendem
a ser mais afetados. Os investidores começam a vender ativos desses mercados devido ao aumento
natural de aversão a risco.
Nesse contexto, quanto mais
otimista é a perspectiva em relação a determinado país, menos
ele tende a sofrer restrições de crédito. O contrário vale para países
com fundamentos mais frágeis.
Folha - E qual é a situação do Brasil nesse contexto?
Leme - O Brasil apresenta duas
fragilidades mais sérias. Em primeiro lugar, o país exibe uma sensibilidade forte ao ciclo de atividade americana devido à alta necessidade de rolagem dos setores público e privado brasileiros em
2004. Um aperto monetário nos
EUA pode dificultar essa rolagem.
Além disso, começa a haver um
aumento de preocupação no mercado em relação a duas principais
conseqüências da recente crise
política: uma letargia em relação
às reformas e um aumento do
custo político que tem se concretizado via pressões para que o governo aumente suas despesas.
Folha - Isso poderá levar a um aumento das preocupações quanto à
retomada econômica?
Leme - O mercado está preocupado com a intensidade e o ritmo
da retomada de investimentos.
Quanto mais tarde e quanto
mais efêmera seja a recuperação
da economia brasileira, as pressões políticas por mudanças na
política econômica tendem a aumentar.
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