São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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CONCORRÊNCIA

Multinacional propõe reduzir participação no mercado e vender linhas de produção; Cade ainda avaliará o pedido

Nestlé desiste de marcas para manter Garoto

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Nestlé apresentou ontem ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) um plano para vender 10% da participação que a multinacional suíça e a empresa brasileira Garoto têm no mercado de chocolates. A proposta inclui também um desinvestimento de 20% no mercado de coberturas de chocolate.
O plano faz parte do pedido de reapreciação que a Nestlé encaminhou ao Cade na tentativa de inverter a decisão do tribunal da concorrência que, no início de fevereiro, vetou a compra da Garoto pela multinacional. O Cade irá analisar o pedido.
"O nosso plano é um conjunto de medidas consistentes. Procuramos atender todos os elementos levantados pelo Cade no julgamento da operação. No momento, esperamos encontrar uma saída dentro dessa solução", disse o diretor corporativo da Nestlé, Carlos Alberto Faccina, que não descartou a possibilidade de a empresa recorrer à Justiça, caso o Cade não altere a decisão de veto.
Pela proposta apresentada ontem, a Nestlé venderia um conjunto de marcas próprias e da Garoto, desfazendo-se de 10% do mercado de chocolates em barras, tabletes, bombons, caixas mistas e ovos de Páscoa. As marcas estão sendo mantidas sob sigilo por motivos estratégicos. "São marcas nacionais com mais de 20, até 40 anos, de tradição", limitou-se a dizer o gerente do segmento de chocolates da Nestlé, Leo Leiman.
Na operação, também entraria a venda das linhas de produção dessas marcas -com capacidade para produção de 26 mil toneladas por ano-, além das fórmulas e da garantia de acesso a "recursos humanos especializados". A Nestlé também se propõe a realizar uma transição: fabricaria os produtos por encomenda até que o comprador entrasse em operação efetivamente.
No caso das coberturas de chocolate sólidas e líquidas, a proposta é vender uma das duas marcas (Garoto ou Nestlé), voltando à situação existente antes da fusão entre as duas empresas. O pacote também inclui a linha de fabricação, o know-how, a carteira de clientes e uma fase de transição.
Segundo o consultor da Nestlé Luciano Coutinho, a multinacional já recebeu várias manifestações de interesse na compra das marcas. Nos estudos de viabilidade econômico-financeira apresentados por ele, o novo negócio tem um potencial de faturamento anual de R$ 170 milhões a R$ 200 milhões. Em um prazo de cinco anos, esse valor poderia alcançar R$ 280 milhões.

Participação
Pelos dados apresentados ao Cade, o desinvestimento de 10% reduzirá a participação da Nestlé/Garoto para 38,1%. De acordo com os dados da AC Nielsen de 2001, ano anterior à aquisição da Garoto pela Nestlé, a Kraft (Lacta) detinha 33,8%.
No pedido de reapreciação, a multinacional também argumenta que o conselho não levou em consideração os dados públicos da AC Nielsen para avaliar o mercado relevante de chocolates na análise da fusão. "O Cade se orientou por dados dos fabricantes, que apontavam uma concentração de 58,4%. Mas nem todos os fabricantes foram ouvidos. Os dados também não consideram as exportações", disse Faccina.


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