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CONCORRÊNCIA
Multinacional propõe reduzir participação no mercado e vender linhas de produção; Cade ainda avaliará o pedido
Nestlé desiste de marcas para manter Garoto
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Nestlé apresentou ontem ao
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) um plano
para vender 10% da participação
que a multinacional suíça e a empresa brasileira Garoto têm no
mercado de chocolates. A proposta inclui também um desinvestimento de 20% no mercado de coberturas de chocolate.
O plano faz parte do pedido de
reapreciação que a Nestlé encaminhou ao Cade na tentativa de inverter a decisão do tribunal da
concorrência que, no início de fevereiro, vetou a compra da Garoto pela multinacional. O Cade irá
analisar o pedido.
"O nosso plano é um conjunto
de medidas consistentes. Procuramos atender todos os elementos levantados pelo Cade no julgamento da operação. No momento, esperamos encontrar uma saída dentro dessa solução", disse o
diretor corporativo da Nestlé,
Carlos Alberto Faccina, que não
descartou a possibilidade de a
empresa recorrer à Justiça, caso o
Cade não altere a decisão de veto.
Pela proposta apresentada ontem, a Nestlé venderia um conjunto de marcas próprias e da Garoto, desfazendo-se de 10% do
mercado de chocolates em barras,
tabletes, bombons, caixas mistas e
ovos de Páscoa. As marcas estão
sendo mantidas sob sigilo por
motivos estratégicos. "São marcas
nacionais com mais de 20, até 40
anos, de tradição", limitou-se a
dizer o gerente do segmento de
chocolates da Nestlé, Leo Leiman.
Na operação, também entraria a
venda das linhas de produção
dessas marcas -com capacidade
para produção de 26 mil toneladas por ano-, além das fórmulas
e da garantia de acesso a "recursos
humanos especializados". A Nestlé também se propõe a realizar
uma transição: fabricaria os produtos por encomenda até que o
comprador entrasse em operação
efetivamente.
No caso das coberturas de chocolate sólidas e líquidas, a proposta é vender uma das duas marcas
(Garoto ou Nestlé), voltando à situação existente antes da fusão
entre as duas empresas. O pacote
também inclui a linha de fabricação, o know-how, a carteira de
clientes e uma fase de transição.
Segundo o consultor da Nestlé
Luciano Coutinho, a multinacional já recebeu várias manifestações de interesse na compra das
marcas. Nos estudos de viabilidade econômico-financeira apresentados por ele, o novo negócio
tem um potencial de faturamento
anual de R$ 170 milhões a R$ 200
milhões. Em um prazo de cinco
anos, esse valor poderia alcançar
R$ 280 milhões.
Participação
Pelos dados apresentados ao
Cade, o desinvestimento de 10%
reduzirá a participação da Nestlé/Garoto para 38,1%. De acordo
com os dados da AC Nielsen de
2001, ano anterior à aquisição da
Garoto pela Nestlé, a Kraft (Lacta)
detinha 33,8%.
No pedido de reapreciação, a
multinacional também argumenta que o conselho não levou em
consideração os dados públicos
da AC Nielsen para avaliar o mercado relevante de chocolates na
análise da fusão. "O Cade se
orientou por dados dos fabricantes, que apontavam uma concentração de 58,4%. Mas nem todos
os fabricantes foram ouvidos. Os
dados também não consideram
as exportações", disse Faccina.
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