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NEGOCIAÇÃO
Encontro será em Londres, no próximo dia 30
EUA convidam Brasil e mais quatro para discutir o impasse da OMC
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Robert Zoellick, responsável
pelo comércio exterior dos EUA,
convidou o chanceler brasileiro,
Celso Amorim, para um jantar no
dia 30, em Londres, para discutir
com pelo menos mais quatro interlocutores o impasse que amarra as negociações da chamada Rodada Doha da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
O jantar deveria ser reservado e
mantido em segredo, mas já vazou para um jornal da Índia, um
dos seis países que terá representante no encontro. Os outros,
além de EUA e Brasil, são União
Européia, África do Sul e Japão,
mas a lista pode ser maior.
O encontro de Londres ocorrerá
uma semana após novas e intensas negociações sobre agricultura
na sede da OMC em Genebra.
No mês passado, o comitê de
negociações agrícolas já havia se
reunido por cinco dias, nos quais,
se não surgiram soluções para o
impasse agrícola, pelo menos as
partes passaram a ouvir umas às
outras, em vez de ficar repetindo
suas posições originais.
O único consenso entre os envolvidos na negociação é o de que,
se não houver avanços até julho, a
Rodada Doha terá fracassado, ao
menos em termos de obediência
ao seu cronograma original, que
previa o encerramento da negociação em 2005.
Acontece que, no segundo semestre, pega fogo a campanha
eleitoral nos EUA, momento pouco favorável à liberalização comercial. Além disso, a atual Comissão Européia, responsável pela negociação pelo conglomerado
de países europeus, termina seu
mandato em outubro.
Os comissários não estarão em
condições de assumir compromissos na véspera de serem substituídos.
O jantar em Londres será seguido por outra reunião miniministerial em Paris, no dia 14 de maio.
Ministros dos principais países
da OMC aproveitarão a conferência da OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico) para se encontrarem
outra vez. A OCDE é o clube dos
29 países supostamente mais industrializados do mundo. O Brasil é apenas observador, mas estará presente à conferência.
Saída de Zoellick
Esses dois encontros podem ser
as últimas atividades de Zoellick
como chefe do USTr (United States Trade Representative, uma espécie de Ministério do Comércio
Exterior) e, como tal, negociador-chefe norte-americano.
Nos meios diplomáticos internacionais, a substituição de Zoellick é dada como certa depois das
eleições de novembro nos EUA,
mesmo que ganhe seu atual chefe,
o presidente George W. Bush.
Até o nome do mais provável
substituto já circula nas rodas diplomáticas: é o de Grant Aldonas,
hoje subsecretário de Comércio.
É claro que, se Bush perder para
o democrata John Kerry, não apenas Zoellick mas toda a equipe
ministerial será outra em 2005.
Zoellick tem um histórico de relações tempestuosas com autoridades brasileiras, a começar do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando Lula era apenas candidato, e Zoellick, funcionário do
Departamento de Estado, deixou
o político brasileiro plantado por
horas durante visita aos EUA.
Na campanha de 2002, Lula vingou-se: chamou Zoellick de "sub
do sub do sub", como resposta ao
comentário do funcionário norte-americano de que ou o Brasil aderia à Alca ou teria de vender seus
produtos na Antártida.
Já como presidente, Lula queixou-se diretamente com Bush das
críticas que Zoellick fez, em artigo
no jornal britânico "Financial Times", sobre a atuação da diplomacia brasileira na Conferência
Ministerial da OMC em Cancún,
que terminou em redondo fracasso. Bush retrucou que Zoellick era
mesmo muito inflexível.
Os encontros de Londres e Paris
serão, talvez, a última oportunidade para um exercício de flexibilidade, única maneira de tirar do
pântano a Rodada Doha.
(CR)
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