São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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FÓRUM NACIONAL

Coordenador do evento de debate econômico, que começa amanhã, diz que inflação maior pode permitir queda do juro

Reis Velloso defende "sólida situação fiscal"

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, coordenador do Fórum Nacional, que terá a partir de amanhã, no Rio, sua 16ª edição, avalia que o governo pode "usar a flexibilidade da meta de inflação" para assegurar a "trajetória sustentável da queda dos juros", desde que o país tenha "uma sólida situação fiscal".
Isso significa que, para Reis Velloso, o país poderá, nos próximos anos, deixar que a alta dos preços seja um pouco maior, no limite dos 2,5 pontos percentuais de tolerância previstos nas metas de inflação já estabelecidas, desde que as metas de superávit fiscal sejam rigorosamente cumpridas. O objetivo é assegurar a queda continuada dos juros e, conseqüentemente, o crescimento.
Reis Velloso -que participou dos governos Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, de 1969 a 1979- disse que, a partir dos anos 80, o Brasil "perdeu o know-how do crescimento sustentado" que havia acumulado ao longo dos 50 anos anteriores.
Ele diz que a retomada do crescimento deve ser gradual, podendo até não chegar aos 3,5% previstos para 2004, desde que tenha continuidade e interrompa o ciclo do que chama de "vôo de galinha" (sobe um pouco e aterrissa).
O Fórum Nacional será aberto amanhã, às 10h, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e terá como tema básico "Economia do Conhecimento, Crescimento Sustentado e Inclusão Social".
"A inclusão social deve vir dentro do crescimento, não são coisas separadas", diz Reis Velloso, resumindo a preocupação principal do encontro deste ano, que vai até sexta-feira, na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O crescimento, segundo Reis Velloso, pode até começar abaixo de 3,5% ao ano, mas precisa alcançar em seguida de 4% a 4,5%.

Recessão de crescimento
O Brasil cresceu em ritmo bem maior de 1931 a 1980. As médias foram de 5,1% ao ano de 1931 a 1950; de 6,9% de 1951 a 1963; e de 7,8% ao ano de 1964 a 1980. "Naquele período, não houve recessão. Quando o país crescia pouco, dizia-se que ele estava em recessão de crescimento."
Ele avalia que o mais grave da perda de rumo sofrida pelo Brasil após 1980, em termos de crescimento, foi o fim do processo de geração contínua de emprego. "Temos que partir da consciência de que as últimas décadas não foram perdidas apenas para o crescimento, mas foram perdidas para o emprego, o que é pior."
Reis Velloso disse que o ciclo de grande geração de emprego pela economia brasileira acabou e que não retornará mesmo com a retomada do crescimento sustentado. Daí porque, na sua avaliação, não basta a economia crescer, é preciso que o crescimento se dê com atenção especial a setores que absorvam mais mão-de-obra. Ele defende a adoção de políticas para a geração de empregos, como o estímulo às pequenas empresas.
O ex-ministro disse também que o crescimento sustentado só virá se o país conseguir manter um superávit estrutural da sua balança de pagamentos, algo que não é tradição da economia brasileira, e se houver uma forte retomada dos investimentos privados, já que o setor público está limitado para investir.
Esses assuntos, bem como o problema educacional, serão temas de painéis específicos no Fórum. Em setembro, deverá haver uma versão reduzida do evento para discutir a questão social e aprofundar o debate sobre a retomada do crescimento sustentado.


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