São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

CARAVANA

Atraídos pela chance de contato comercial, 480 empresários se inscrevem para acompanhar o presidente no Oriente

Viagem de Lula à China terá comitiva recorde

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia sua primeira viagem oficial à China no próximo domingo acompanhado pela maior caravana de empresários já presente no exterior. Grandes negócios, porém, estão fora da pauta do dia: à exceção de um acordo a ser anunciado por Lula na área de petróleo, a comitiva só fará contatos iniciais com os chineses.
Na prática, a turma que deve tentar expandir as marcas de empresas brasileiras no exterior chega a Pequim em meados de junho. "Quem tem pretensão comercial na China tem de ir com Lula a Pequim. É importante estar com quem está abrindo o caminho comercial", afirma José Eduardo de Lima Pereira, diretor de assuntos corporativos da Fiat do Brasil.
A Fiat será representada na comitiva por Roberto Vedovato, presidente da empresa no Brasil. Em 2003, a Fiat já exportou US$ 44 milhões para a China entre produtos fundidos e carros. A meta da montadora é vender mais carros para os chineses.
"Nós vamos para lá com o Furlan [Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento], em junho. Então vamos tentar fechar alguma coisa. Agora, deve ir o presidente da associação, que viaja para nos representar", afirma Edmundo Aires, diretor da Abia, entidade da indústria alimentícia.
Segundo o empresário Mário Garneiro, a comitiva vai "abrir caminho" para o grupo que chega à China daqui a cerca de um mês. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) não mandará representante nessa primeira turma de empresários. Só viaja à China em junho.
Até sexta-feira, 480 empresários haviam se inscrito no Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty para participar da comitiva presidencial. O número deve diminuir quando a rodada de reconfirmações for concluída, nesta semana. Mas, ainda que caia à metade, o grupo continuará sendo recorde. Normalmente, as missões empresariais que acompanham viagens presidenciais não passam de 80 integrantes.
O único acordo da viagem deverá ser entre a Petrobras e a Sinopec -um conglomerado chinês de petróleo. O objetivo é explorar petróleo na China.

Mercado consumidor
"Os brasileiros querem ter um pé nesse mercado de 1,3 bilhão de pessoas", diz o conselheiro Pedro Paulo Taunay, do Departamento de Promoção Comercial, que está em Pequim preparando a programação dos empresários.
Com crescimento médio de 9,3% nos últimos 26 anos e um imenso mercado consumidor, a China parece materializar a promessa de lucros garantidos, mas a aventura local nem sempre é fácil para estrangeiros. Há relatos de empresas que amargam prejuízos há anos ou que foram surpreendidas pela apropriação de sua tecnologia por seu parceiro chinês.
Por ora, a importância da China para o Brasil se reflete nas exportações. As vendas tiveram alta de 80% em 2003, o que levou o país ao terceiro lugar entre os principais parceiros comerciais brasileiros, atrás de EUA e Argentina.
O salto ocorreu principalmente pela alta nas exportações de minério de ferro e soja -produtos básicos, sem valor agregado.
O desafio é identificar novas áreas de negócios e aumentar o peso de bens manufaturados na pauta de exportações, diz Eduardo Chakarian, brasileiro que trabalha em Pequim na empresa de consultoria Monitor Group.
"As empresas precisam encontrar formas de agregar valor às exportações, para terem maior retorno financeiro e ficarem menos dependentes dos compradores chineses", observa Chakarian.
Já que exportar bens de consumo manufaturados para a China é inviável em razão da competitividade do país no setor, o Brasil tem de encontrar setores nos quais pode atuar com vantagem.
O mais óbvio deles é a agroindústria. O Banco do Brasil identificou o setor de alimentos e de insumos para a indústria alimentícia em geral como um dos mais promissores para exportadores brasileiros na China. Nessa categoria entram bens processados, como sucos e polpas de frutas.
Na opinião de Chakarian, o Brasil também pode exportar para a China conhecimento na área de biotecnologia, que vai desde o desenvolvimento de sementes à indústria farmacêutica, passando pela reprodução animal.
Com 22% da população global e apenas 6% das terras aráveis do mundo, a China tem todo o interesse em comprar tecnologia na área agrícola. Tanto é que classifica investimentos nesse setor de "estimulados", ao lado dos permitidos, restritos e proibidos.
Outras áreas identificadas pelo Banco do Brasil são calçados e couro, autopeças, material de construção, móveis e artigos de decoração e carnes.
Chakarian acredita que o setor energético também é promissor. A China está no limite de utilização de sua oferta de energia e começa a haver racionamento em algumas regiões. Para o consultor, o Brasil pode exportar tecnologia nas áreas de geração, distribuição e, principalmente, transmissão de energia em longas distâncias.


Texto Anterior: Salto no escuro: Indústria prepara estudo sobre energia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.