São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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Câmbio reduz exportadoras, diz empresariado

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda do dólar abaixo de R$ 2 deixou atrás de si um rastro de queixas feitas pelo setor produtivo. Os empresários reclamam que a política monetária do governo freia o consumo no mercado interno e, ao mesmo tempo, gera uma taxa de câmbio valorizada, o que dificulta as exportações.
A conseqüência, avaliam eles, é que as importações crescem e a oferta de emprego cai.
"Não é à toa que estamos assistindo à redução do número de empresas que exportam, o que tende a se agravar ainda mais e, em contrapartida, haverá o aumento daquelas que importam", afirmou o diretor do Departamento de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Ricardo Martins.
"A indústria precisará intensificar a sua "reinvenção" para que amanhã o Brasil não abandone a sua vocação de nação industrial e se torne apenas um mero entreposto alfandegário."
Para Martins, o dólar baixo é perigoso porque concentra as exportações em poucas empresas, de grande porte, restritas à produção de mercadorias cuja demanda está mundialmente aquecida, como produtos agrícolas e minérios.
"A indústria de transformação é uma das maiores prejudicadas, e, sempre que essa indústria é garroteada, você não está indo na direção do crescimento", concordou Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Francini diz acreditar que a expansão da indústria em 2007 ficará abaixo da taxa de aumento do PIB pelo terceiro ano consecutivo. "O que estão fazendo é ensinando o cavalo a viver sem comida, e um dia o cavalo vai morrer."

Efeitos perversos
Quando os efeitos perversos para a economia se tornarão claros? Para o economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Edgar Pereira, no próximo semestre. "O dólar abaixo de R$ 2 tem impactos de curto e de longo prazo. No curto prazo, haverá prejuízos para os setores que sofrem mais concorrência dos importados [como vestuário e calçados]."
"O governo não pode deixar o câmbio ao Deus dará", ecoou o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato.
O representante da indústria eletroeletrônica disse esperar medidas do governo para diminuir os impostos incidentes sobre a folha de pagamento de empresas que fazem uso intensivo de mão-de-obra, com o objetivo de compensar as perdas trazidas pela valorização excessiva do real.
As queixas dos empresários não surtiram efeito no governo. A equipe econômica defende que o dólar está caindo em todo o mundo e que o país teria de pagar um custo alto pela manutenção artificial da moeda americana em um patamar alto.
"Esse consenso é uma tolice monumental", afirmou o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira. "É preciso cortar os juros e manter o câmbio flutuante, mas administrado, o que envolve a imposição de controles na entrada de capital, e não na saída. O governo deve ainda negociar com os produtores agrícolas e de minério. Caso contrário, a indústria nacional será inviabilizada."


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