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Câmbio reduz exportadoras, diz empresariado
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda do dólar abaixo de
R$ 2 deixou atrás de si um rastro de queixas feitas pelo setor
produtivo. Os empresários reclamam que a política monetária do governo freia o consumo
no mercado interno e, ao mesmo tempo, gera uma taxa de
câmbio valorizada, o que dificulta as exportações.
A conseqüência, avaliam
eles, é que as importações crescem e a oferta de emprego cai.
"Não é à toa que estamos assistindo à redução do número
de empresas que exportam, o
que tende a se agravar ainda
mais e, em contrapartida, haverá o aumento daquelas que importam", afirmou o diretor do
Departamento de Comércio
Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
(Ciesp), Ricardo Martins.
"A indústria precisará intensificar a sua "reinvenção" para
que amanhã o Brasil não abandone a sua vocação de nação industrial e se torne apenas um
mero entreposto alfandegário."
Para Martins, o dólar baixo é
perigoso porque concentra as
exportações em poucas empresas, de grande porte, restritas à
produção de mercadorias cuja
demanda está mundialmente
aquecida, como produtos agrícolas e minérios.
"A indústria de transformação é uma das maiores prejudicadas, e, sempre que essa indústria é garroteada, você não
está indo na direção do crescimento", concordou Paulo
Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
Francini diz acreditar que a
expansão da indústria em 2007
ficará abaixo da taxa de aumento do PIB pelo terceiro ano consecutivo. "O que estão fazendo
é ensinando o cavalo a viver
sem comida, e um dia o cavalo
vai morrer."
Efeitos perversos
Quando os efeitos perversos
para a economia se tornarão
claros? Para o economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial), Edgar Pereira, no
próximo semestre. "O dólar
abaixo de R$ 2 tem impactos de
curto e de longo prazo. No curto prazo, haverá prejuízos para
os setores que sofrem mais
concorrência dos importados
[como vestuário e calçados]."
"O governo não pode deixar o
câmbio ao Deus dará", ecoou o
presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto
Barbato.
O representante da indústria
eletroeletrônica disse esperar
medidas do governo para diminuir os impostos incidentes sobre a folha de pagamento de
empresas que fazem uso intensivo de mão-de-obra, com o objetivo de compensar as perdas
trazidas pela valorização excessiva do real.
As queixas dos empresários
não surtiram efeito no governo.
A equipe econômica defende
que o dólar está caindo em todo
o mundo e que o país teria de
pagar um custo alto pela manutenção artificial da moeda americana em um patamar alto.
"Esse consenso é uma tolice
monumental", afirmou o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira. "É preciso
cortar os juros e manter o câmbio flutuante, mas administrado, o que envolve a imposição
de controles na entrada de capital, e não na saída. O governo
deve ainda negociar com os
produtores agrícolas e de minério. Caso contrário, a indústria
nacional será inviabilizada."
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