São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Bolsa Miami, real forte

Dólar custa tanto quanto quinquilharias de lojas de R$ 1,99, mas governo não deve reagir com grande novidade

O DÓLAR CUSTA menos de R$ 2. Chegou o dia da "barreira psicológica", do "teste da taxa de câmbio defendida pelo Banco Central" e outras cascatas. E daí? Daí que, por ora, se o leitor fez seu orçamento de viagem para Miami anteontem e pretendia gastar, digamos, R$ 2.000, teria hoje dinheiro para comprar mais um hambúrguer.
Quanto ao governo, a dúvida maior diz respeito à atitude do BC e às compensações tributárias para empresas avariadas pelo real forte, que em geral encarece a exportação brasileira e barateia os importados.
Nos últimos dias, o BC como que deixou o real se valorizar. Voltará a intervir com força no mercado, comprando o jorro de dólares, xepa cambial que já custou US$ 43 bilhões? O Ministério da Fazenda cozinha um corte de imposto para empresas que empregam mais mão-de-obra, em geral as mais combalidas pelo real forte. Talvez compensem a perda de receita taxando o faturamento de empresas que empregam mais tecnologia e menos gente, o que tende a ser, em breve, um tiro no pé das firmas propensas à inovação.
O mercado faz lobby por mais abertura comercial. Isto é, por menos imposto de importação, o que tornaria os importados mais baratos, diminuiria o saldo comercial e, assim, parte da torrente de dólares. Como a inflação está baixa, na meta e as expectativas são de aumentos de preços cada vez menores, uma tentativa razoável de controlar a excessiva valorização do real seria cortar juros mais rapidamente, bidu.
Mas essas medidas não têm efeito muito previsível sobre o câmbio. Os juros podem cair e o real continuar forte. Câmbio depende de saldo comercial, juros, percepção de risco de investir no país, da rentabilidade das aplicações financeiras alternativas etc. Mas, mesmo se der em nada cambial, juro mais baixo ao menos reduz o gasto público e barateia um tico o investimento produtivo.
Mas o ritmo de desvalorização do dólar diminui (vide gráfico), assim como o das moedas de países com os quais o Brasil comercia. A rentabilidade do exportador deteriora-se um pouco menos que o câmbio.
Há estragos. Como ainda há capacidade ociosa na indústria nacional, os importados que substituem a produção local cortam empregos e o PIB. O ritmo de crescimento da importação de bens intermediários (insumos para a indústria, 60% do valor das compras externas do país) é ainda sete vezes mais rápido que o da alta da produção local. E fica mais caro investir em indústrias novas e exportadoras, o que pode vir a ser empecilho para a diversificação produtiva e para a inovação no país.
É cedo para saber de danos ou benefícios do real forte. O problema é, quando o soubermos, pode ser tarde. Mas políticas não estão à vista políticas que possam conter os danos que euforias e depressões mundiais costumam causar na pequena economia brasileira.


vinit@uol.com.br

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