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VINICIUS TORRES FREIRE
Bolsa Miami, real forte
Dólar custa tanto quanto quinquilharias de lojas de R$ 1,99, mas governo não deve reagir com grande novidade
O DÓLAR CUSTA menos de R$ 2.
Chegou o dia da "barreira
psicológica", do "teste da taxa de câmbio defendida pelo Banco
Central" e outras cascatas. E daí?
Daí que, por ora, se o leitor fez seu
orçamento de viagem para Miami
anteontem e pretendia gastar, digamos, R$ 2.000, teria hoje dinheiro
para comprar mais um hambúrguer.
Quanto ao governo, a dúvida
maior diz respeito à atitude do BC e
às compensações tributárias para
empresas avariadas pelo real forte,
que em geral encarece a exportação
brasileira e barateia os importados.
Nos últimos dias, o BC como que
deixou o real se valorizar. Voltará a
intervir com força no mercado,
comprando o jorro de dólares, xepa
cambial que já custou US$ 43 bilhões? O Ministério da Fazenda cozinha um corte de imposto para empresas que empregam mais mão-de-obra, em geral as mais combalidas
pelo real forte. Talvez compensem a
perda de receita taxando o faturamento de empresas que empregam
mais tecnologia e menos gente, o
que tende a ser, em breve, um tiro no
pé das firmas propensas à inovação.
O mercado faz lobby por mais
abertura comercial. Isto é, por menos imposto de importação, o que
tornaria os importados mais baratos, diminuiria o saldo comercial e,
assim, parte da torrente de dólares.
Como a inflação está baixa, na meta e as expectativas são de aumentos
de preços cada vez menores, uma
tentativa razoável de controlar a excessiva valorização do real seria cortar juros mais rapidamente, bidu.
Mas essas medidas não têm efeito
muito previsível sobre o câmbio. Os
juros podem cair e o real continuar
forte. Câmbio depende de saldo comercial, juros, percepção de risco de
investir no país, da rentabilidade das
aplicações financeiras alternativas
etc. Mas, mesmo se der em nada
cambial, juro mais baixo ao menos
reduz o gasto público e barateia um
tico o investimento produtivo.
Mas o ritmo de desvalorização do
dólar diminui (vide gráfico), assim
como o das moedas de países com os
quais o Brasil comercia. A rentabilidade do exportador deteriora-se um
pouco menos que o câmbio.
Há estragos. Como ainda há capacidade ociosa na indústria nacional,
os importados que substituem a
produção local cortam empregos e o
PIB. O ritmo de crescimento da importação de bens intermediários
(insumos para a indústria, 60% do
valor das compras externas do país)
é ainda sete vezes mais rápido que o
da alta da produção local. E fica mais
caro investir em indústrias novas e
exportadoras, o que pode vir a ser
empecilho para a diversificação produtiva e para a inovação no país.
É cedo para saber de danos ou benefícios do real forte. O problema é,
quando o soubermos, pode ser tarde. Mas políticas não estão à vista
políticas que possam conter os danos que euforias e depressões mundiais costumam causar na pequena
economia brasileira.
vinit@uol.com.br
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