São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Superávit extra e quimeras


Economistas de Lula querem mesmo mais superávit, mas sem fazer alarde e duvidando de que sobrará dinheiro

A CÚPULA econômica de Lula diz nas "internas" que pretende mesmo elevar o superávit primário, aquela parte dos impostos que deixa de gastar, desconsiderada a despesa com os juros da dívida pública. Ou melhor, pelo menos parte dessa cúpula diz que o objetivo é fazer um superávit maior que os 3,8% do PIB até agora previstos -é melhor dizer "parte da cúpula", pois é difícil avaliar quem no final das contas vai receber o aval de Lula. Parte dessa cúpula, pois, acredita que 5% do PIB é totalmente inviável, bidu, e que 4,5% seria muito otimismo.
Ainda assim, por que então os economistas do governo não anunciam o objetivo de poupança maior? Um anúncio mais ou menos formal de um superávit extra daria algum lustro nas expectativas e na política econômica, muitíssimo descoordenada.
A resposta à questão é meio enrolada, ao menos a resposta das pessoas no governo que se dispuseram a falar no assunto.
Primeiro, fica a impressão de que ainda não foi decidido o que fazer com a eventual poupança extra. Há pressão, como é mais do que sabido, para que o dinheiro vá para o tal fundo soberano, na verdade um meio de aumentar os fundos do BNDES, em campanha faz meses a fim de arrumar mais recursos para emprestar.
Segundo, subentende-se que o anúncio de uma nova meta de superávit suscitaria imediatamente novas disputas políticas no governo.
Terceiro, gente no governo começa a duvidar de que haverá dinheiro para o superávit extra. Não que já seja certo que todo o excesso de arrecadação vá terminar em gastos, na avaliação de um economista do governo. Mas esse economista gostaria de ver se o extraordinário aumento de arrecadação no primeiro trimestre vai se repetir. Como há aumentos de despesas e isenções fiscais engatilhados, uma queda no ritmo de aumento da receita deixaria ainda menos espaço para superávit extra.
Nos 12 meses contados até março, o superávit primário do setor público foi de 4,46% do PIB. Nos 12 meses até dezembro de 2007 (ou seja, no ano passado), o superávit havia ficado em 3,97%. A parte do governo central foi de 2,77% do PIB nos 12 meses até março e de 2,32% em 2007. Estados e municípios ficaram quase na mesma -o superávit passou de 1,17% do PIB para 1,15%.
Isto é, o governo central fez quase tudo, 0,45% do PIB, desse aumento de 0,49% no superávit. O resto veio das estatais -aí o governo não quer mexer. De Estados e municípios não virá auxílio. É difícil, pois, acreditar que um novo superávit pudesse ficar além do resultado extraordinário do primeiro trimestre.
Enfim, está difícil de ver como as mui modestas e ainda secretas boas intenções de poupar dinheiro vão se realizar. Se por acaso remoto isso acontecer, é quase certo que o dinheiro poupado não será destinado a abater a dívida pública. Mas a redução da dívida de 41% para 30% do PIB deveria ser meta de economista de qualquer linhagem política. O debate razoável seria o que fazer do "excedente", da redução da despesa com juros. Quanto à possibilidade de o superávit maior segurar a inflação no curto prazo, isso é quimera. E, segundo os melhores calculistas do mercado, parece que vamos ter mesmo inflação entre 5% e 5,5% em 2008. Com Selic nuns 14% no final do ano.

vinit@uol.com.br


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