São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Varejo tem melhor trimestre desde 2001

Comércio cresce 12% de janeiro a março na comparação com mesmo período de 2007, puxado pela expansão do crédito

Importados atendem à demanda maior; analista prevê desaceleração no segundo semestre por causa da alta nas taxas de juros


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

CIRILO JUNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

As vendas do comércio varejista, em volume, subiram 12% nos primeiros três meses de 2008 na comparação com 2007, segundo o IBGE, o melhor desempenho trimestral de toda a série da pesquisa, iniciada em 2001. Apesar da alta da inflação dos alimentos, o comércio reagiu em março, e as vendas cresceram 1,8% na comparação livre de influências sazonais com fevereiro -naquele mês, houve retração de 0,7%. Em relação a março de 2007, a expansão foi de 11,4%.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), o varejo "ainda é embalado fortemente pelo crédito", cujos prazos continuam dilatados, apesar da alta dos juros futuros (que servem de referência aos financiamentos) e da taxa Selic.
Nem mesmo a perspectiva de um arrocho da política monetária mais intenso e prolongado, diz Freitas, fez o crédito refluir. As vendas de móveis e eletrodomésticos lideraram o setor, com altas de 17,3% no trimestre e de 1,6% de fevereiro para março.
Outro fator que influenciou o resultado de março foi a Páscoa, segundo o IBGE. O feriado, geralmente em abril, puxou as vendas em super e hipermercados e lojas de alimentos. O setor se recuperou do tombo de fevereiro (-2,8%) e cresceu 3,3% em março. No trimestre, ficou abaixo da média -alta de 8,5%.
"O resultado de fevereiro foi influenciado pelo Carnaval. Gasta-se um pouco mais no Carnaval, e isso pode ter comprometido a receita das famílias no restante do mês. O comércio voltou ao seu ritmo normal em março", disse Nilo Lopes de Macedo, do IBGE.
Para Freitas, a Páscoa compensou a disparada dos preços dos alimentos, que ainda não se traduziu em desaquecimento das vendas. O economista espera, porém, uma desaceleração do comércio no segundo semestre, na esteira de novos aumentos da taxa de juro.
"O crédito ainda impulsiona o comércio. As prestações ainda estão longas e cabem no bolso do consumidor. Mas vamos ver uma desaceleração no segundo semestre, mas nada muito intenso. O varejo deve fechar o ano com alta de 7%."
Macedo diz que o desempenho no primeiro trimestre foi "surpreendente", pois se esperava um avanço da inadimplência capaz de comprometer as vendas. Mas o prognóstico, diz, não se confirmou.
O técnico do IBGE evitou fazer projeções, mas destacou que as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderão ter efeito positivo no comércio, ao ampliarem a geração de empregos e a renda.
Foram justamente esses fatores que alavancaram o comércio no primeiro trimestre, segundo o diretor-executivo do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), Emerson Kapaz. Aliada ao crédito e à confiança crescente do consumidor, diz, a expansão da massa salarial determinou o bom desempenho do comércio no primeiro trimestre, período "sazonalmente mais fraco".
Para Kapaz, o descompasso entre o desempenho da indústria -que já apontou desaceleração no primeiro trimestre- e do comércio indica que parte da vendas está sendo suprida por importações. "O câmbio faz o ajuste de preço. Se a indústria nacional não for competitiva, o comércio vende importados."
No primeiro trimestre, a produção industrial cresceu 6,3%, contra os 7,9% registrados no último trimestre de 2007.
Kapaz vê uma expansão de 10% das vendas do varejo no ano -em 2007, foi de 9,7%.


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