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CONJUNTURA
Brasil se diferencia de outras economias que tiveram crise cambial
Inflação contida é a maior
surpresa do país pós-máxi
da Reportagem Local
Durante quatro anos, o governo
bateu na tecla de que o Brasil não
era a Tailândia nem outros países
que sofreram ataques especulativos às suas moedas. Quatro meses
depois da desvalorização do real,
está ficando claro que, apesar de
também ter uma moeda sobrevalorizada, o Brasil se diferencia desses países na reação à crise.
"Até aqui, a crise tem sido muito
menos severa no Brasil do que foi
no México, na Rússia ou nos países
asiáticos", diz Karolina Albuquerque, economista da consultoria
Tendências. "Uma das diferenças
básicas é que esses países tiveram
muito mais dificuldades para controlar a inflação."
Nos três primeiros meses depois
da desvalorização do peso, a inflação mexicana chegou a 14,5% e, ao
fim de um ano, bateu em 51,96%. A
inflação russa saltou de 8% ao ano
para 67%. Na Coréia do Sul, ela
deu um salto de 6,75% nos três primeiros meses após a queda do
won, mas foi contida à custa de
uma retração de 5,5% no PIB.
A alta dos preços foi um dos
maiores problemas de todos os
países que desvalorizaram suas
moedas. Apesar da chamada "memória inflacionária", o Brasil foi o
país que menos sofreu com os reajustes. Uma das explicações para o
surpreendente desempenho brasileiro é que a economia tem uma
menor participação de produtos
importados do que países como a
Coréia do Sul ou a Tailândia.
Além disso, diz o ex-secretário de
política econômica José Roberto
Mendonça de Barros, houve uma
mudança no sistema de organização da economia brasileira.
"As grandes redes de supermercados estão ocupando cada vez
mais espaço na economia. Por isso,
elas tiveram maior poder de barganha com a indústria e impediram o
repasse dos preços", diz Barros.
Outra diferença importante entre o Brasil e os outros países que
enfrentaram crises cambiais é a velocidade da recuperação da economia. Para o México e os países asiáticos, a crise foi uma surpresa. Esses países estavam crescendo em
ritmo acelerado, as empresas tinham grandes dívidas em dólar e
os preços estavam sob controle.
No Brasil, se falava numa possibilidade de crise cambial há bastante tempo. A economia já estava
em recessão desde o ano passado,
o que ajudou a controlar a alta dos
preços. "Os países da Ásia não tinham cultura inflacionária e estavam crescendo. Foi preciso uma
forte recessão para conter a inflação", diz Karolina.
"O controle da inflação permite
ao Brasil reduzir rapidamente os
juros, o que abre nova perspectiva
de crescimento", diz Odair Abate,
economista-chefe do banco
Lloyds, que está refazendo suas
projeções para o PIB em 1999.
"Prevíamos uma queda de 2,0%,
mas o resultado será melhor."
Tudo indica que o Brasil não vai
enfrentar uma recessão como a do
México, que sofreu retração de
6,98% em 1995, mas os economistas também não estão eufóricos.
Ainda existem muitos riscos para a
economia brasileira.
As exportações não reagiram como se imaginava e, se o país voltar
a crescer, pode haver um agravamento das contas externas. Com
economia mais aquecida, o país
importará mais, e as empresas se
dedicarão mais ao mercado interno do que às exportações. Com isso, o Brasil dependerá mais de investimentos de curto prazo para
fechar suas contas externas.
Outra preocupação é o cenário
externo. Qualquer retração na economia norte-americana poderia
afetar o Brasil. Como os juros estão
baixos nos EUA, os investidores
voltaram a aplicar em mercados
emergentes, ajudando a equilibrar
a taxa de câmbio. Se houver alta
nos juros nos EUA, pode haver fuga de capitais do Brasil.
"A economia real brasileira se
mostrou mais forte do que a simbólica, vista da ótica da área financeira. Mas é preciso lembrar que
essa é apenas uma janela de oportunidade que o Brasil não pode
desperdiçar", diz o ex-ministro
Marcílio Marques Moreira.
(RICARDO GRINBAUM)
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